Denso, envolvente e complicado: eis que o primeiro livro lido de 2016 já chegou arrebentando tudo. Seria esse um bom sinal?
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Sinopse
Passado ao longo de 28 dias numa pequena cidade litorânea, o romance conta a história de Magnólia, uma enóloga tão temperamental como enigmática, que visita o irmão e os sobrinhos após ter estado três anos distante. Voltar àquela casa de frente para o mar parece ser uma série de novos testes em sua vida: confrontar o passado, aceitar a nova situação do irmão viúvo, viver uma nova e arriscada paixão e ser a guardadora de um segredo que pode abalar toda a sua família. "O Frágil Toque dos Mutilados" é um drama familiar sobre o reencontro de pessoas que tentam se explicar, se ajustar e se compreender através de seus sonhos e conflitos.
O livro
O livro - dividido em três partes - se passa ao longo de 28 dias de férias, sendo que cada dia representa um capítulo. O ponto de vista predominante é de Magnólia, embora ocasionalmente o leitor possa ter vislumbre da consciência de outros personagens. Ela convive com o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline, e é através do seu fluxo de consciência, seu temperamento inconstante e sua acidez contumaz que os demais personagens se revelam e a história se coloca em movimento, com cada um deles revelando o que os torna frágeis ou mutilados.
Cada gesto e cada palavra de Magnólia é capaz de atingir em cheio aqueles que estão ao seu redor, tornando impossível a preservação da falsa paz, das máscaras e do silêncio cheio de culpas que todos se esforçam para manter. Não existe quem seja poupado de suas explosões de ódio incontido ou de seu estoque inesgotável de verdades desconfortáveis: seu marido Herbert de temperamento manso e acomodado; seu irmão Orlando de luto constante e luta contra alcoolismo e a irmã Elisa - com sua distância e irritante espiritualidade são os principais alvos. Diante deles, é fácil notar como não existe máscara forte o bastante para resistir a tudo.
Avaliação
Logo de cara posso dizer que a narrativa me conquistou, assim como a construção do fluxo de consciência da protagonista, cheia de nuances, acidez e explosões. É fácil se sentir na pele dela, o que deve chegar a ser exaustivo para o leitor. Eu segui na leitura me sentindo como se pisasse em ovos assim como os demais personagens se comportaram frente a ela, tentando evitar a próxima explosão, a próxima torrente de verdades. Também me senti cansada, por acompanhar o funcionamento da mente de Magnólia, pois tudo é sempre muito intenso. Não existe suavidade ou delicadeza para a personagem: é tudo fogo e caos. Apesar disso, a narrativa é de uma delicadeza ímpar.
Porém, apesar de ter gostado, também devo dizer que demorei a me acostumar com duas coisas: o apuro na descrição da paisagem com o uso de cores - o que me fez pular várias frases - e com o uso excessivo de palavras incomuns na narrativa, algo que me deixou desconfortável durante a primeira metade do livro. Não que o vocabulário mais denso seja algo negativo - pelo contrário - mas por ser jornalista e ter passado quatro anos ouvindo professores pedindo para simplificar, a minha vontade era dizer exatamente o mesmo ao autor. De qualquer modo, é uma sensação que não dura muito afinal logo o leitor acaba sendo tragado para a tempestade.
Outro ponto é que fiquei um pouco frustrada pela forma como a trama chegou ao fim. Não estou falando do epílogo (lindíssimo, aliás), mas pelo fio condutor, a revelação do mistério e seu breve desenrolar. Mas ao mesmo tempo não acho que a trama poderia ter se resolvido de outra maneira. Pareceu o fim possível, mas não o fim merecido. Armadilhas da ficção.
No fim, tudo que posso dizer é que gostei muito do livro e da escrita de Alex Sens e mal posso esperar para conferir outros trabalhos.
1 comentários
É ótimo quando apesar de tudo um livro nos deixa uma sensação de satisfação. Quando esse é o primeiro do ano, quando sentimos que queremos ler outras coisas da autora ou autor e até recomendamos é melhor ainda.
ResponderExcluir"O Frágil Toque dos Mutilados" e "Alex Sens" entraram para o mundo formado pelos livros e autores que quero conhecer ainda nessa vida.
Uma Pandora e Sua Caixa
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Mas não aceito comentários esdrúxulos, ofensivos, com erros, preconceituosos... Ahh, você me entendeu.