Resenha: Bordados, de Marjane Satrapi

by - sábado, maio 30, 2015

Se tem algo que eu posso dizer a respeito de 2015 é que estou conseguindo realizar diversos desejos literários. Ou melhor, estou conseguindo ter acesso a diversos livros que eu gostaria de ler. E um deles diz respeito ao assunto da resenha de hoje:

Bordados - Marjane Satrapi

Título original: Broderies
Editora: Quadrinhos na CIA.| 136 p.
Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual - enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas - o 'bordado'. O 'bordado' iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo 'tricô', não fosse uma acepção bastante particular - a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento, mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país. O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição. Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.

Conforme dei a entender no parágrafo inicial, esse era um livro desejado há muito tempo. Isso porque além de ser um livro da Marjane Satrapim autora de 'Persépolis', também tem uma temática que aprecio muito que é a do cotidiano feminino no oriente médio. Porém, o que me separava do livro era o precinho, nada vantajoso para o meu pobre bolso, mas nada como promoções do Submarino para garantir a realização de certos sonhos.

Então, desejo satisfeito, hora de falar sobre ele. E o que posso dizer?

Posso dizer que não é indicado ler pensando em "Persépolis", já que o clima da história é outro: se "Persépolis" é um drama biográfico, "Bordados" é pura comédia, pelo menos em uma comparação simplista. Isso levando em consideração a frase que vai dar o tom da obra:

Legenda: "Falar dos outros pelas costas é ventilar o coração"
Legenda: "Falar dos outros pelas costas é ventilar o coração"

Posso dizer também que é um livro que acaba rápido demais. É um livro bem curto, dá para ler de uma só vez. A linguagem da autora é tão leve que não dá para perceber que as páginas estão passando. E a qualidade das histórias? Ímpar! Os relatos são hilários.

Quem não tem muito conhecimento a respeito do universo feminino no oriente médio provavelmente vai se surpreender ao notar como os dilemas da mulheres iranianas expostos nos quadrinhos são bem semelhantes aos das mulheres ocidentais. É claro que existe o machismo e o peso da tradição, mas é bem divertido ver o tipo de fofoca com as quais elas estão lidando. Por exemplo:

  • Uma mulher, mãe de quatro filhas, mas que nunca viu um pênis na vida.
  • Uma que diz que ser a amante de um homem casado é o melhor papel.
  • Uma que procurou uma feiticeira e fez um trabalhinho 'sujo' na tentativa de se casar com o seu amante.
  • A frequência do 'bordado' entre as mulheres, que tem vida sexual ativa enquanto solteiras mas fazem a cirurgia para o casamento.

Em resumo: é algo que vale muito a pena ler. É uma leitura rápida e muito divertida. Dá para esquecer dos problemas e dar boas risadas. E a classificação é... quatro corujinhas. Sim, quatro porque o livro é curto.

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1 comentários

  1. Caramba, essa HQ é muito legal mesmo! Li muito rapidamente também e fiquei com aquela sensação de: "e o restante das páginas?". Marjane Satrapi é fantástica mesmo!

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