Resenha: O Grande Gastby, de F. Scott Fitzgerald

by - domingo, fevereiro 16, 2014

Bom, como praticamente todo livro que eu leio, esse tem uma história pessoal de insistência. Antes do seu auge em 2013, quando surgiu o filme e também cinco editoras lançando a obra praticamente ao mesmo tempo, eu nunca havia escutado a seu respeito, pelo menos não de uma forma isolada: apenas quando li "Lendo Lolita em Teerã" (Azar Nafisi) tive o conhecimento dessa obra, pois ela já fora usada por sua autora como grande parte da argumentação pertinente ao próprio livro.

Mas quando tantas atenções surgiram sobre o mesmo livro e ao mesmo tempo, eu resolvi embarcar. Comprei o ebook na versão da Companhia das Letras/Penguin e comecei. Mas foi uma jornada demorada. Não raras vezes eu cheguei no máximo até a página 20 antes de escolher embarcar em alguma outra história e sem contar que a introdução colocada pela Penguin é um horror de enorme e completamente desnecessária.

Por fim, após muito tempo de resistência, e após ver um case para e-reader LINDO de "O Grande Gatsby" do KleverCase, (eu nunca compraria um case desses sem jamais ter lido o livro citado) acabei me entregando. E claro, queimando os neurônios para conseguir escrever uma resenha.

Senhoras e senhores, vamos então ao clássico de F. Scott Fitzgerald:



O Grande Gasby
Autor: F. Scott Fitzgerald
Editora: Penguin / Companhia das Letras - 204 páginas.
Obra-prima de Scott Fitzgerald, O Grande Gatsby é o romance americano definitivo sobre os anos prósperos e loucos que sucederam a Primeira Guerra Mundial. O texto de Fitzgerald é original e grandioso ao narrar a história de amor de Jay Gatsby e Daisy. Ela, uma bela jovem de Lousville e ele, um oficial da marinha no início de carreira. Apesar da grande paixão, Daisy se casa com o insensível, mas extremamente rico, Tom Buchanan. Com o fim da guerra, Gatsby se dedica cegamente a enriquecer para reconquistar Daisy. Já milionário, ele compra uma mansão vizinha à de sua amada em Long Island, promove grandes festas e aguarda, certo de que ela vai aparecer. A história é contada por um espectador que não participa propriamente do que acontece - Nick Carraway. Nick aluga uma casinha modesta ao lado da mansão do Gatsby, observa e expõe os fatos sem compreender bem aquele mundo de extravagância, riqueza e tragédia iminente.

O livro é sobre, fundamentalmente, pessoas ricas e o que o dinheiro pode fazer por elas e, acima de tudo, com elas. Se olhando imediatamente, parece certo discordar a respeito da máxima "dinheiro não traz felicidade", "O Grande Gatsby" simplesmente está aí para convencer o leitor a mudar de ideia.

A história é narrada por Nick Carraway, que é vizinho de Gatsby. Acostumado a ouvir sem julgar, o leitor toma conhecimento dos acontecimentos sob a sua visão, que é praticamente imparcial no que diz respeito a conduta dos personagens portanto ele consegue fornecer um cenário bastante amplo a despeito de muito ainda ser desconhecido para narrador e leitor, como por exemplo a origem da riqueza de Gatsby.

Na prática, temos uma história sobre o tão famoso "sonho americano". Temos também sobre como o dinheiro molda a todos, seja em sua falta ou o seu excesso e independente de seu caráter. Gatsby, de nascimento modesto, foi praticamente moldado por ambos os extremos de acordo com suas necessidades, mas o que ele mais queria independia do tamanho de sua recém-conquistada riqueza. O que faltava para ser feliz independia de seu conquistado poder. A ele, que pensava no dinheiro sendo tudo o necessário para conquistar o amor de Daisy, pode ser que "sua bala na agulha" não lhe dê tudo o que mais sonha.

Gatsby foi interpretado por Leonardo DiCarprio em adaptação mais recente da obra.

Com exceção do narrador, era o personagem com maior fibra ou caráter do livro. A despeito do não conhecimento de como ele conseguiu sua riqueza e de seus negócios aparentemente escusos ou de ele ser o que chamamos de "charlatão". Gatsby é um personagem criado por ele na busca por sua própria reinvenção, mas autêntico na fidelidade ao seu novo "eu" e aos sonhos que acalenta com sofreguidão.

Do outro lado, temos personagens bem nascidos, com acesso a tudo que a riqueza pode proporcionar e também com o comportamento diretamente moldado por tal disponibilidade. Esses personagens apresentam personalidades indiferentes, acostumados a quebrar, manipular e deixar a bagunça para que outros limpem.

Confesso que o livro foi algo difícil de ser assimilado por mim. Não se trata de uma história de amor, mas sim de costumes, comportamento. O retrato de uma época célebre, mas não de forma pura. O retrato do "sonho americano" que é comum a todos, independente do local. É um livro denso apesar de ser narrado em uma linguagem incrivelmente fluida e não consegui digerí-lo da forma como pensei que deveria, mas as coisas se assentaram quando lembrei de um livro anterior.


Explicando melhor a respeito do que disse há alguns parágrafos acima, uma obra anterior "Lendo Lolita em Teerã" contém uma excelente análise sobre "O Grande Gatsby", que teve direito a pelo menos um capítulo inteiro em uma situação bem diversa: uma professora de literatura dando aulas em Teerã usando o livro de Fitzgerald para uma análise, e como a obra despertou a polêmica entre os alunos muçulmanos (alguns deles extremistas), o livro foi colocado em julgamento, com direito a juiz, advogado de defesa e promotor. É nesse cenário que se dá a análise:

Vamos lá em busca do meu livro todo surrado e cheio de post-its e marginálias e buscar as palavras de Azar Nafisi sobre nossa obra do dia:

O romance é sobre relações vívidas e concretas, sobre o amor de um homem por uma mulher e sobre a traição desse amor por essa mulher. Mas é também sobre a riqueza, sobre seu grande poder de atração e destruição, sobre a indiferença que vem com essa riqueza. O romance discute também o sonho americano, o sonho de poder e de riqueza; fala sobre a perda e deterioração dos sonhos tão logo sejam transformados em realidade.

Isso disse tudo que os leitores precisam saber.

Para quem pretende ler "O Grande Gatsby", recomendadíssimo! E quatro corujas de classificação.

Leia também:

1 comentários

  1. Eu só vi o filme, mas tava com medo de ler o livro e ser daqueles bem chatões que só ficam bons no cinema. Queria ler por que me apeguei muito a Daisy. Daisy, no filme, parece aquela pessoa que acha que não merece ser feliz, que errou demais para tentar melhorar ou buscar algo de bom pra si. Ela crê que tudo que ela tem - de negativo - ela merece. E eu fiquei curiosa de ler isso. Ainda mais pq o DiCaprio não fez o Gatsby como um creepy stalker ou algo assim, mas como um cara que queria levar o sonho até o limite do impossível e ela não acreditava nisso.
    Você gostou do livro, então vou ler sim.

    ResponderExcluir

Não se acanhe e deixe seu comentário.
Mas não aceito comentários esdrúxulos, ofensivos, com erros, preconceituosos... Ahh, você me entendeu.