Resenha: A Garota na Teia de Aranha, de David Lagercrantz

by - sábado, dezembro 19, 2015

Sou muito fã da trilogia Millenium e lamentei muito a morte de Stieg Larsson porque isso também significava o fim da revista Millenium e de Lisbeth Salander. Mas aí eis que surge a novidade: um novo volume estava chegando pela mão de outro autor. David Lagercrantz foi escolhido pelo pai e pelo irmão de Stieg Larsson, herdeiros do escritor. Mas ouso dizer que foi uma péssima escolha.




Sinopse:
Uma muralha virtual impenetrável: é assim que se pode definir a rede da NSA, a temida agência de segurança americana. Quando a mensagem “Você foi invadido” piscou na tela de Ed Needham, responsável pelos computadores que guardam alguns dos maiores segredos do mundo, ele custou a acreditar. A tentativa de localizar o criminoso também não trazia frutos, as pistas não levavam a lugar nenhum, cada indício terminava num beco sem saída. Que hacker seria capaz de algo assim?


O livro

Mikael Blomkvist está irritado com a situação financeira da revista Millenium. A revista corre um risco de mudar de estilo, pode mandar gente embora e um invejoso da fama de Mikael está no comando da mudança. Ele não quer isso. Mas surge uma oportunidade de um furo, algo a respeito de um cientista brilhante da Suécia que vive isolado e enclausurado, com medo de alguma coisa.

Este mesmo cientista da área da computação, Frans Balder, bate à porta da casa da ex-esposa e leva consigo o filho autista, um savant, considerado um distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência. O menino tem uma habilidade ímpar para o desenho e para a matemática avançada, o que surpreende o pai. O garoto terá pela frente um desafio imenso, inclusive trabalhando junto de Lisbeth.

Enquanto isso, um hacker consegue invadir a famosa NSA, Agência de Segurança Nacional, dos Estados Unidos, algo que julgavam ser impossível. As repercussões da invasão chegam até a Säpo, o serviço de segurança nacional da Suécia que, entre outras coisas, está preocupado com a segurança do professor Balder, que parece não dar muita importância ao aviso de que sua vida corre risco.

Lisbeth, enquanto isso, está sumida. Mas Mikael, ao conversar com uma fonte, que lhe conta a respeito do professor Balder e do que aconteceu a ele, percebe que ela pode estar envolvida no caso. A descrição bate com a figura de Lisbeth, de quem Mikael não tem notícias há um bom tempo. Teria ela sido tão imprudente a ponto de invadir a NSA e de lá baixar um arquivo? Ela teria condições de fazer isso, um feito que tantos julgam impossível?

Mesmo assim, Mikael estava ligado a Lisbeth, e, acima de tudo, não havia como escapar da preocupação que tinha com ela. O ex-tutor de Lisbeth, Holger Palmgren, costumava dizer que ela sabia cuidar de si mesma. Apesar da infância terrível que tivera, ou talvez justamente por causa de tudo que havia lhe acontecido, Lisbeth tinha se transformado em uma sobrevivente. Impossível negar o quanto de verdade havia nisso. Praticamente não existiam garantias para uma garota com um passado como o dela e com uma habilidade ímpar de fazer inimigos.


Avaliação

Antes de tudo devo dizer que admiro a tentativa de David Lagercrantz em dar continuidade à obra de Larsson. Não é uma tarefa simples, nem fácil. Stieg Larsson morreu deu m infarto fulminante antes de ver o sucesso de sua obra, que vendeu mais de 80 milhões de exemplares. Os personagens são cativantes, o enredo é intrincado, surpreendente, tudo nas obras de Larsson é absolutamente fascinante. Assim, qualquer pessoa que se dispusesse a escrever uma continuação teria uma tarefa árdua pela frente.


A ideia geral do enredo é muito boa e digna de um Stieg Larsson. No entanto, é palpável a diferença entre um e outro. Lagercrantz não tem o mesmo domínio do enredo, tampouco dos diálogos - um dos grandes problemas do livro - que se tornam absolutamente cansativos ao longo das 488 páginas. É uma construção tão simplória de diálogos entre os personagens que dá um ar de completo amadorismo da parte do autor em escrever um romance deste porte.

Isso vai enchendo o saco conforme a gente avança na leitura. O enredo é complicado inicialmente, com nomes demais, muitas características psicológicas inúteis de personagens sem importância e o pior de tudo: uma Lisbeth Salander que, apesar de se aproximar da Lisbeth das obras de Larsson, está longe daquela Lisbeth que conhecemos. Assim como Jogos Vorazes se tornou tudo o que a trilogia critica, Lisbeth virou também um produto capitalista, tudo o que Lisbeth nunca quis.

Isso destruiu a tentativa e qualquer boa intenção da parte da família Larsson. Era melhor ter deixado tudo como estava. E o final ainda deixa óbvio que terá uma continuação, pois nem tudo foi resolvido. Sério, parem.

Duas corujas. E só.

Título original: The Girl in the Spider's Web
Ano: 2015
Páginas: 488
Editora: Companhia das Letras

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