Resenha: Trilogia 1Q84, de Haruki Murakami

by - terça-feira, março 04, 2014

Economizando o que poderia ser um imenso trabalho, acabei optando por um post econômico. Contrariando expectativas recentes, essa foi a primeira vez desde "Jogos Vorazes" que me envolvi em ler uma saga ou uma trilogia sem fazer intervalos entre um livro e outro. Não é muito difícil entender a razão, já que fisguei tanto no primeiro volume que não tive alternativas a não ser buscar os demais o mais rápido possível.

E eis que temos aqui agora uma resenha para uma trilogia. Ou seja, senta que lá vem história.


Trilogia 1Q84
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Páginas: Volume 1 (432 p.), Volume 2 (376 p.), Volume 3 (472 p.)
1Q84 é o livro mais ambicioso de Haruki Murakami, fenômeno da literatura contemporânea. Assumidamente inspirado na obra-prima de George Orwell, o título se situa no ano de 1984. No primeiro volume Murakami apresenta Aomame, uma mulher que esconde a profissão de assassina. Em uma tarde, no início de abril, ela está parada em um táxi, em meio ao trânsito de uma via expressa de Tóquio. Temendo não chegar a tempo de resolver uma pendência no bairro de Shibuya, ela se vê diante de uma opção inusitada proposta pelo motorista: descer do veículo e seguir por uma escada de emergência em plena avenida. Apesar de um estranho aviso do taxista, que diz que as coisas à volta dela se tornarão estranhas, ao fazer algo tão incomum, Aomame segue a sugestão inicial. Após descer a escada e seguir seu caminho, ela repara aos poucos que certos aspectos da realidade se tornaram diferentes: por exemplo, as armas utilizadas pelos policiais não são mais pistolas e as manchetes nos jornais são completamente distintas em relação às que ela havia lido nos últimos dias.

Em paralelo à trama de Aomame, o professor de matemática e aspirante a escritor Tengo se envolve em um misterioso projeto de refazer um romance escrito por uma jovem de 17 anos. Apesar do receio em assumir o papel de escritor fantasma de Crisálida no Ar, um livro fantasioso e enigmático mas cheio de pequenos defeitos, ele se convence a realizar a tarefa. Mas, para isso, deve conhecer antes a autora, uma estranha jovem chamada Fukaeri. À medida que as histórias vão se alternando, Aomame continua a perceber diferenças sutis na realidade. Ela se dá conta que, ao descer a escada de emergência da via expressa, passou de alguma forma a habitar um mundo discretamente distinto - que acaba batizando de 1Q84. Já Tengo, aos poucos, passa a reparar em estranhas semelhanças entre a ficção fantasiosa de Fukaeri e a realidade, além de perceber que parece correr algum tipo de perigo quando se vê envolvido com uma misteriosa seita. De forma alternada, Murakami narra duas histórias que aos poucos convergem.

Como você já deve ter notado pela introdução desta resenha, trata-se de uma trilogia que devorei. Aliás, esse é um fato bem significativo já que não é um hábito meu ler os livros de uma trilogia ou de uma série sem um intervalo, seja de tempo ou de alguns livros, entre uma continuação e outra. Com 1Q84 não precisei de nada disso: o único intervalo ao qual me dei ao direito entre um volume e outro foi de algumas horas.

Algo importante a ser dito é que já conhecia o estilo do autor. Não é o primeiro livro do Murakami ao qual me aventuro. Inicialmente li "Minha Querida Sputnik" (meh) e "Norwegian Wood" (um dos meus preferidos para a vida), então senti que não era algo que pudesse me cansar, já que o estilo dele é bem peculiar, ainda mais nesses livros:

Em 1Q84 você dificilmente esquecerá algum fato sobre os personagens. Murakami não perde a chance de repetir certos detalhes e isso é tão marcante que fica realmente difícil de esquecer algo mesmo após a página 200. Ele repetirá várias vezes sobre o "instrumento de trabalho" peculiar de Aomame, assim como a primeira lembrança de Tengo, intrinsecamente relacionada à sua mãe. Se o autor acha que um certo ponto é relevante, ele o repetirá até que esteja fixo na memória do autor. Fora isso, o estilo em si é bem envolvente, porque é o tipo de narrativa que te absorve sem grande esforço. Isso vale para os três volumes.

Os dois livros iniciais são excelentes, especialmente o segundo que termina com um gancho irresistível para o terceiro (daquele tipo que faz a pessoa ficar muito aborrecido caso não tenha o último volume ainda). Já o terceiro não deixa de ser bom, há reencontros e elucidação de coisas importantes, mas acima de tudo, pode soar frustrante para quem gosta e procura mais explicações sobre tudo. E o ambiente de 1Q84 é instigante. Qualquer coisa que não tenha sido captada gera um sentimento comum de que perdemos algo, mesmo que o problema não seja nosso e sim do autor que simplesmente achou melhor deixar certas coisas no ar. Sim, ele as vezes tem um senso de humor bem semelhante ao do George R.R. Martin para sacanear o leitor.

A trilogia certamente vale a pena. O ponto é: veja bem até que ponto você precisa de explicações para o que acontece ao seu redor. A postura frente ao que é mostrado no livro é bem semelhante ao que nos deparamos na vida. A prioridade, não é explicar. Até que ponto você consegue lidar com isso, é uma outra questão.

Quatro corujas e lugar cativo na minha estante para essa trilogia mara!

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1 comentários

  1. Gostei muito da trilogia:

    http://numadeletra.com/1q84-livro-3-de-haruki-murakami-51750

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