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A Garota da Biblioteca

Em tempos nos quais o assédio e a violência contra a mulher passaram a ser mais discutidos, nada como um pouco de ficção para ajudar a retomar assuntos e falar sobre eles de maneira didática. Afinal, se muitas vezes ignoramos aquilo que está nas páginas de jornal, a ficção tem um papel e tanto para reviver polêmicas e moldar consciências. E aqui temos "Easy" para dar um bom exemplo.

Não sei se o livro teve o intuito de conscientizar ou se foi apenas alguma história que precisava ser escrita e contada como tantos new adults por aí,  Seja como for, ela é mais que um new adult comum - gênero que prima por cenas de sexo e agarração a perder de vida. "Easy" serve a um propósito aparentemente maior.



"Easy"
Autora: Tammara Webber
Editora: Verus | 306 páginas
Quando Jacqueline segue o namorado de longa data para a faculdade que ele escolheu, a última coisa que ela espera é levar um fora no segundo ano. Depois de duas semanas em estado de choque, ela acorda para sua nova realidade: ela está solteira, frequentando uma universidade que nunca quis, ignorada por seu antigo círculo de amigos e, pela primeira vez na vida, quase repetindo em uma matéria. Ao sair de uma festa sozinha, Jacqueline é atacada por um colega de seu ex. Salva por um cara lindo e misterioso que parece estar no lugar certo na hora certa, ela só quer esquecer aquela noite — mas Lucas, o cara que a ajudou, agora parece estar em todos os lugares. A atração entre eles é intensa. No entanto, os segredos que Lucas esconde ameaçam separá-los. Mas eles vão ter de descobrir que somente juntos podem lutar contra a dor e a culpa, enfrentar a verdade — e encontrar o poder inesperado do amor.

Então vamos lá: "Easy" é um new adult narrado em primeira pessoa por Jacqueline (ou Jackie, dependendo do seu estado de espírito). Ela está na fossa, na lona de verdade porque o fim do namoro fez com que ela perdesse o chão: além de três anos de um relacionamento que parecia perfeito, ela está em um faculdade que não quer, cursando matérias que nunca desejou (e quase levando bomba em uma delas) e também sem amigos, já que seu antigo círculo social era composto por pessoas que eram amigos dele. Ou seja, estamos falando em uma personagem totalmente dependente daquilo que seu ex oferecia, e isso porque o sujeito costumava dizer que ela era uma "namorada T.I" ou "totalmente independente". (Oi?)

Saindo do erro crasso fundamental de sua vida, ela finalmente resolve dar seu primeiro passo para o fim da fossa. E claro que tem que acontecer uma merda: ao sair de uma festa, é atacada pelo melhor amigo de seu ex. Isso já é o bastante para um trauma válido para toda a vida, mesmo que o pior não aconteça. Ela é salva por Lucas, o heroi tatuado da capa. Como acontece muitas vezes na vida real, Jackie não denuncia o ataque e só quer esquecer o que aconteceu, incluindo as pessoas que estavam em volta. O problema é que Lucas consegue estar em todos os lugares, fazendo com que eles se conheçam melhor e passem a se sentir atraídos um pelo outro. O relacionamento entre eles torna-se inevitável, mas um segredo dele pode abalar o rumo desse namoro. E obviamente não posso falar mais sobre esse segredo ou isso vira spoiler.

"Easy" e a realidade:

A despeito de todas as críticas que tenho a respeito do livro, a história base faz todo o sentido e tem tudo a ver com a realidade.

Jacqueline é uma garota que mudou toda sua vida para seguir o seu namorado e descobriu que essa dependência tinha tudo para dar em merda (e deu). Burrice? Sim, mas quantos casos parecidos você não é capaz de lembrar? Quantas mulheres não são estimuladas a seguir os homens de sua vida e deixar seus planos de lado? As qualidades de abnegação e sacrifício feminino ainda são muito estimadas e estimuladas, mesmo em tempos onde esse tal de "amor romântico que aceita tudo" esteja caindo em desuso.

Ok, quando ela finalmente consegue dar os primeiros passos para fora do casulo de dependência, acontece o ataque. Esse ataque é praticado não por um estranho, mas por um conhecido e em quem ela confiava. - representando a realidade de um grande número de agressões sexuais. E a agressão sofrida por ela não termina naquele estacionamento. Ele estará em pauta durante toda a obra e em diversas situações. É o acontecimento chave da história: ou seja, temos aqui uma trama inteiramente baseada em violência contra a mulher e cultura do estupro.

Para quem não sabe, "cultura do estupro" é um termo que designa argumentos e meios pelos quais a sociedade incentiva ou legitima violência sexual contra mulheres: o mito de que a culpa do estupro é da vítima, slut-shamming, achar que o ato comporta um meio termo que o legitime, piadas de estupro e vários outros itens. A discussão do livro é centrada nesses pontos e os discute utilizando argumentos que podem partir tanto dos personagens masculinos quanto femininos - nesse último caso, representando a faceta mais cruel do abuso.

A cultura do estupro é real, mas ainda tremendamente ignorada, rechaçada como se fosse uma invenção de feminazis tirânicas que querem destruir ozomi tudo e instaurar a ditadura (oi?). "Easy" usa a ficção para debatê-la em uma linguagem jovem e é muito útil para conscientizar seus leitores de que isso existe e é uma realidade muito mais próxima do que se pode imaginar. Ajuda a reconhecer essa cultura e também a encontrar uma saída. Em tempos onde a literatura dirigida a mulher vem trazendo relacionamentos abusivos disfarçados na embalagem de contos de fadas, estamos falando de uma opção e tanto.

Avaliação sobre o livro:

Saindo um pouco da temática de cultura do estupro e os paralelos do livro com a realidade, vamos falar de outros pontos importantes. "Easy" tem muitos pontos semelhantes a fanfics, de modo que eu não me surpreenderia se Tammara Webber tivesse um passado como autora de fanfictions (sim, eu sou uma ficwriter e posso falar).

Alguns recursos utilizados na trama são bem parecidos com o que se encontra usualmente em histórias do gênero. Não necessariamente isso é negativo, mas soou amador. Lendo o livro, tive a sensação de que Webber não tinha prática ou não conseguiu lidar com seus personagens de uma forma na qual a proximidade entre eles pudesse ocorrer de uma forma mais natural. Em alguns momentos parece que ela está forçando a barra para que Lucas marque sua presença como herói-protagonista já que os encontros e diálogos soam artificiais.

A escolha do segredo que atormenta o protagonista faz sentido, mas ver isso abordado na voz de Jacqueline também dá a sensação de que a autora quer criar uma atmosfera de dramaticidade exagerada - sendo que esse segredo não tem nada de exagero.

A escrita também é algo que merece atenção. Ela é fluida, e dificilmente você terá problemas em entender a linha dos pensamentos de Jackie, mas podemos encontrar trechos que precisam de três ou quatro releituras para fazer algum sentido. O mesmo acontece em alguns diálogos, em especial os mais ásperos. Nada que cause vergonha alheia, mas é bastante incômodo vez ou outra.

Apesar dos pesares, o saldo é positivo e a história flui independente dos problemas. É uma leitura que cumpre o que promete, seja fornecendo uma boa distração ou ainda passando uma mensagem a respeito de violência sexual, já que todo esclarecimento é bem vindo.

E é pelo conjunto da obra que “Easy” leva três corujinhas.

A maioria das pessoas que conheço normalmente tem uma tática ou uma ordem que as ajuda a planejar as próximas leituras. Muitas pessoas se interessam em perguntar quais são as minhas, mas devo dizer que não tenho a mínima ideia. Estou dizendo isso porque não tenho nenhuma noção de como coloquei "As Três Marias", de Rachel de Queiroz em minha lista ou de como simplesmente fiz com que a obra passasse a frente de todas as outras.

Não é o primeiro livro que leio da autora. Minha experiência com ela até então era com "Memorial de Maria Moura", do qual gosto bastante. Nunca li outros títulos da autora embora conheça ao menos um por nome, que seria "O Quinze". Eu nunca tinha escutado falar em "As Três Marias" pelo menos até o momento em que encontrei um PDF maroto por aí. A sinopse falou alto o bastante para que eu me interessasse. E não me arrependi nem um pouco de tê-lo colocado a frente de todos os outros.

As Três MariasAutor(a): Rachel de Queiroz
Editora: José Olympio - 204 páginas.
"Em seu quarto romance, "As Três Marias", a escritora cearense Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema que já estava presente em todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na sociedade. A história tem início nos pátios e salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de "as três Marias". À noite, deitadas na grama e olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. A estrela de cima é Maria da Glória, resplandecente e próxima. Maria José se identifica com a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é Maria Augusta - ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada. Com o passar do tempo, Maria da Glória se transforma em uma dedicada mãe de família e Maria José se entrega por completo à religião. Guta, por outro lado, não se sente capaz de seguir os passos de nenhuma de suas velhas companheiras. Apesar de sua formação conservadora e rígida, ela sempre desejou ir muito além dos portões e muros daquele internato. Seus instintos a instigavam a procurar e explorar novos mundos. Assim, Guta termina a colégio e corre em busca de sua independência. Seu ideal é viver sozinha, seguir seu próprio caminho, livrar-se da família, romper todas as raízes, ser completamente livre. A realidade, no entanto, se mostra muito diferente daquilo que estava descrito nos romances açucarados e livros de poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras. Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e à morte. "As Três Marias", publicado originalmente em 1939, conquistou o cobiçado prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira e, décadas depois, foi adaptado como uma novela para a televisão. De leitura ágil, o romance é um importante marco na literatura brasileira e um dos mais populares em toda a obra de Rachel de Queiroz."

Devo dizer que me surpreendi muito com esse livro. Não pelos acontecimentos, pelo contrário. É uma obra com mais palavras e pensamentos que ações, mas fiquei muito surpresa pela ousadia de um título como esse sendo publicado em 1939, sobretudo protagonizado e de autoria de uma mulher. Devo dizer que a autora estava muito a frente do seu tempo. Agradeço muito por isso. É uma pequena pérola que sempre merece ser vista e admirada.

"As Três Marias" fala basicamente de Maria da Glória, Maria José e Maria Augusta (Guta). O livro é narrado em primeira pessoa por Guta e passa desde a infância - com sua chegada ao internato - até a vida adulta, com dilemas, amores e a formação de sua personalidade. Devo incluir este livro, aliás, na lista dos pouco que gosto que lança mão desse tipo de narrativa. É excelente!

Rachel de Queiroz construiu a personagem de uma forma muito real e ao mesmo tempo muito doce. Não é o tipo de livro no qual a narração em primeira pessoa serve para ver o personagem obcecado consigo mesmo e com seus pensamentos esquizofrênicos. Guta é extraordinariamente sincera consigo mesma e é capaz de enxergar as situações alheias com um certo distanciamento, de narrá-los sem que haja aquela ideia da possibilidade de distorção por uma visão torpe e totalmente parcial que acontece com muitos autores. E sim, fui capaz de sentir empatia por Guta. Um grande milagre pois por muito tempo me julguei incapaz de tal proeza: sou capaz de ter mais ódio ou apatia por um personagem que empatia, especialmente quando narrados em primeira pessoa. Um tremendo avanço ter sentido algo bom por ela.

Definitivamente valeu a pena sacrificar minha paciência lendo o PDF, com letras bem pequeninas. Gostaria MUITO de conseguir o livro e com certeza tentarei encontrá-lo nos sebos da vida. Vale muito a pena ler e ter na estante para muitas outras releituras.

Cinco corujas, com certeza.

Ler um arquivo em PDF em um e-reader normalmente não é um sinônimo de boa leitura. Quem já teve essa oportunidade sabe o que estou falando: letras pequenas, necessidade de zoom, pouquíssima chance de customização do texto a ser lido. Em suma: é um pesadelo para um leitor que tenha a tecnologia como seu principal modo de leitura. Mas eu fiz... e não sei se me arrependo ou não.

O livro escolhido foi "O Filme Perfeito" de Jodi Picoult. E até agora não sei bem o que dizer.


O Filme Perfeito
Autor(a):
Jodi Picoult
Editora: Planeta do Brasil - 360 páginas
"A antropóloga Cassie Barrett é uma mulher feliz quando se casa com o talentoso, rico e charmoso ator Alex Rivers. É definitivamente o casamento dos sonhos, um filme perfeito aos olhos da apaixonada esposa. Porém o passado de Alex o atormenta, tornando-o agressivo e violento, direcionando a Cassie toda a sua ira. Assim que ela descobre que está grávida, contra a vontade de seu marido, precisa encontrar um modo de proteger a criança que espera antes que seja tarde demais. Dividida entre o medo e a lembrança do amor, Cassie precisa resolver questões que nunca imaginou enfrentar - Como poderia partir? Mas, por outro lado, como poderia ficar?"

Então, voltando ao assunto: eu li esse livro em um PDF maroto. Não é o meu método preferido, mas ver que se tratava de um livro da Jodi Picoult foi o que me atraiu o bastante para o sacrifício, já que eu gostei muito de "A guardiã da minha irmã". Portanto não posso dizer nada a respeito da procedência de sua tradução, e nem da organização. Talvez isso tenha atrapalhado bastante minha leitura já que consegui ter bons momentos de confusão.

A obra adota a narrativa em 3º pessoa e varia entre os personagens Cassie e Will (que não está na sinopse, porém aparece mais tarde e do qual sinceramente não faz grande diferença); Também há momentos no qual ele toma a narrativa em 1ª para a Cassie. Ele é bem narrado, mas sinceramente, não achei que foi uma boa história.

A escrita da autora é boa, o bastante para levar a história em frente, mas fiquei perdida durante a história pela falta de sentido de alguns personagens. Soou como se a autora tivesse tirado algo da cartola e colocado em prática para viabilizar ideias que talvez lhe soassem truncadas. Pelo menos para mim essa foi a impressão que tive de Will e de tudo que lhe dizia respeito. O livro me soaria bem melhor se a trama se concentrasse apenas em Cassie e em Alex. Will parecia alheio ao que estava sendo contado, como se estivesse em outro livro e de repente se visse em uma história totalmente diferente. E isso porque ele foi alçado a um papel de quase protagonista, mesmo sem ser citado na sinopse.

A trama, fora do que diz respeito ao Will, é interessante. Literariamente falando pelo menos, o assunto é sempre interessante de ser discutido, ainda mais quando um dos envolvidos é uma pessoa importante. Ou seja: um prato cheio para qualquer autor que se disponha a explorar, mas claro que há formas... e formas de se fazer isso.

A história flui, o que não quer dizer exatamente que seja boa. É uma boa para quem quer limpar a mente e se distrair com algo. É um livro que envolve, mas ao mesmo tempo é completamente dispensável. Não posso dizer que me arrependo de ter lido, mas certamente não foi uma das minhas melhores escolhas de 2014.

Duas corujas e olhe lá.

E a absoluta do tilt mental está de volta, aterrorizando mais um Literacast do Cabine Literária! E desta vez o assunto foi a diva J.K. Rowling.

O podcast teve participação do pessoal do Cabine: Gabriel Utiyama (editor), Danilo Leonardi (editor-chefe), Augusto Assis (autor e colaborador). Como convidada, a vítima foi, Verônica Valadares (vlogueira responsável pelo canal Vevs Valadares)

Confira!



Um pouco depois de encarar duas trilogias seguidas, resolvi me envolver com um livro de não-ficção. Limpar a mente, sabe? E para isso escolhi um livro que estava planejando ler há algum tempo. Não é difícil entender as razões. Quem me conhece que gosto desse tipo de livro, assim sempre que posso tento ler histórias desse tipo. E para quem gosta de histórias sobre motivação, é um prato cheio.

Siga a @manunajjar


A Costureira de Khair KhanaAutor(a): Gayle Tzemach Lemmon
Editora: Seoman - 200 páginas.
"A vida que Kamila Sidiqi conhecia mudou da noite para o dia quando o Talibã tomou o controle da cidade de cabul. Depois de estudar para professora durante a guerra civil – uma conquista rara para qualquer mulher afegã – Kamila foi confinada à sua casa e proibida de continuar estudando. Quando seu pai e seu irmão mais velho foram obrigados a abandonar a cidade, ela pegou agulha e linha e criou sozinha um próspero negócio. Esta é a incrível e real história dessa inacreditável empreendedora que mobilizou sua comunidade sob o domínio do Talibã."

No que diz respeito à escrita, inicialmente o livro me chamou a atenção por não ser uma auto-biografia, nem nada escrito em primeira pessoa. (grazadeus). A escrita é fluída e dificilmente haverá razões para parar a leitura por causa de algo que tenha soado truncado ou confuso, o que definitivamente pode ser meio chato em qualquer livro.

Essa é Kamila Sidiqui.

Chama a atenção o fato de a família de Kamila, especialmente seus pais, serem extremamente cooperativos e apoiadores de suas aspirações e independência. Isso não é exatamente comum dentro daquele universo, pelo menos não nesse nível. Chama a atenção também a força de Kamila, já que ela está inserida em um contexto no qual tudo está contrário a ela. Mas é de pessoas assim que o mundo precisa para girar e seguir em frente mesmo quando as coisas parecem piorar.

Não há muito o que dizer a respeito do livro, além do fato de que ele cumpre perfeitamente a que veio. Bom para quem gosta de histórias sobre motivação e interessante para quem cursa administração. Também é uma boa opção para feministas em geral já que não haveria livro se não houvesse a questão dos gêneros em voga no Afeganistão.

Quatro corujas porque ele cumpre o que promete, embora esteja longe da minha lista de preferidos.

E lá vamos nós para mais um post econômico! O que é bom, pois significa que tenho topado com mais frequência em trilogias e sagas que me fazem ter vontade de emendar a leitura. Sem contar que neste caso significa que eu emendei duas trilogias distintas sem qualquer intervalo.

Bom, Divergente (-ente, -ente-, -ente) está na boca dos leitores como a distopia Y.A da vez. Por si só os livros não me despertaram interesse. Só senti vontade de ler quando assisti o trailer da adaptação cinematográfica. E a leitura fluiu a ponto de ler a trilogia em quatro dias (o que não é nada absurdo porque o livro não é difícil de ler.)

Parando de enrolação:

Trilogia Divergente: Divergente, Insurgente, Convergente
Autor(a): Veronica Roth
Editora: Rocco
Páginas: Divergente (502 p.), Insurgente (512 p.), Convergente (526 p.)
"Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive."

Bom, ambos os livros tem narrativa em 1ª pessoa e essa narração é predominantemente da Beatrice, já que no terceiro volume temos também a narrativa de Quatro. Ou seja: estamos falando em mais de 500 páginas só de lenga-lenga da cabeça da protagonista.

De qualquer modo, quando li a trilogia tive a impressão de que estava lendo uma boa história, porém contada de maneira errada. Creio que as coisas poderiam ser melhores caso escrita na 3ª pessoa, mas tudo bem. É apenas uma opinião pessoal. Apenas não acho que cenas de ação tenham boa descrição quando narradas em primeira pessoa.

"Divergente" tem uma narrativa fácil de acompanhar, portanto é algo que você pode muito bem deixar fluir para ver o que acontece. Em alguns momentos se mostra bem parado, como é o caso de grande parte de "Insurgente" e "Convergente", mas os bons momentos superam os momentos de tédio.

Imagem do filme só para o post não ficar tão cansativo.
Algo que não posso deixar de comentar sobre o terceiro livro é a incrível capacidade mental de Quatro, que me fez pensar na saudosa novela "Amor à Vida" e no diálogo trivial estabelecido por Márcia (Elizabeth Savalla) e Valdirene (Tatá Verneck):

Tris para Quatro: "Quatro, você é burro?"
Quatro para Tris: "Não, não, Tris. Sou inteligência pura!"  
Tris: *double facepalm*

Eu sei que deveria ter mais empatia, pelo personagem por tudo que ele passou (e que não posso dizer porque vocês são muito frescos com spoiler) mas... não. Não tenho. É justamente por isso que prefiro histórias escritas em 3ª pessoa. Minha capacidade de empatia é bem maior. Para mim, ler histórias em primeira pessoa é como conversar com alguém que só sabe falar de si mesmo e de suas próprias ladainhas. Pode ser a melhor opção para algumas histórias, mas certamente não é o caso da trilogia do -ente -ente -ente.

Algo interessante que escutei a respeito dos livros foi que a autora não sabia desenvolver bem uma personalidade masculina. Bom... se estamos falando do Quatro, o saldo não é muito bom. Não porque ela não saiba desenvolver um personagem homem-cabra-macho, mas porque ele é chato mesmo. E também é uma prova de como narrativas em 1ª pessoa nem sempre são as melhores para o desenvolvimento de uma história.

Outro ponto que eu não consegui entender muito foi a razão para Divergente ser uma distopia, ou a grandeza do pretexto de tudo aquilo ter acontecido. Quer dizer, é uma mistura de "Jogos Vorazes" com "1984" e talvez uma pitada de leve de "Admirável Mundo Novo" (viagem total nesse momento, acho que embarquei em um dos soros das facções), tem implicações e pensamentos interessantes a respeito da vida, genética, algo sobre racismo, memória e lealdade, mas não consegui encontrar algo lá como sendo de impacto o bastante para justificar o impacto dos acontecimentos, tudo o que se seguiu e, acima de tudo, justificar uma trilogia. Talvez o fato de já ter lido distopias com problemas maiores, quem sabe?

Ok, talvez seja uma distopia intermediária antes que um leitor possa sair do âmbito Y.A para uma distopia clássica. Nesse ponto, acho que vale.

E o final... ah, o final... finalmente um pouco de ousadia nessa bagaça. Sinceramente: pelo decorrer da história, era o mais crível, especialmente pelo que autora fez, em transformar uma protagonista tão interessante em... em... xá pra lá, em breve você entenderá o que quero dizer. Com certeza não é o preferido do público, mas foi bem interessante para mim.

E o veredito é... saldo positivo. Tem seus problemas, mas vale a leitura caso você consiga relevar as muitas, imensas, incontáveis decepções que encontrará pelo caminho.

Não sei o que pensar sobre a classificação desses livros, mesmo que o saldo seja positivo. Nesse caso serão duas corujas mesmo e olhe lá:



Economizando o que poderia ser um imenso trabalho, acabei optando por um post econômico. Contrariando expectativas recentes, essa foi a primeira vez desde "Jogos Vorazes" que me envolvi em ler uma saga ou uma trilogia sem fazer intervalos entre um livro e outro. Não é muito difícil entender a razão, já que fisguei tanto no primeiro volume que não tive alternativas a não ser buscar os demais o mais rápido possível.

E eis que temos aqui agora uma resenha para uma trilogia. Ou seja, senta que lá vem história.


Trilogia 1Q84
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Páginas: Volume 1 (432 p.), Volume 2 (376 p.), Volume 3 (472 p.)
1Q84 é o livro mais ambicioso de Haruki Murakami, fenômeno da literatura contemporânea. Assumidamente inspirado na obra-prima de George Orwell, o título se situa no ano de 1984. No primeiro volume Murakami apresenta Aomame, uma mulher que esconde a profissão de assassina. Em uma tarde, no início de abril, ela está parada em um táxi, em meio ao trânsito de uma via expressa de Tóquio. Temendo não chegar a tempo de resolver uma pendência no bairro de Shibuya, ela se vê diante de uma opção inusitada proposta pelo motorista: descer do veículo e seguir por uma escada de emergência em plena avenida. Apesar de um estranho aviso do taxista, que diz que as coisas à volta dela se tornarão estranhas, ao fazer algo tão incomum, Aomame segue a sugestão inicial. Após descer a escada e seguir seu caminho, ela repara aos poucos que certos aspectos da realidade se tornaram diferentes: por exemplo, as armas utilizadas pelos policiais não são mais pistolas e as manchetes nos jornais são completamente distintas em relação às que ela havia lido nos últimos dias.

Em paralelo à trama de Aomame, o professor de matemática e aspirante a escritor Tengo se envolve em um misterioso projeto de refazer um romance escrito por uma jovem de 17 anos. Apesar do receio em assumir o papel de escritor fantasma de Crisálida no Ar, um livro fantasioso e enigmático mas cheio de pequenos defeitos, ele se convence a realizar a tarefa. Mas, para isso, deve conhecer antes a autora, uma estranha jovem chamada Fukaeri. À medida que as histórias vão se alternando, Aomame continua a perceber diferenças sutis na realidade. Ela se dá conta que, ao descer a escada de emergência da via expressa, passou de alguma forma a habitar um mundo discretamente distinto - que acaba batizando de 1Q84. Já Tengo, aos poucos, passa a reparar em estranhas semelhanças entre a ficção fantasiosa de Fukaeri e a realidade, além de perceber que parece correr algum tipo de perigo quando se vê envolvido com uma misteriosa seita. De forma alternada, Murakami narra duas histórias que aos poucos convergem.

Como você já deve ter notado pela introdução desta resenha, trata-se de uma trilogia que devorei. Aliás, esse é um fato bem significativo já que não é um hábito meu ler os livros de uma trilogia ou de uma série sem um intervalo, seja de tempo ou de alguns livros, entre uma continuação e outra. Com 1Q84 não precisei de nada disso: o único intervalo ao qual me dei ao direito entre um volume e outro foi de algumas horas.

Algo importante a ser dito é que já conhecia o estilo do autor. Não é o primeiro livro do Murakami ao qual me aventuro. Inicialmente li "Minha Querida Sputnik" (meh) e "Norwegian Wood" (um dos meus preferidos para a vida), então senti que não era algo que pudesse me cansar, já que o estilo dele é bem peculiar, ainda mais nesses livros:

Em 1Q84 você dificilmente esquecerá algum fato sobre os personagens. Murakami não perde a chance de repetir certos detalhes e isso é tão marcante que fica realmente difícil de esquecer algo mesmo após a página 200. Ele repetirá várias vezes sobre o "instrumento de trabalho" peculiar de Aomame, assim como a primeira lembrança de Tengo, intrinsecamente relacionada à sua mãe. Se o autor acha que um certo ponto é relevante, ele o repetirá até que esteja fixo na memória do autor. Fora isso, o estilo em si é bem envolvente, porque é o tipo de narrativa que te absorve sem grande esforço. Isso vale para os três volumes.

Os dois livros iniciais são excelentes, especialmente o segundo que termina com um gancho irresistível para o terceiro (daquele tipo que faz a pessoa ficar muito aborrecido caso não tenha o último volume ainda). Já o terceiro não deixa de ser bom, há reencontros e elucidação de coisas importantes, mas acima de tudo, pode soar frustrante para quem gosta e procura mais explicações sobre tudo. E o ambiente de 1Q84 é instigante. Qualquer coisa que não tenha sido captada gera um sentimento comum de que perdemos algo, mesmo que o problema não seja nosso e sim do autor que simplesmente achou melhor deixar certas coisas no ar. Sim, ele as vezes tem um senso de humor bem semelhante ao do George R.R. Martin para sacanear o leitor.

A trilogia certamente vale a pena. O ponto é: veja bem até que ponto você precisa de explicações para o que acontece ao seu redor. A postura frente ao que é mostrado no livro é bem semelhante ao que nos deparamos na vida. A prioridade, não é explicar. Até que ponto você consegue lidar com isso, é uma outra questão.

Quatro corujas e lugar cativo na minha estante para essa trilogia mara!


Olá, pessoal! Estou aqui para divulgar mais uma participação desse ser que vos escreve no Literacast, o podcast do site Cabine Literária! 

Na segunda edição do Literacast, o tema discutido foi o Feminismo e a Literatura e teve participação de Gabriel Utiyama (editor), Danilo Leonardi (editor-chefe) e como convidados o psicólogo César Sinício, a autora Cris Lasaitis (Guia dos Primeiros Socorros para o Escritor Iniciante) e a escritora Renata Ventura (A Arma Escarlate).

Confira!


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      • Resenha: As Três Marias, de Rachel de Queiroz
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