Resenha: Dentro do Segredo, de José Luís Peixoto

by - quinta-feira, julho 07, 2016

Um dos meus assuntos preferidos para leitura nos últimos tempos com certeza é a Coréia do Norte. Por isso mesmo me senti sortuda ao descobrir esse livro. Ele prometia matar uma curiosidade que eu já nutria há algum tempo e isso me fez criar muitas expectativas. O problema? A expectativa é a mãe da decepção, e o resultado não foi diferente.


Sinopse:
Em inusitada viagem à Coreia do Norte, o escritor José Luís Peixoto descobre as principais cidades e atrações do país em meio aos cânticos, estátuas e obeliscos do regime mais fechado do mundo. Em 2012, o governo norte-coreano realizou grandes celebrações pelo centenário do falecido ditador Kim Il-sung, pai do regime comunista que controla o país desde 1948. Nessa ocasião excepcional, um grupo de turistas ocidentais obteve autorização para viajar durante duas semanas num roteiro que incluiu a capital, Pyongyang, e diversos lugares raramente visitados por estrangeiros. A possibilidade de conhecer a vida cotidiana dos norte-coreanos estimulou uma antiga curiosidade do escritor português José Luís Peixoto. Radicalmente contrário a qualquer governo ditatorial, Peixoto mesmo assim embarcou na excursão, pomposamente batizada The Kim Il-sung 100th Birthday Ultimate Mega Tour, para ver e sentir de perto esse país banido do convívio internacional por sua insistência em fabricar armas nucleares. O resultado de suas experiências como turista na Coreia do Norte é este livro híbrido de relato de viagem e realismo mágico. Imerso no alucinatório culto à personalidade que domina todos os aspectos da cultura norte-coreana, Peixoto viajou pelo país sob a vigilância sorridente dos guias e dos retratos oficiais. Um clima de pesadelo, que contrasta com o discurso triunfalista das autoridades, é o pano de fundo deste percurso fantástico pela distopia inventada por uma caricata dinastia de tiranos.

O livro


Narrado em 1º pessoa, temos aqui algo que pode ser considerado algo parecido com um relato normal de viagens. O atrativo, é claro, fica por conta do fato de não estarmos falando em um lugar comum, mas sim um dos países mais fechados do mundo. Isso significa que tudo - ou praticamente tudo - que diga respeito a sua estadia diz respeito a uma percepção absolutamente filtrada e dependente do olhar hiper vigilante de outras pessoas: por onde anda, o que você vê, come, fala e ouve. Uma experiência de redoma, por assim dizer, com muitas regras a seguir em troca daquilo que se considera um privilégio e na qual as menores coisas podem significar infrações, e isso vem desde o início:


O papel da alfândega tinha uma lista de artigos proibidos. Se levasse algum na bagagem, devia assinalá-lo com uma cruz. Esse era o caso das armas, munições ou explosivos, mas também dos aparelhos de navegação e GPS, dos telemóveis e de qualquer meio de comunicação; não se podia levar drogas, narcóticos e venenos, mas também era interdito levar obras históricas, culturais e artísticas. Não era permitido entrar no país com qualquer tipo de material impresso.

A partir daí temos acesso a visão do autor a respeito da sua estadia, das coisas que viu e experimentou, da visão filtrada, do culto ao Grande Líder e as idiossincrasias das proibições e vigilância do regime. Além disso, também oferece vislumbres de miudezas cotidianas. Aliás, ele passa muito tempo falando na miudeza das miudezas, o que torna muitas vezes a leitura algo muito arrastada.

Avaliação


Bom, eu mencionei que a expectativa é a mãe da decepção, não é? Então está na hora de explicar a razão desse comentário: nesse meio tempo li diversos livros a respeito da Coréia do Norte, e cada um deles trouxe uma informação nova. O problema é que "Dentro do Segredo" não me ofereceu praticamente nada, salvo algumas curiosidades aqui e ali. A leitura não teve nenhum significado pra mim, talvez um efeito esperado depois de ter passado por outros livros sobre o lugar. 

No fim, o que mais me marcou a respeito do livro foi a persistência necessária para encerrá-lo, já que a leitura foi bastante arrastada. Era promissor, mas tudo foi muito concentrado nos atos dele, muito no relato da miudeza das miudezas e em divagações broxantes desanimadoras. Eu poderia ter abandonado a leitura? Claro, mas não o fiz pois demorei para conseguir o livro. Não queria desperdiçar esse tempo e esforço.

Talvez seja uma boa leitura para quem está começando a se interessar pelo assunto, mas provavelmente não é uma boa para quem se interessa por algo mais. Duas corujinhas e olhe lá.


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