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A Garota da Biblioteca

Se tem algo que eu posso dizer a respeito de 2015 é que estou conseguindo realizar diversos desejos literários. Ou melhor, estou conseguindo ter acesso a diversos livros que eu gostaria de ler. E um deles diz respeito ao assunto da resenha de hoje:

Bordados - Marjane Satrapi

Título original: Broderies
Editora: Quadrinhos na CIA.| 136 p.
Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual - enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas - o 'bordado'. O 'bordado' iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo 'tricô', não fosse uma acepção bastante particular - a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país. O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição. Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.

Conforme dei a entender no parágrafo inicial, esse era um livro desejado há muito tempo. Isso porque além de ser um livro da Marjane Satrapim autora de 'Persépolis', também tem uma temática que aprecio muito que é a do cotidiano feminino no oriente médio. Porém, o que me separava do livro era o precinho, nada vantajoso para o meu pobre bolso, mas nada como promoções do Submarino para garantir a realização de certos sonhos.

Então, desejo satisfeito, hora de falar sobre ele. E o que posso dizer?

Posso dizer que não é indicado ler pensando em "Persépolis", já que o clima da história é outro: se "Persépolis" é um drama biográfico, "Bordados" é pura comédia, pelo menos em uma comparação simplista. Isso levando em consideração a frase que vai dar o tom da obra:

Legenda: "Falar dos outros pelas costas é ventilar o coração"
Legenda: "Falar dos outros pelas costas é ventilar o coração"

Posso dizer também que é um livro que acaba rápido demais. É um livro bem curto, dá para ler de uma só vez. A linguagem da autora é tão leve que não dá para perceber que as páginas estão passando. E a qualidade das histórias? Ímpar! Os relatos são hilários.

Quem não tem muito conhecimento a respeito do universo feminino no oriente médio provavelmente vai se surpreender ao notar como os dilemas da mulheres iranianas expostos nos quadrinhos são bem semelhantes aos das mulheres ocidentais. É claro que existe o machismo e o peso da tradição, mas é bem divertido ver o tipo de fofoca com as quais elas estão lidando. Por exemplo:

  • Uma mulher, mãe de quatro filhas, mas que nunca viu um pênis na vida.
  • Uma que diz que ser a amante de um homem casado é o melhor papel.
  • Uma que procurou uma feiticeira e fez um trabalhinho 'sujo' na tentativa de se casar com o seu amante.
  • A frequência do 'bordado' entre as mulheres, que tem vida sexual ativa enquanto solteiras mas fazem a cirurgia para o casamento.

Em resumo: é algo que vale muito a pena ler. É uma leitura rápida e muito divertida. Dá para esquecer dos problemas e dar boas risadas. E a classificação é... quatro corujinhas. Sim, quatro porque o livro é curto.

Bom, acho que já mencionei antes que sou uma fã dos trabalhos das irmãs Brontë, não é mesmo? E assim como ocorre com Jane Austen, meu interesse não se limita somente as obras originais de Charlotte, Emily e Anne. Por sorte calhei de descobrir esse amor na hora certa já que apenas os famosos "Jane Eyre" e "O morro dos ventos uivantes" - e suas respectivas adaptações para o cinema - não seriam o suficiente.

Hoje temos acesso não somente as obras mais famosas mas também as menos conhecidas, os spin-offs e também biografias romanceadas. E em meio a esse interesse recém descoberto, não pude deixar de lado a oportunidade de ler algumas dessas obras, especialmente os demais trabalhos originais das irmãs Esse é o caso de "Shirley", escrito pela irmã mais famosa do trio.

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ShirleyAutora: Charlotte Brontë
Editora Pedrazul | 397 páginas
Nas profundezas da Yorkshire rural, Briarfield, por volta de 1811, as guerras napoleônicas causavam grandes transtornos. O comércio estava péssimo, comerciantes enfrentavam a bancarrota e usineiros como, Robert Moore, um jovem e ambicioso cavalheiro, se via forçado a lutar para manter o seu negócio. É neste cenário, em que a ordem social de toda a região estava abalada, que a vibrante, emancipada, inteligente e misteriosa jovem herdeira, Shirley Keeldar, retorna à mansão de Fieldhead. Obstinada, assim que ela toma posse da grande quantidade de terra, da casa e do imóvel onde funcionava o moinho de Robert Moore, muita coisa começa a mudar na região. Rapidamente se torna amiga íntima da órfã e delicada Caroline, uma menina muito bonita, sobrinha do reverendo anglicano Helstone. Shirley guarda um segredo, mas isso não impede que todos os homens elegíveis do município, assim que souberam de sua chegada e fortuna, lhe propusessem casamento. Exceto Moore que, preocupado com seu negócio, não dava muita atenção ao assunto, muito menos a uma das jovens que era secretamente apaixonada por ele. Intrigas, rebeliões, doenças, solidão, orgulho e paixão marcam este romance que, no final, os verdadeiros sentimentos, finalmente, vêm à luz e a verdade é descoberta.

Lançado em 1849, "Shirley"foi seu segundo romance publicado, ganhando as ruas após "Jane Eyre". Logo em seu título temos uma particularidade e tanto: na época, Shirley era um nome incomum, e considerado masculino o que serviu bem para ajudar na delimitação da personagem título e dar o tom de sua personalidade como veremos mais adiante.

Dentre as protagonistas temos Shirley Keeldar e Caroline Helstone. Elas apresentam personalidades bem opostas: Shirley é ousada, obstinada e valoriza sua independência, o que definitivamente era bastante ousado para aqueles tempos: em suma, ela tem nome e atitudes também consideradas masculinas. Já Caroline Helstone é meiga, sensível e tímida, porém não menos inteligente. E embora sejam personalidades opostas, trata-se de uma amizade bastante duradoura. Também é possível dizer que os opostos se atraem não somente no amor.

Narrada em terceira pessoa por um narrador onisciente e sem nome, a escrita é fluida e não apresenta grandes dificuldades para acompanhar a trama. Logo em seu início podemos ver uma das marcas registradas de Charlotte que é uma escrita bastante sagaz e repleta de finas ironias e é bastante convidativa até o aparecimento das protagonistas. Isso reduz a sensação de 'encheção de linguiça' que muita gente detesta nos clássicos.

Falando nelas, tanto Caroline quanto Shirley são personagens muito ricas em personalidade e força, cada uma a sua maneira. Charlotte não economizou em palavras ao criá-las ou descrever suas emoções e isso se traduziu em personagens bastante críveis e capazes de despertar afeição por parte dos leitores. Essa é uma boa marca nos trabalhos da autora e uma das coisas que mais gosto de apreciar quando leio suas obras.

Tal como "Jane Eyre" temos em jogo temas como independência feminina e fortes amores, porém também podemos contar com um plano de fundo bem mais agitado. O caos das guerras napoleônicas não são somente pano de fundo, mas representam parte fundamental da história, o que a tornou bastante dinâmica em termos de ação. Se em sua obra mais famosa, a história pessoal da protagonista e a personalidade de Mr. Rochester era capaz de preencher páginas e mais páginas sem que sentíssemos tanta falta de acontecimentos externos, "Shirley" traz conflitos muito interessantes a baila e sem soar como aula de história.

Da esquerda para a direita: Anne, Emily e Charlotte Brontë, retratadas pelo irmão Branwell.

Esse livro também traz mais informações interessantes sobre a autora: como todas as obras de Charlotte, também temos aqui uma boa dose de coisas pessoais. De acordo com estudiosos, Shirley foi baseada no que Charlotte imaginava de Emily ("O Morro dos Ventos Uivantes") caso tivesse nascido em uma família rica, onde sua personalidade obstinada pudesse prevalecer e se sobressair sem que houvesse dificuldades.

Já sobre Caroline, o comentário é que suas características se basearam em Anne ("A Moradora de Wildfell Hall") descrita como doce, conciliadora e reservada. A tese sobre Caroline também desperta algumas dúvidas já que em diversos momentos ela se assemelha muito ao que já foi escrito sobre a própria Chalotte, mas de todo modo isso serve para mostrar o quanto a autora usou de sua própria vida para criar suas tramas.

Como fã de Charlotte Brontë e que, além desta obra também já leu "Jane Eyre" e "Vilette", devo dizer que estamos falando de um livro muito interessante. Tal como 'Jane Eyre', temos o encanto de uma boa narrativa, bastante fluida e também mordaz em vários momentos. Eu me senti grudada no livro, porém quase ao fim senti como se a trama tivesse perdido o foco. Os atos que se desenrolam para levar ao desfecho me pareceram que Charlotte estava com pressa em terminar o livro e sem inspiração para encontrar novas saídas (aliás, um panorama muito reconhecido no mercado literário de todos os tempos.). Mas devo dizer que isso não diminui em nada o brilho da história.

Enfim, devo dizer que esse é o meu segundo colocado no ranking dos preferidos de Charlotte Bronte. Ok, não que signifique muita coisa, afinal ela escreveu somente quatro livros, mas como já li três deles, creio que seja um Top 3 válido, pelo menos até que eu consiga ler "The Professor". Ate lá, "Shirley" é uma leitura que vale muito a pena!

Quatro corujas para essa belezinha! (sim, eu disse isso. Processe-me)

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Amor pelos livros, admiração pela cultura inútil e tendências ao burnout.

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