Resenha: Ardil-22, de Joseph Heller

by - sábado, abril 04, 2015

E lá vamos nós para a primeira resenha de 2015! Ok, com um ligeiro atraso de 13 ou 14 livros (e mais uns três ou quatro guilty pleasures que nem conto como leitura), porém antes tarde do que nunca. Mesmo porque, eu demorei eras até pensar em resenhar esse livro. Foi algo bastante difícil de ler, de refletir e escrever.

Então, vamos lá:


Ardil-22Autor: Joseph Heller
Editora: BestBolso | 560 páginasAmbientado na Segunda Guerra Mundial, este clássico antibelicista e satírico consagrou Joseph Heller no meio literário. Ardil-22 foi livremente inspirado nas próprias experiências de Heller, que entrou para a United States Army Air Corps e aos 20 anos foi enviado para a Itália, onde voou em 60 missões de combate como bombardeador em um B-25. Este primeiro romance do autor foi aclamado pela crítica inglesa ao enfatizar, de modo irônico, o absurdo da guerra e as atrocidades cometidas nos campos de batalha. O livro inspirou o filme de guerra homônimo dirigido por Mike Nichols, uma peça de teatro apresentada no John Drew Theater de Nova York, a comédia M.A.S.H. de Robert Altman sobre a Guerra da Coreia e, mais recentemente,o 66º episódio da série televisiva Lost, intitulado Catch-22. Um clássico mais que atual nos dias belicosos de hoje.

Esse livro tem uma história pessoal. É um daqueles que conheci através do canal da Tatiane Feltrin e tive curiosidade em ler: algo que acontece com uma certa frequência. O problema é que, entre o dia da compra e o dia em que pude colocar um ponto final nessa resenha, vários meses se passaram e muita água correu nesse rio. E sim, tive sérios bloqueios tanto para ler e persistir na leitura quanto para escrever alguma coisa a respeito.

O que aconteceu foi o seguinte: durante minhas tentativas eu mal conseguia chegar até a página 20. Os vai-e-vem da narrativa me irritavam o suficiente para colocar o livro de lado e adiar novas incursões. Até que um dia, após meses de enrolação, resolvi tentar mais uma vez e prossegui. E demorei na leitura, me envolvi até o momento em que as páginas terminaram, os post-its sumiram (e misteriosamente apareceram colados no livro) e perceber o quanto seria difícil resenhá-lo. E o quanto muito do que se pode falar a respeito dele pode soar como spoiler, o que complica bastante uma missão que já soa quase impossível.

Bom: na prática temos um livro com uma narrativa não-linear, cujas voltas e reviravoltas - especialmente nos trechos de ironia - podem deixar leitores confusos e irritados, mas o avançar das páginas vai deixando o humor de lado até sobrar muito pelo qual é necessário refletir. É uma obra que requer paciência e pode acabar subestimada caso haja pressa em formar uma opinião a seu respeito, principalmente em seus primeiros capítulos.

A ironia, que é a qualidade mais citada na obra, pra mim foi bastante irritante quando soava em excesso. Não que seja um defeito do livro, mas sim um propósito: em certas situações ela representava a descrição de uma situação tão complicada de entender que chegava a dar um verdadeiro nó naquilo que eu julgava estar compreendendo. Porque sim: a guerra é absurda, irônica e cheia de voltas até que alguém se dê conta do quanto isso a representa, não como apenas um recurso de narração, mas uma situação real.

Após a metade do livro esses absurdos e ironias vão perdendo o ar de inocência, ou a comicidade. Eles passam a adquirir o ar de realidade, daquela sensação de impunidade que conhecemos tão bem quando ela é infligida contra nós. Passam a ter o gosto metálico do reconhecimento daquelas verdades que nos atingem porém pouco paramos para refletir sobre seu significado.

"Ardil-22" é um livro repleto de socos no estômago, especialmente quando temos um olhar atento sobre aquilo que nos cerca. Talvez por isso seja tão impossível resenhá-lo de uma forma coerente (ou pode ser uma incapacidade minha mesmo, não nego essa possibilidade).

Entretenimento? O livro é bem mais que isso. Leia com paciência e cada página poderá valer muito a pena.

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