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A Garota da Biblioteca

Escrevendo aqui nesse espaço acho que nunca cheguei a abordar nenhuma conversa na qual eu fale dos meus escritores preferidos, não é mesmo? Pois bem, acho que aqui nesse post esse será um dado importante. Então é hora de revelar meu segredinho: minha escritora preferida, em uma panorama geral, é a Letícia Wierzchowski. Tem gente que se surpreende em ver como alguém que consome tanto de literatura estrangeira tem como preferida uma escritora nacional, mas isso não é algo exatamente que possa ser compreendido, mas sim, sentido.

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Minha lista de livros já lidos tem em seu ranking duas de suas obras, em primeiro e segundo lugar como meus preferidos: “A Casa das Sete Mulheres” e “Um farol no Pampa”. Além destes, tenho em casa “A Prata do Tempo” e “Os Getka”. Ainda não tive como ler toda a sua obra, mas é uma vontade antiga que tenho. Normalmente não tenho esse tipo de interesse em me aprofundar na leitura das obras de um autor em específico, mas justifico minha vontade na escrita de Letícia. A narrativa da autora é algo que me toca profundamente.

Sendo fã dela, não é exatamente surpresa contar que fiquei esperando e comprei ainda na pré-venda o e-book do seu último romance, “Sal”. E eis que a data do lançamento chegou e finalmente o recebi no meu e-reader. E o li em duas madrugadas. (Santa tecnologia!)

Antes de mais nada, vamos à uma apresentação:


Sal
Letícia Wierzchowski
– 240 páginas
Editora: Intríseca
Um farol enlouquecido deixa desamparados os homens do mar que circulam em torno da pequena e isolada ilha de La Duiva. Sob sua luz vacilante, a matriarca da família Godoy reconstitui as cicatrizes do passado. Em sua interminável tapeçaria, Cecília entrelaça as sinas de Ivan, seu marido, e de seus filhos ausentes, elegendo uma cor para cada um. Com uma linguagem poética, a premiada escritora gaúcha Leticia Wierzchowski, autora de A casa das sete mulheres, dá voz e vida a cada um dos integrantes da família Godoy, criando uma história delicada e surpreendente, enriquecida por múltiplos e divergentes pontos de vista.

Como mencionei anteriormente, li o livro em duas madrugadas e me deixei levar pelo sabor das palavras. Adoro o modo como ela escreve e não me decepcionei de nenhuma forma com a escrita. Por vezes me confundi entre seu modo de narrar já que o foco se divide entre os vários personagens, mas atribuo a confusão à minha pressa em devorar o que eu podia. Outro fato que pode ter contribuído bastante nisso foi o fato de estar lendo em ebook. Um impresso com um projeto gráfico definido e melhores divisões poderia ser melhor neste ponto.

Sobre a narrativa, às vezes acontece de ser maçante. Em alguns momentos você vai se confundir e julgar que há personagens em excesso e certas situações poderiam ser resolvidas de uma outra maneira, ou talvez descritas em uma linguagem mais direta. Em outras ocasiões você nota que o personagem julgado como sem função finalmente brilha em algum momento (Julieta), e o que você acha que deveria brilhar em algum momento acaba ficando para trás de alguma maneira (Ernest e Tobias).

Defeito sim, mas nada grave. Nada que não aconteça em várias outras obras de escritores mais alardeados. Nada que tire o brilho do livro e de sua escrita em si. Talvez uma segunda leitura mude minha opinião, afinal uma releitura começa a despertar a mente para outras particularidades.

Nessa primeira viagem eu me permiti ser levada pelos personagens, acolhendo especialmente Orfeu, Julius e Cecília, sem contar a fase de querer chutar outros, como Eva e também o próprio Julius (ok, motivos compreensíveis, mas dá vontade de chutar assim mesmo). Não me decepcionei com o que encontrei, achei a história linda e terminei de ler com um nó na garganta. É fundamentalmente uma história de perdas, fins e recomeços. É normal sentir o peso dos personagens e se emocionar com eles.

Por fim, não acho que seja o melhor romance da autora, (ainda tenho "A casa das sete mulheres" e "Um farol no pampa" como meus preferidos de todos os tempos e dificilmente os tirarei do topo da lista) mas "Sal" certamente vai ter um lugarzinho especial no coração e na estante, junto com meus outros livros favoritos. Vale a pena, mas com três corujas devido aos pequenos problemas de enredo.

Bom, após muitos ensaios de uma volta triunfal, mas sem algo realmente bom para justificar o esforço de uma resenha eis que encontrei algo do qual vale a pena comentar. Infelizmente, não se trata de algo fofinho. Não é um romance, não  fala de coisas felizes. Pelo contrário é uma tragédia. E não é fictício, e sim uma tragédia real, um holocausto em terras tupiniquins. Para ser mais exata, o título do livro em questão é algo bem parecido com isso: O Holocausto Brasileiro escrito pela jornalista Daniela Arbex.


O Holocausto Brasileiro - Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes No Maior Hospício do Brasil
Daniela Arbex – 255 páginas
Editora: Geração Editorial
Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.

Acho que a descrição é suficiente para dizer o que o leitor vai encontrar quando abrir este livro. E não, não há exagero nenhum. Na maior parte do tempo, as pessoas não tem sequer noção do quanto pode chegar o sofrimento humano e olha com desdém certas histórias sob alegação de que é um exagero. Se você é uma pessoa atenta sabe que a realidade muitas vezes é capaz de superar com maestria a crueldade da ficção. Ler O Holocausto Brasileiro mostrou o pior da faceta humana e o que é mais intrigante: a loucura daqueles que se dizem normais.

O livro de Daniela Arbex é muitíssimo bem escrito. Li-o direto, em uma única madrugada de tanto que me senti envolvida. A escrita é simples e comovente. Consegue a proeza de mostrar beleza na narrativa de episódios de horror. Daniela Abex fez a proeza de descrever com sutileza e sensibilidade o horror que impregnou tantas vidas mas foi ignorado durante tantos anos.

Vale a pena ler o Holocausto Brasileiro. Como mencionei antes, não é um romance, não é um livro fofo. Não distrai com mentiras confortáveis. Aliás não é um livro que te permite distrações. Pelo menos não mais do que uma pausa para aliviar a sensação de nó na garganta. Mas apesar de tudo, é um livro muito, muito bom mesmo.

Cinco corujas de classificação e lamentando muito por não julgar que seja uma nota alta o bastante.

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