Já faz algum tempo que sinto uma certa curiosidade pelo trabalho de Elena Ferrante. Os volumes da tetralogia napolitana (ou sei lá como se chama) vem sendo muito comentados e elogiados entre leitores, sem contar ainda o mistério que envolveu sua identidade. Como eu tenho uma resolução pessoal de não me envolver em trilogias ou coleções sem que todos estejam publicados, acabei optando por um livro avulso e finalmente dar o pontapé inicial (infelizmente não tão bem sucedido assim, pelo menos no meu caso).
Sinopse:“As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender.” Com essa afirmação ao mesmo tempo simples e desconcertante Elena Ferrante logo alerta os leitores: preparem-se, pois verdades dolorosas estão prestes a ser reveladas.
Lançado originalmente em 2006 e ainda inédito no Brasil, o terceiro romance da autora que se consagrou por sua série napolitana acompanha os sentimentos conflitantes de uma professora universitária de meia-idade, Leda, que, aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias na praia, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida — e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.
O livro:
Escrito em 1ª pessoa, acompanhamos toda a trama pelo olhar de Leda, o que pode ser desconfortável para alguns leitores. As lembranças, percepções e inquietações da protagonista dificilmente são consideradas compreensíveis, em especial no tocante a ideia idílica de maternidade.
Não que o livro aparente ser algo destinado a tocar no assunto da decepção com a qual muitas mulheres se deparam diante de um retrato diferente do comercial de margarina. Não é um livro que pretenda ter um toque feminista. É apenas o fato de que Leda não tem filtros. Ela buscava ser diferente, buscava ser independente e muitas vezes 'não se encaixava' nos papéis em que se envolveu, como o de esposa e mãe. Papéis que se revelaram como empecilhos para sua personalidade e seus desejos. Sua mente é revelada sem a menor cerimônia para o leitor. Ela é crua e brutalmente honesta a respeito de tudo.
Seus pensamentos a respeito de suas filhas, as lembranças a respeito de sua família e seus atos são dissecados e desenvolvidos como se fossem considerações daquelas de todos os dias, a respeito de um livro ou um programa de TV. Isso torna muito fácil a ideia de citá-la como egocêntrica. Pega mal que você exponha certos pensamentos e isso a coloca diretamente na berlinda, em especial quando todas são desenvolvidas de maneira tão franca. Ou pior: quando seus pensamentos várias vezes se concretizaram em atos que muitos não perderiam tempo em condenar.
Já a trama que a induz? A família que ela observa? Não rende muita coisa, pelo menos não mais que o pontapé para suas reflexões e alguns vôos de sua imaginação.
Avaliação:
Francamente? Acabei decepcionada se pensar em um panorama geral. Gostei da escrita considerava a personagem intrigante e estava curiosa pelo desenrolar da história - mesmo não gostando do ponto de partida para a situação. O problema foi notar que não faltava muito para o fim do livro e as coisas ainda estavam naquele pé: foi o suficiente para me fazer perder as esperanças. O fim foi algo abrupto, sem muito sentido, sem qualquer resolução. Algo... WTF, talvez?
Confesso que não entendi o hype que o livro teve sendo alvo de tantas resenhas elogiosas no Skoob. Gosto da escrita ágil e convidativa (aliás, convidativa o suficiente para continuar buscando mais trabalhos da autora), gosto da honestidade de Leda, e isso se contrapõe a minha decepção, equilibrando um pouco a balança na hora de avaliar. Eu me irritei muito com ela, mas não cheguei a odiar a personagem como muitos fizeram. De um certo modo pude ser grata pelo desconforto: a ideia de estar no lugar de outra pessoa e enxergar o mundo de uma maneira que pode não ter muito a ver com a sua pode ser enriquecedora (também é o que faz os livros enriquecedores, de uma certa forma). A ideia é interessante, mas o desenrolar do livro e o que deveria ser o atrativo não rendeu.
Três corujinhas e mais disposição para ler outros livros da autora, ok?