Resenha: A Arte de Pedir, de Amanda Palmer

by - segunda-feira, agosto 17, 2015

No embalo das leituras e em meio a um projeto de ressaca literária surgindo na minha vida, resolvi colocar na minha lista de leituras um livro de não-ficção. É o tipo de coisa que 'limpa minha mente' e foi aí que entrou o livro "A Arte de Pedir". O resultado? Mixed feelings...

Sim, eu dei um spoiler da minha opinião, mas espero que você se interesse em entender meus motivos.




Cantora e compositora, ícone indie, feminista, mulher de Neil Gaiman, agitadora e mobilizadora de multidões online: Amanda Palmer é um retrato perfeito da boa conexão entre o artista e seu público.

Após desligar-se de sua gravadora, Amanda recorreu ao então recém-lançado Kickstarter, site de financiamento coletivo, para conclamar os fãs a colaborar financeiramente para a produção do próximo álbum de sua banda. O projeto arrecadou mais de 1 milhão de dólares, recorde que chamou atenção tanto da imprensa como da indústria fonográfica. Desse episódio surgiu o convite para uma celebrada palestra nos TED Talks. O tema: saber pedir.

Desdobramento inevitável da palestra homônima, o livro A arte de pedir trata essencialmente de recorrer ao outro, sem temor, sem vergonha e sem reservas. Por que não pedimos ajuda, dinheiro, amor, com a mesma naturalidade com que pedimos uma cadeira vazia num restaurante ou uma caneta, na rua, para fazer uma anotação? Pedir é digno e necessário, e é a conexão entre quem dá e quem recebe que enriquece a vida humana, defende Amanda. Longe de ser um manual sobre como pedir, o livro é uma provocação bem-vinda e urgente, que incita o leitor a superar seus medos e admitir o valor de precisar e doar ajuda, sempre.

Antes de mais nada, devo dizer que tenho problemas com a ideia de 'pedir'. Normalmente sou a pessoa extremamente empática que se oferece para ajudar, mas acaba fazendo o papel de trouxa, tão conhecido como meme nos últimos meses. Pedir ajuda é um problema porque, dependendo do assunto, é mais fácil eu esgotar todas as alternativas para resolver o assunto sozinha. E se eu preciso pedir quase sempre faço isso com algum constrangimento. Então o livro me parecia uma boa opção nesse sentido.

E foi. As histórias de Amanda trabalhando como estátua viva são um bom exemplo disso e dão uma boa amostra do significado de 'generosidade'. As histórias pessoais de Amanda com o marido também são significativas, em dar amostras de partilha através dos pequenos gestos. (Sim, eu gosto disso e sempre gostei desse tipo de relato). Então só de encontrar esse tipo de história, já foi o suficiente para ter um quentinho no coração e isso é inquestionável. Mas eu mencionei o mixed feelings, não foi?

Meu problema com o livro teve a ver com o formato. Por diversos momentos senti que ela batia sempre no mesmo ponto, enrolava sempre nas mesmas histórias e similaridades, o que fez a obra ficar super arrastada em diversos momentos. Eu lia várias páginas e tinha a sensação de não conseguir sair do lugar. Mesmo uma boa história pode ficar enjoativa se for esticada demais e isso aconteceu com frequência após a metade do livro. E quase desanimei a ponto de deixar o livro de lado, mas como já tinha passado da metade acabei insistindo.

Em um panorama geral, é um bom livro, mas provavelmente ele poderia ser mais curto, ou ter outras histórias representativas caso o tamanho fosse uma questão importante. Nesse caso, três corujas é mais que o suficiente em uma avaliação.
  

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2 comentários

  1. Era tanta gente elogiando esse livro que eu fiquei com um pé atrás de ler. Acho interessante a fala dela, mas não vejo porque jogar tanto confete.

    Não tenho problema em pedir ajuda se eu souber pra quem pedir. Mas em geral acabo me resignando a resolver tudo sozinha, algo que já percebi que nem sempre funciona. =\

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    1. Acho que a palestra foi muito boa, mas sabe quando a coisa ficou esticada demais? Arrastada ao infinito? Eu tive a sensação de que ela era repetitiva demais. Nada contra repetir certos itens, afinal muitas vezes é preciso reforçar algo, mas ela simplesmente reforçava tudo que estava sendo dito e isso me irritou bastante.

      Meu problema em pedir é que eu sou tão empática que só atraio doido. E por mais que você não espere retribuição, você fica decepcionada quando não retribuem. Isso acontece com certa frequência, então pra mim é normal ajudar, mas não esperar que façam o mesmo por mim. Acho que é nisso que mora todo o meu problema.

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