Este não é um livro fácil de ler. Ruth Ozeki nos leva ao limite das sensações ao irmos e voltarmos no tempo, vendo diversos personagens pelos olhos das protagonistas. Mulheres fortes, com dificuldades na vida, mudanças intensas e cultura japonesa que não tolera fraquezas. O livro de Ozeki é intenso, melhor palavra para descrevê-lo.
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Sinopse:
O que acontece quando um diário perdida encontra o leitor certo? Numa remota ilha do Canadá, a escritora Ruth cata mariscos com o marido na praia quando se depara com um saco plástico coberto de cracas que envolve uma lancheira da Hello Kitty. Dentro, encontra um livro de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, e se surpreende ao descobrir que o miolo, na verdade, é o diário de uma menina japonesa, Nao. A sacola misteriosa, segundo os rumores dos habitantes, é mais um dos destroços do último tsunami que devastou o Japão e foi levado pelas correntezas até a ilha.
Desde então, Ruth é tragada pela história do diário de Nao, uma menina que, para escapar de uma realidade de sofrimento – de bullying dos colegas e de um pai desempregado e suicida –, resolve passar seus últimos dias lendo as cartas do bisavô, um falecido piloto camicase da Segunda Guerra Mundial, e contando sobre a vida da avó, uma monja budista de 104 anos.
O livro
Uma escritora que mora em uma ilha isolada e hostil no Canadá, com o marido encontra uma lancheira de Hello Kitty na praia. Embrulhado em vários sacos plásticos, ela encontra um relógio muito antigo, algumas cartas e um diário. Será que a lancheira navegou por correntes marítimas depois do tsunami e foi parar do outro lado do Pacífico?
Ao mesmo tempo conhecemos a dona do diário, Naoko Yusutani, nossa segunda narradora. E Nao logo explica: ela quer morrer e vê na morte a única saída para sua vida de tortura, bullying e solidão. Ou seja, o leitor já toma um tapa e precisa seguir adiante para tentar entender em que ponto a história das duas se encontra.
Nao é divertida, meio obscena, gosta muito de falar sobre sua bisavó, uma monja budista de 104 anos e que é feminista. Ruth começa a ler o diário de Nao, angustiada por tudo o que a menina viveu e por não saber se ela ainda estava viva. Ao que parece, Nao e a família viviam no caminho do tsunami.
Nao, a mãe e o pai moravam nos Estados Unidos, mas desde que o pai perdeu o emprego, eles precisaram voltar para o Japão, um país que Nao mal conhece e com o qual não tem a menor familiaridade. Por isso, seus colegas são extremamente abusivos com a jovem. Todo o tipo de bullying pervertido acontece com ela na escola, enquanto enfrenta a situação dentro de casa: o pai, desempregado, que faz origami com páginas de livros que já leu e a mãe que se mata de trabalhar numa editora pequena, o único sustento da casa.
O pai de Nao se envergonha profundamente da situação da família e de não poder sustentá-la. Por isso, tenta se matar várias vezes e quando não consegue inventa uma desculpa: caiu nos trilhos do metrô, exagerou na dose de remédio. Nao está estrangulada numa vida sem sentido de tal forma que chega a largar a escola. Mas é a convivência com sua bisavó, Jiko, que a tira da inércia, que lhe dá um sopro de vida.
Do outro lado do Pacífico, Ruth é uma escritora que não consegue escrever e vê no diário uma forma de buscar inspiração e de conhecer outra pessoa. Ruth sofre junto do leitor as agruras que Nao e sua família precisam passar. Enquanto isso, ela mesma se vê em uma vida que parece monótona, insípida, em uma ilha isolada na costa do Canadá. Ela e o marido desvendam os mistérios do diário e das cartas escritas em francês.
Nada como saber que não há mais muito tempo de sobra para te fazer dar mais valor aos pequenos momentos da sua vida.
Página 363
Avaliação
Título original: A Tale for the Time Being
Ano: 2014
Páginas: 462
Editora: Casa da Palavra
O livro estava pronto quando aconteceu o terremoto seguido de tsunami que devastou o Japão. Ruth Ozeki então o reescreveu para encaixar a tragédia no enredo por achar aquela uma realidade brutal demais para ser ignorada no contexto. A escritora do livro é a própria autora, tentando se encontrar com sua personagem no tempo e no espaço.
Ruth Ozeki |
Demorei bastante tempo para digerir esse livro, pois ele tem um conteúdo muito denso, uma história pesada - pois Nao sobre muito bullying e se envolve até com prostituição - e tem passagens sobre mecânica quântica que tentam explicar o que Nao chama de ser-tempo. Nas palavras de Nao, o ser-tempo é “alguém que existe no tempo, isso quer dizer, você, e eu, e todos nós que estamos aqui, ou já estivemos, ou que um dia estarão”.
A vida e história das três mulheres é muito bonita e difícil de acompanhar, pois todas têm suas próprias tragédias. Mas as três estão tão ligadas no tempo e no espaço, que não é possível mais separá-las. É aí que entra a mecânica quântica, porém a forma como foi explicada no final do livro se arrasta demais. Era algo que não precisava de tanta explicação, senti como se a autora não quisesse deixar a história ir embora e a esticou ao máximo.
Mesmo com esse final um tanto alongado, recomendo a leitura. Alerto que as passagens de Nao sofrendo bullying são bastante pesadas e você vai sofrer demais com a personagem. Quatro corujas.
2 comentários
Menina, tô com esse livro no kindle mas estou evitando justamente pelas mesmas razões pelas quais estou fugindo de "O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação": gatilhos. Pelas resenhas que li sobre ambos os livros, taí algo que não falta.
ResponderExcluirEu adoro esse livro! É daqueles que ficam na memória por tempos e tempos depois da gente ler. A elegância do ouriço é similar na influência oriental, embora seja mais leve e mais positivo. Recomendo os dois, na verdade!...rsrsrs
ResponderExcluirNão se acanhe e deixe seu comentário.
Mas não aceito comentários esdrúxulos, ofensivos, com erros, preconceituosos... Ahh, você me entendeu.