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A Garota da Biblioteca

E eis que estou de volta... e precisando MUITO criar vergonha na cara para voltar a blogar já que não houve uma quantidade de posts considerável entre esta e minha última retrospectiva literária. Ok, sei de tudo isso, mas não é exatamente algo que posso acrescentar como meta para o próximo ano já que metas de réveillon servem apenas para servirem como base para uma próxima lista de metas.

Mas, deixando as desculpas de lado, vamos lá para a retrospectiva. Infelizmente devo dizer que 2014 não foi um ano dos mais animadores em se tratando de leituras, mas sempre há algumas compensações...


Contabilidade de leitura de 2014:


Conforme escrevi acima, 2014 não foi muito animador. Segundo os números do Skoob (pelo menos ele serve pra isso enquanto não criam o raio de um aplicativo para celular), li 93 livros. No que diz respeito a quantidade, não foi animador visto que li bem menos que em 2013, quando fechei com a marca de 120 livros. Foi um ano difícil, cheio de problemas que resultaram em desânimo para ler e também as ressacas literárias.



Quantidade não é o mais importante. Quantidade nunca deve estar acima de qualidade, mas devo admitir que sinto como se tivesse lido muito pouco. Talvez por ter sentido que não tive tantos bons resultados nas minhas escolhas.


Os meus piores livros de 2014:


Que tal começar com as más notícias dessa vez? Pelo menos para sentir que o fim deve fazer com que o ano não tenha passado em vão...


Páginas de uma História - Lílian Reis
:

 



Sério, não vou gastar maiores palavras com explicações sobre esse livro. Creio que já dei todas as explicações possíveis quando já tive o trabalho de escrever uma resenha sobre ele, na época em que eu ainda tinha vergonha e tentava blogar.


Última Chance - Tatiane Dunkel
: 




Não que seja ruim, ruim, ruiiiiiiiim mesmo. Na prática era um livro que tinha tudo para ser algo, especialmente quando a autora pretende fazer da história uma trilogia. O problema é que a protagonista carece muito de amor próprio, assim como muitas das descrições eróticas são do tipo WTF, sem contar o fato de haver situações arrastadas e pretextos estranhos para que se arraste por páginas e mais páginas até o final, que tem um pretexto bastante WTF também. Sabe quando um único livro fecharia razoavelmente a situação toda e seria o bastante? Pelo menos pra mim será o bastante porque não pretendo ler o segundo.


As espectativas frustradas de 2014:


Em 2013 não cheguei a fazer essa categoria, mas 2014 merece essa inovação. Ah se merece...


5º lugar: Quarteto de Noivas - Nora Roberts:
 



Siiiim! Estamos falando de uma obra toda. Não que sejam livros ruins, mas só consegui gostar de dois deles: o primeiro e o último. Era como se não houvesse pretextos para as demais histórias e apenas fosse empurrado com a barriga. Não consegui gostar e não fiz nenhum grande esforço para isso.


4º lugar: Vida de Escritor - Gay Talese
: 




Esse livro tem uma história looonga a respeito de minhas expectativas sobre ele e também uma resenha, também do tempo em que eu ainda blogava com alguma regularidade. Definitivamente não é um livro que tenha valido a pena. No meu caso, não valeu nem pelo valor jornalístico pelo nome do autor. E a decepção me impede de escrever mais, sinceramente.


3º lugar: Austenlândia - Shannon Hale:
 



Com o meu gosto por Jane Austen, e também por meu antigo trabalho no Cabine Literária, acabei lendo o Austenlândia tendo altas expectativas devidamente frustradas com a leitura. Tem uma resenha a respeito dele no próprio site do Cabine Literária e vou indicá-lo porque estou com uma tremenda preguiça de escrever outra apenas para postar aqui, dsclp.


2º lugar: Aprendi com Jane Austen - Willian Deresiewicz
: 



Mais um da série "li porque tinha a ver com Jane Austen", Tive altas expectativas com esse livro. Altas de verdade, mas depois descobri que era apenas um cara arrogante, idiota e chato e que acabou se tornando um cara apenas chato após descobrir a autora. Não valeu as dilmas que gastei no livro e nem meu precioso tempo com a leitura, embora não seja um 'livro ruim'. 


1º lugar: Trilogia Divergente - Verônica Roth



Acho que o melhor é não escrever nada a respeito da trilogia carinhosamente apelidada de 'ente-ente' e que foi uma completa decepção. E sinceridade, como eu já escrevi uma resenha sobre os livros, não vou sequer tentar fazer isso novamente. Não vale a pena tamanho esforço. Só posso dizer que começou bem, mas terminou de uma forma completamente broxante. E isso não pelo final em si, mas sim pela total falta de planejamento para aquele final.


Os favoritos de 2014:


Vamos falar de coisa boa? *cara de vendedora de produtos da Rede TV mode on*. Ok, beleza. Então veja o que fez meu 2014 valer a pena:


10º: A Garota que você deixou para trás - Jojo Moyes
: 



Romance muito interessante e denso sem ser chato. Vale super a pena ler. E tem resenha por aqui já que foi uma das minhas primeiras leituras de 2014 e eu estou com preguiça de falar mais sobre o que eu já disse antes...

9º: A Invenção das Asas - Sue Monk Kidd:
 



Eu gostei muito desse livro, especialmente pelo fato de conter personagens reais mesmo que a história seja romanceada. Melhor ainda por se tratar de muito da história de Sarah Grimke, grande nome da causa feminista e abolicionista. Mas também não vou entrar em maiores detalhes sobre ele nesse post porque já escrevi uma resenha sobre a obra.

8º lugar: Persépolis - Marjane Satrapi: 



Lido no início do ano (o primeiro livro, pra dizer a verdade e por isso mesmo tem resenha), Persépolis é algo que encanta do começo ao fim devido a força dos desenhos e a história tocante da autora, assim como sua narrativa, muito sensível e memorável. Minha intenção é adquirir "Bordados", outra obra de Marjane Satrapi que espero conseguir assim que a vida ($$$$$) começar a colaborar com essa pobre e modesta blogueira que vos escreve. 

7º lugar: O Castelo de Vidro - Jeannette Walls:
 



"O Castelo de Vidro" não é uma obra de ficção, mas sim a história da família da autora, a jornalista e escritora Jeannette Walls. E é uma história bastante louca sobre relacionamentos disfuncionais, mas com narrativa extremamente forte e cativante. Vale a pena cada página lida, sem dúvida alguma. Infelizmente esse eu li em um período no qual não estava mais com muita paciência de escrever e resenhar algo.

6º lugar: Miss Brontë - Juliet Gael:


 
Além do gosto por Jane Austen, também desenvolvi uma curiosidade imensa pelas irmãs Brontë. Mesmo romanceado, o livro traz informações muito interessantes sobre a vida de Emily, Anne e Charlotte, embora a última seja a protagonista e também a irmã mais famosa. É uma leitura que faz cada minuto gasto valer a pena.

5º lugar: Trilogia 1Q84 - Haruki Murakami: 



Gosto bastante de Haruki Murakami e quando me envolvi com a trilogia 1Q84 sequer consegui parar de ler. Terminava com um dos livros e imediatamente me envolvia com o outro. Como mencionou uma outra leitora da qual não lembro o nome, é como ler um mangá sem imagens. São livros excelentes, mas que levam o leitor a loucura em determinados momentos, especialmente por deixar pontas soltas. Mas claro, entraram para a lista de favoritos porque os personagens são muito interessantes mesmo. Só não menciono mais a respeito porque já tem resenha da trilogia aqui no blog.

4º lugar: As Sombras de Longbourn - Jo Baker:
 



Seguindo o gosto por Jane Austen e especialmente por "Orgulho e Preconceito", essa obra caiu como uma luva. O livro de Jo Baker tem o foco nos criados de Longbourn, que é o local onde se passa a maior parte da história de Orgulho e Preconceito, contando as respectivas trajetórias dos criados, focando também em outros lados dos personagens criados por Jane Austen, inclusive em lados desconhecidos de alguns deles, porém prezando pela fidelidade no que diz respeito ao caráter e a linha da história original. É um dos meus livros preferidos para toda a vida!

3º lugar: Madame Bovary - Gustave Flaubert: 



Durante muito tempo quis ler "Madame Bovary" mas várias circunstâncias atrasaram a realização desse desejo, especialmente várias outras obras entrando na pilha dos livros desejados. Mas eis que um belo dia encarei o arquivo no Kindle e levei a leitura adiante. E meu deus, por que demorei tanto a ler afinal? De forma impressionante não consegui sentir empatia por nenhum personagem, mas nada disso me fez sequer pensar em deixar o livro de lado. A narrativa é tão interessante e os personagens eram tão envolventes que não dava para desistir. Foi uma das minhas últimas leituras do ano e também uma das aquisições que estão na lista de favoritos para a eternidade. 

2º lugar: A Redoma de Vidro - Sylvia Plath: 



Minha história com "A Redoma de Vidro" é bem longa. Isso porque muita gente dizia que era excelente. Mas quando comecei a procurá-lo era um livro muito difícil de encontrar e tudo que eu tinha era um PDF muito do sem vergonha. Não achei a narrativa nada convidativa e acabei deixando. Porém um dia soube que a Biblioteca Azul tinha relançado a obra e investi. Descobri que o PDF era uma tradução meio estranha, e a narrativa do relançamento era muito superior. Li e me envolvi demais com Esther, me identificando muito com a personagem mesmo que a empatia não fosse lá das maiores. E imediatamente após a leitura do ebook, investi em comprar o livro físico.  

1º lugar: Americanah - Chimamda Ngozi Adichie: 



O primeiro lugar é insuperável. Tão insuperável que esse acabou sendo meu último livro lido em 2014 porque simplesmente não consegui pensar em algo melhor para encerrar o ano. E pensar que eu tive tanto receio em ler, crendo que meu humor não estaria em condições de ler algo que pensava ser muito carregado de situações complicadas, porém definitivamente isso não aconteceu. O livro é maravilhoso, assim como a narrativa e as questões raciais que a autora traz. E Ifemelu entrou para a galeria de personagens preferidos para a vida, assim como o livro está na estante de livros preferidos forever.



Bom, essa é a minha retrospectiva literária. Para 2015 acrescentei 25 livros como meta, que na verdade são os que estão na minha estante intocados até agora. Será que eles estarão na retrospectiva ou será mais um ano no qual eu os deixarei de lado?

Até a próxima retrospectiva! 
Nos últimos tempos tenho passado por um período de interesse por Jane Austen. Tive o primeiro contato com a autora ainda na faculdade, sem que ninguém tivesse me indicado, mas tive de deixar o interesse de lado em prol de trabalhos e TCC. Anos depois o interesse ressurgiu e mais voraz que nunca: durante as últimas semanas tenho lido os livros, adaptações baseadas em seu trabalho, assistido filmes e séries e lido resenhas, biografias e análises.

Dessa lista de itens pendentes para ler, faltava um de seus grandes romances: A Abadia de Northanger, do qual pude suprir essa falta agora. Mas posso dizer que a espera valeu a pena.

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A Abadia de NorthangerAutora: Jane Austen
Editora: BestBolso | 256 páginas
A Abadia de Northanger é considerado um dos trabalhos mais ligeiros e divertidos de Jane Austen. De facto, para além dos ambientes aristocráticos da fina-flor inglesa do século XVIII, encontramos aqui uma certa dose de ironia, sátira e até comentário literário bem-humorado.
Catherine Morland é porventura a mais estúpida das heroínas de Austen. A própria insistência no termo “heroína” ao longo da obra e a constatação recorrente do quão pouco este epíteto se adequa à personagem central fazem parte da carga irônica da história. E se Catherine é ingênua para lá do que seria aceitável, e o seu amado Henry a personificação de todas as virtudes masculinas mais do que seria saudável, a perfídia dos maus da fita - amigos falsos, interesseiros e fúteis – não lhes fica atrás no exagero. Tudo isto seria deveras irritante não fora o tom divertido com que Austen assume ao longo das duas partes que constituem este livro o quão inverossímeis são as suas personagens…Acrescente-se a paródia do romance gótico e do exagero em que induz as suas leitoras, e uma crítica inteligente aos críticos que acusam o romance de ser fútil e “coisa de mulheres”, e temos uma interessante historieta de amor, escrita com bastante graça e capaz de ultrapassar a moralidade caduca que nos habituamos a esperar da pena de Jane Austen.
A Abadia de Northanger foi o primeiro romance concluído pela autora, porém um dos últimos a chegarem ao público, sendo editado e vendido postumamente em 1818, juntamente com Persuasão, um ano após o falecimento de Austen. Volume no qual, aliás, finalmente é revelado o nome da autora e sua morte, já que, embora suas obras já tivessem conquistado fama, sua identidade era mantida em segredo.

O livro também tem uma história interessante: embora tivesse sido sua primeira obra concluída, o manuscrito chegou a ser vendido, sob o título de “Susan”. mas não publicado. Intrigada com a demora na publicação após seis anos em aguardo, Austen escreveu ao editor inquirindo a esse respeito em 1809, após o sucesso de “Razão e Sensibilidade” utilizando-se de pseudônimo. A resposta que recebeu não foi nada boa: os editores ofereceram a ela a devolução do manuscrito mediante o pagamento de dez libras: mesmo valor pelo qual compraram a obra anteriormente. Na ocasião, o valor lhe pareceu alto demais e ela teve de se conformar, porém posteriormente os originais foram recuperados por seu irmão. Desde então o romance passou por vários processos de reescrita. Portanto, temos em mãos uma obra que precisou de muita paciência de sua autora para ter seu quinhão de mérito. E merecido, diga-se de passagem

Feito para ser uma sátira ao gênero gótico, best-sellers do período, a narrativa é recheada de ironia e tiradas sarcásticas tanto sobre a ingenuidade de sua personagem principal quanto a ganância das outras personalidades criadas por sua pena. Tendo em mente o fato de Jane Austen ser famosa pela criação de obras que prezavam por ordem, controle e moralidade, por obras densas como “Orgulho e Preconceito”, chega a ser surpreendente se dar conta do quanto sua imaginação – e sua pena – eram afiadas. Veja um exemplo:

A sra. Morland era uma mulher muito boa e queria que seus filhos se saíssem muito bem na vida, que contassem com apoio incondicional, mas seu tempo era exaurido nos longos descansos que se seguiam aos partos e no aprendizado dos pequenos, de modo que inevitavelmente as filhas mais velhas tinham de se arranjar por conta própria; e não era lá muito esplêndido o fato de Catherine, que por natureza não tinha em si nada de heroico, aos catorze anos gostasse mais de críquete, beisebol, andar a cavalo e correr pelo campo do que de livros, ou pelo menos de livros informativos – pois desde não fornecessem nada que se assemelhasse a conhecimento útil, desde que contivessem apenas narrativa e nenhum e nenhum resquício de reflexão, ela jamais manifestou qualquer tipo de objeção aos livros. Mas dos quinze aos dezessete anos Catherine treinou para ser uma heroína: leu todas as obras que as heroínas precisam ler a fim de abastecer suas memórias com aquelas citações que são aproveitáveis e tranquilizadoras nas vicissitudes de suas vidas aventurosas.

A Abadia de Northanger é um livro leve, fluído e engraçado a ponto de poder ser compreendido quase universalmente em seu humor. É algo que recomendo para quem quer ter uma primeira experiência com Jane Austen já que sua obra magna é bastante árida para quem está começando. Vale realmente a pena.

Há algum tempo tenho estado em uma forte onda feminista. Estou interessada em discussões de gênero e assuntos que digam respeito de alguma maneira a pauta da causa. Foi nesse contexto que me interessei em "Histórias e Conversas de Mulher" de Mary Del Priore. O problema é que tive de adiar esses planos porque o preço do e-book não andava muito interessante para o meu bolso. Essa situação durou até o "dia internacional da mulher", quando o livro digital entrou em promoção por um longo período e pude finalmente tê-lo para mim.

De dez de março - quando o comprei - até 12 de abril - data no qual terminei de ler - passou-se um longo tempo. Longo porque normalmente leio livros de não-ficção como uma forma de limpar a mente após muitas leituras ou após livros que me impressionaram. Passei por ambos os casos, com livros que li para resenhá-los para o Cabine Literária e também com alguns que se tornaram os meus preferidos, como "As memórias Perdidas de Jane Austen". Seja como for, demorei a ler porque o fiz bem aos pouquinhos e agora estou aqui para resenhá-lo. Antes tarde do que nunca.



Histórias e Conversas de Mulher
Autora: Mary Del Priore
Editora: Planeta | 312 páginas.
Namoros com homens mais jovens. A paixão por usar botinhas de salto. Corpo trabalhado artificialmente para projetar seios e nádegas e assim ficar mais voluptuoso. O uso de cremes com ingredientes naturais para clarear a pele. Sim, a vida de algumas sinhás do século XVIII lembra a de uma mulher do século XXI... mas só na aparência. Foram necessários mais de 200 anos para que as mulheres conquistassem direitos que permitem a livre expressão e o exercício da cidadania - votar, usar anticoncepcionais, divorciar-se, ir à praia de biquíni, ocupar cargos de alto escalão em empresas multinacionais e muitas outras coisas. Este livro revela como evoluiu - e se revolucionou - a vida das brasileiras, dos tempos da colônia portuguesa ao início do século XXI.

A linguagem de Mary Del Priore é bastante simples e convidativa. Não seria exagero dizer que ela é capaz de levar o leitor sem a menor dificuldade através de suas páginas. E há considerações para toda a sorte de temas, desde os tempos mais antigos até as aflições atuais, o que torna as ideias expostas algo bastante contextualizado especialmente no tocante a revolução sexual, os sonhos de casamento e também aos sacrifícios impostos por uma cultura de juventude e vaidade, sobre a ideia de prisão que vem com esses últimos quesitos, tidos como quase obsessão em tempos onde deveríamos estar libertas de tais neuras:

"Dando ou não dando, a brasileira continua a construir a identidade através do olhar do homem: do macho ou do príncipe. É ele quem escolhe a liberta ou a libertina. As que transformam o corpo apenas num mecanismo de proezas sexuais tem de lidar com consequências nem sempre desejadas: gravidez, DSTs, solidão, quando o corpo não é mais tão jovem. Na outra ponta, como demonstra Sarah Sheeva, a tradição não é opressiva. Para muitas a liberdade sexual é um fardo, e elas tem nostalgia da velha linguagem do amor, feito de prudência, tal como vivenciaram os avós. A pergunta que fica é: quando vamos ser nós mesmas, sem pensar em como ou quanto os homens nos desejam? Sem ter de escolher entre ser santa ou p...?"

"Mais do que nunca, a mulher sofre prescrições. Agora não mais do marido, do padre ou do médico, mas do discurso jornalístico e dos publicitários que a cercam"

"Se as mulheres orientais ficam trancadas num espaço determinado, o harém, as ocidentais têm outra prisão: a imagem. E são açoitadas para caber nela: eternamente jovens, leves e saudáveis."

Convenhamos, é um choque de verdades.

Não tenho muito a falar a respeito da obra. Não sou historiadora para saber de que modo certos itens são organizados e montados para compor o livro e a pesquisa me parece bem feita. A princípio o livro parece se ater a história, mas não é o caso já que se mostra dotado de opiniões interessantes. As vezes, mostra-se tedioso com alguns dados intermináveis, mas é um risco comum para aqueles que se prestam a oferecer o maior número possíveis de informação para contextualizar assuntos importantes.

Em suma, é um livro que dá muito o que pensar. Recomendo.

Pelo conjunto da obra, três corujas:

Antes de começar esse post, acho interessante comentar o fato de que não sou particularmente atraída pelo gênero policial. Nunca gostei de Agatha Christie ou Arthur Conan Doyle nem tenho paciência para um monte de voltas no enredo, como é típico desse tipo de história, mas "Dias Perfeitos" me ganhou logo na sinopse. Confira:


Dias PerfeitosAutor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras | 280 páginas
Téo é um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e examinar cadáveres nas aulas de anatomia. Durante uma festa, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Ela está escrevendo um road movie sobre três amigas que viajam em busca de novas experiências. Obcecado por Clarice, Téo quer dissecar a rebeldia daquela menina. Começa, então, uma aproximação doentia que o leva a tomar uma atitude extrema. Passando por cenários oníricos, que incluem um chalé em Teresópolis e uma praia deserta em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita, repleta de tortura psicológica e sordidez.

Tomei conhecimento desse livro pelo Cabine Literária, site no qual tenho atuado como colaboradora, quando assisti um dos vídeos que falavam sobre lançamentos para o mês. E desde então fiquei interessadíssima nessa sinopse... romântica. #sqn . Então li o e-book e assim que pude fiz questão de comprar o livro físico.

Na verdade não é a primeira obra que leio que tem uma premissa parecida. Já li "O Colecionador", de John Fowles, e é o melhor livro que tenho para estabelecer algum tipo de comparação. E posso dizer que "Dias Perfeitos" é bem melhor e que, acima de tudo, superou minhas expectativas. Ainda mais pelo fato de que nunca vi a obra de Clarice Lispector ser usada de maneira tão... peculiar e só por isso já valeria a leitura.

Narrado em terceira pessoa que parece primeira a ponto até de confundir uma coisa com a outra (batizei esse tipo de narrativa de "quarta pessoa"), a escrita de Raphael Montes faz com que seja possível entrar na mente de Téo e entender as motivações distorcidas para cada um de seus atos. Todos os atos do personagem acabam dotados de sentido, mesmo que seja terrivelmente errado e vá contra qualquer tipo de princípio. Tudo isso sem cansar o leitor, algo que vem se tornando bastante complicado nos últimos anos nos quais as histórias dão voltas e mais voltas.

Aliás, é possível até mesmo sentir empatia pelo Téo (acredite se quiser). E isso é absolutamente perturbador!

Ok, em alguns momentos a coisa fica meio entediante, mas isso acontece nos momentos de calmaria das situações e dos personagens, portanto sendo algo perdoável. Afinal se tudo se mantivesse no pico, devo dizer que a tensão provocada poderia ser quase insuportável. Seria como assistir a saudosa "Avenida Brasil" composta inteiramente por cenas de gritos e falatórios, além das cenas nas quais seria muito fácil se perder num piscar de olhos. Não é a toa que existe o horário do comercial (não apenas para ganhar dinheiro, crianças). O outro problema do livro é o final: pelo menos pra mim, foi absolutamente broxante, mas ok. Acontece.

De qualquer maneira, o conjunto da obra fez com que "Dias Perfeitos", sem a menor sombra de dúvidas, fosse uma das minhas melhores leituras do ano até o momento e que Raphael Montes entre para minha listinha de autores nos quais devo ficar de olho.

Tendo em vista esses fatores, três corujinhas na classificação.


Vivemos atualmente em uma sociedade na qual a ideia de justiça vem sendo muito questionada, tanto na vida real quanto na ficção. E claro, como podemos constatar, estamos bem longe de viver em um mundo minimamente justo. Porém, um pouco dessa tão desejada justiça ocorre quando certas histórias são contadas e finalmente ganham o mundo. Desse modo pelo menos há a sensação de que certas coisas não aconteceram em vão.

Esse é um bom modo de ver a história de Solomon Northup, especialmente agora que está sob todos os holofotes:



12 Anos de EscravidãoAutor: Solomon Northup
Editora: Seoman | 232 páginas
A obra que originou o filme 12 Anos de Escravidão retrata a história de Solomon Northup, um homem negro nascido livre nos Estados Unidos, que após ter recebido uma falsa proposta de trabalho, foi sequestrado, drogado e comercializado como escravo, e passou doze anos em cativeiro, trabalhando, na maior parte do tempo, em uma plantação de algodão na Louisiana. Após seu resgate, Northup, com uma escrita simples e ágil, retrata os registros excepcionalmente vívidos e detalhados da vida de um escravo. Este é um dos poucos retratos da escravidão americana, redigido por alguém tão culto quanto Solomon Northup — uma pessoa que viveu sua vida sob a óptica de uma dupla perspectiva: ter sido tanto um homem livre como um escravo.

Nascido como um homem livre, em 1841 Northup foi sequestrado e vendido como escravo, passando mais de uma década em cativeiro, sendo libertado somente em 1853. Após o resgate, Solomon e seu editor passaram três meses trabalhando em um livro de memórias, cuja publicação alcançou a marca de 17 mil exemplares vendidos nos primeiros quatro meses, e chegou a 30 mil em 1855, dois anos após a primeira edição. Um feito e tanto levando em consideração a época de publicação e também o tema, considerado um tabu.

Atualmente, 160 anos depois dos acontecimentos parece difícil encontrar quem não conheça a história de Solomon Northup: adaptado ao cinema e premiado com duas estatuetas na última edição do Oscar - incluindo a de melhor filme. Com isso a história ultrapassou e muito os costumeiros 15 minutos de fama dos quais muitas histórias não são capazes de ir além. E impulsionado pelo sucesso do filme, novamente "12 anos de Escravidão" foi alçado ao status de bestseller.

Bom, vamos ao que interessa: o livro é narrado em primeira pessoa e segue os acontecimentos em ordem cronológica, iniciando brevemente por sua vida anterior ao sequestro, dando detalhes de sua educação e dos meios de vida que dispõe. Os leitores mais impacientes não precisam esperar muitas páginas para que o pesadelo comece. Basta que tenham paciência suficiente para terem o contexto adequado e informações para compreender como as coisas aconteceram e entender o significado do que é ter a vida e a liberdade tomadas de si.

Solomon é inteligente e narra de maneira sagaz. Na maior parte do tempo consegue manter um distanciamento entre as próprias emoções e os fatos, o que é surpreendente em uma autobiografia. Ele fala com generosidade a respeito de alguns de seus senhores bem como mantém frieza em relação àqueles que o maltrataram, sendo aparentemente bastante franco sobre o que lhe aconteceu. Curiosamente ele também é capaz de despertar risadas vez ou outra com a forma pela qual se revolta contra alguns de seus donos, como Tibeats. O mesmo pode ser dito de momentos com Epps, seu último dono, mas imagino que deva ter tido outra abordagem no filme.

Outro ponto interessante é que o livro é pequeno tendo em vista o volume de acontecimentos. Do mesmo modo, surpreende a escrita fluida, levando em consideração a época em que foi escrito. Claro que não é uma leitura rápida, até mesmo pelo peso dos acontecimentos, mas é uma obra bastante simples. Na maior parte do tempo até mesmo momentos mais dramáticos são narrados com alguma distância. Nada que dificulte o sentimento de empatia, mas certamente o efeito do drama é menor. Talvez pela intenção de ser um documento e pouco houvesse o intuito de angariar empatia e comoção a qualquer custo, o que imagino que não seria bem visto naquele tempo. De qualquer modo, o tema em si não necessita de um esforço deliberado nesse sentido e isso é bom.

solomon northup
Chiwetel Ejiofor na adaptação do livro para o cinema

Algo que me surpreendeu bastante é que a narrativa é praticamente desprovida da ideia de ego - um problema muito comum de autobiografias e biografias de pessoas vivas. Ok, em alguns momentos ele pode se exaltar na descrição de ferramentas criadas e construídas por si, mas esse tipo de coisa está longe de ocupar a maior parte do livro. A escrita em si só fica tediosa no momento em que ele passa a descrever detalhes de manufaturas e ofícios que exerceu enquanto escravo, mas isso é compreensível devido ao caráter documental da obra.

Por tudo que "12 Anos de Escravidão" representa e por tudo que essa história significa, quatro corujas e uma forte recomendação para leitura.

Se tem algo que talvez o leitor que acompanha esse blog não saiba é que eu sou muito fã de Jane Austen. Tive meu primeiro contato com a obra da autora ainda na faculdade, com “Razão e Sentimento” e “Persuasão”. Porém como o período de faculdade é difícil por si só, acabei interrompendo a leitura e deixando de lado. Isso durou até 2013, quando descobri “Orgulho e Preconceito” e entrei novamente na onda e a buscar tudo que ainda poderia ler de suas histórias, ou tudo o mais que tivesse a ver com o seu nome.

Foi desse modo que descobri “As Memórias Perdidas de Jane Austen”: um livro que paquerei durante muito tempo e que acabei comprando o e-book. 

Memórias Perdidas de Jane Austen
Autor(a): Syrie James
Editora: Record - 320 páginas
Um dos maiores nomes da literatura inglesa, Jane Austen escreveu clássicos como Orgulho e preconceito. Embora seus livros tenham interessantes histórias de amor, a vida amorosa da autora nunca foi considerada notável. Esse foi o ponto de partida para Syrie James, estudiosa de Austen, criar uma versão romanceada sobre a vida da aclamada escritora. E se memórias escritas pela própria Austen fossem descobertas, revelando um grande caso de amor? Escrito em um estilo próximo ao da própria escritora britânica, As memórias perdidas de Jane Austen é um livro notável, irresistível para qualquer um que ame Jane Austen – ou grandes romances.


A obra é uma biografia romanceada da autora, tendo como base o suposto conteúdo de um velho baú encontrado escondido no sótão de uma das várias casas pertencentes a um dos irmãos de Austen e identificados como manuscritos da autora. E esse é um passo para tomar a fantasia como verdade já que os fatos são tão amarrados que se torna quase impossível pensar na ideia como uma fantasia.Prefácios e notas do autor corroboram a suposta verdade, afirmando que grande parte do que está no livro realmente provém de volumes encontrados de suas memórias no baú escondido. É como o filme "A bruxa de Blair", tido como verdade, mas é apenas imaginação.

Nesse caso, perca as esperanças, caro leitor. A vida de Jane Austen permanece misteriosa, portanto conforme-se com os mistérios. Porém nem tudo está perdido porque você poderá contar com uma excelente ficção.


É fácil reconhecer a sagacidade presente na narrativa e quase impossível não se deixar levar por ela sem maiores perguntas, tomando a maior parte daquilo como algo real, como se realmente se tratasse de um livro de memórias. A escrita é fluida e fácil de acompanhar e no embalo também fica bem simples notar vários personagens que permearam a obra da escritora. Ao contrário de muitas obras do tipo é fácil tomá-lo como uma verdade e torcer pelo final da heroína. Infelizmente, o que acontece é um grande spoiler, já que o destino de Jane Austen - mesmo que saiba-se pouco a respeito de sua vida - é bem conhecido do público e isso não foi mudado.

Como disse alguns parágrafos acima, eu comprei o e-book. Agora ele está na lista dos que quero comprar a versão impressa e tê-lo comigo em casa, assim como a coleção completa de obras da autora.

Leitura obrigatória para os fãs de Jane Austen e para quem gosta de um bom romance! E cinco corujas de classificação porque cumpriu as promessas de uma boa leitura.


Em tempos nos quais o assédio e a violência contra a mulher passaram a ser mais discutidos, nada como um pouco de ficção para ajudar a retomar assuntos e falar sobre eles de maneira didática. Afinal, se muitas vezes ignoramos aquilo que está nas páginas de jornal, a ficção tem um papel e tanto para reviver polêmicas e moldar consciências. E aqui temos "Easy" para dar um bom exemplo.

Não sei se o livro teve o intuito de conscientizar ou se foi apenas alguma história que precisava ser escrita e contada como tantos new adults por aí,  Seja como for, ela é mais que um new adult comum - gênero que prima por cenas de sexo e agarração a perder de vida. "Easy" serve a um propósito aparentemente maior.



"Easy"
Autora: Tammara Webber
Editora: Verus | 306 páginas
Quando Jacqueline segue o namorado de longa data para a faculdade que ele escolheu, a última coisa que ela espera é levar um fora no segundo ano. Depois de duas semanas em estado de choque, ela acorda para sua nova realidade: ela está solteira, frequentando uma universidade que nunca quis, ignorada por seu antigo círculo de amigos e, pela primeira vez na vida, quase repetindo em uma matéria. Ao sair de uma festa sozinha, Jacqueline é atacada por um colega de seu ex. Salva por um cara lindo e misterioso que parece estar no lugar certo na hora certa, ela só quer esquecer aquela noite — mas Lucas, o cara que a ajudou, agora parece estar em todos os lugares. A atração entre eles é intensa. No entanto, os segredos que Lucas esconde ameaçam separá-los. Mas eles vão ter de descobrir que somente juntos podem lutar contra a dor e a culpa, enfrentar a verdade — e encontrar o poder inesperado do amor.

Então vamos lá: "Easy" é um new adult narrado em primeira pessoa por Jacqueline (ou Jackie, dependendo do seu estado de espírito). Ela está na fossa, na lona de verdade porque o fim do namoro fez com que ela perdesse o chão: além de três anos de um relacionamento que parecia perfeito, ela está em um faculdade que não quer, cursando matérias que nunca desejou (e quase levando bomba em uma delas) e também sem amigos, já que seu antigo círculo social era composto por pessoas que eram amigos dele. Ou seja, estamos falando em uma personagem totalmente dependente daquilo que seu ex oferecia, e isso porque o sujeito costumava dizer que ela era uma "namorada T.I" ou "totalmente independente". (Oi?)

Saindo do erro crasso fundamental de sua vida, ela finalmente resolve dar seu primeiro passo para o fim da fossa. E claro que tem que acontecer uma merda: ao sair de uma festa, é atacada pelo melhor amigo de seu ex. Isso já é o bastante para um trauma válido para toda a vida, mesmo que o pior não aconteça. Ela é salva por Lucas, o heroi tatuado da capa. Como acontece muitas vezes na vida real, Jackie não denuncia o ataque e só quer esquecer o que aconteceu, incluindo as pessoas que estavam em volta. O problema é que Lucas consegue estar em todos os lugares, fazendo com que eles se conheçam melhor e passem a se sentir atraídos um pelo outro. O relacionamento entre eles torna-se inevitável, mas um segredo dele pode abalar o rumo desse namoro. E obviamente não posso falar mais sobre esse segredo ou isso vira spoiler.

"Easy" e a realidade:

A despeito de todas as críticas que tenho a respeito do livro, a história base faz todo o sentido e tem tudo a ver com a realidade.

Jacqueline é uma garota que mudou toda sua vida para seguir o seu namorado e descobriu que essa dependência tinha tudo para dar em merda (e deu). Burrice? Sim, mas quantos casos parecidos você não é capaz de lembrar? Quantas mulheres não são estimuladas a seguir os homens de sua vida e deixar seus planos de lado? As qualidades de abnegação e sacrifício feminino ainda são muito estimadas e estimuladas, mesmo em tempos onde esse tal de "amor romântico que aceita tudo" esteja caindo em desuso.

Ok, quando ela finalmente consegue dar os primeiros passos para fora do casulo de dependência, acontece o ataque. Esse ataque é praticado não por um estranho, mas por um conhecido e em quem ela confiava. - representando a realidade de um grande número de agressões sexuais. E a agressão sofrida por ela não termina naquele estacionamento. Ele estará em pauta durante toda a obra e em diversas situações. É o acontecimento chave da história: ou seja, temos aqui uma trama inteiramente baseada em violência contra a mulher e cultura do estupro.

Para quem não sabe, "cultura do estupro" é um termo que designa argumentos e meios pelos quais a sociedade incentiva ou legitima violência sexual contra mulheres: o mito de que a culpa do estupro é da vítima, slut-shamming, achar que o ato comporta um meio termo que o legitime, piadas de estupro e vários outros itens. A discussão do livro é centrada nesses pontos e os discute utilizando argumentos que podem partir tanto dos personagens masculinos quanto femininos - nesse último caso, representando a faceta mais cruel do abuso.

A cultura do estupro é real, mas ainda tremendamente ignorada, rechaçada como se fosse uma invenção de feminazis tirânicas que querem destruir ozomi tudo e instaurar a ditadura (oi?). "Easy" usa a ficção para debatê-la em uma linguagem jovem e é muito útil para conscientizar seus leitores de que isso existe e é uma realidade muito mais próxima do que se pode imaginar. Ajuda a reconhecer essa cultura e também a encontrar uma saída. Em tempos onde a literatura dirigida a mulher vem trazendo relacionamentos abusivos disfarçados na embalagem de contos de fadas, estamos falando de uma opção e tanto.

Avaliação sobre o livro:

Saindo um pouco da temática de cultura do estupro e os paralelos do livro com a realidade, vamos falar de outros pontos importantes. "Easy" tem muitos pontos semelhantes a fanfics, de modo que eu não me surpreenderia se Tammara Webber tivesse um passado como autora de fanfictions (sim, eu sou uma ficwriter e posso falar).

Alguns recursos utilizados na trama são bem parecidos com o que se encontra usualmente em histórias do gênero. Não necessariamente isso é negativo, mas soou amador. Lendo o livro, tive a sensação de que Webber não tinha prática ou não conseguiu lidar com seus personagens de uma forma na qual a proximidade entre eles pudesse ocorrer de uma forma mais natural. Em alguns momentos parece que ela está forçando a barra para que Lucas marque sua presença como herói-protagonista já que os encontros e diálogos soam artificiais.

A escolha do segredo que atormenta o protagonista faz sentido, mas ver isso abordado na voz de Jacqueline também dá a sensação de que a autora quer criar uma atmosfera de dramaticidade exagerada - sendo que esse segredo não tem nada de exagero.

A escrita também é algo que merece atenção. Ela é fluida, e dificilmente você terá problemas em entender a linha dos pensamentos de Jackie, mas podemos encontrar trechos que precisam de três ou quatro releituras para fazer algum sentido. O mesmo acontece em alguns diálogos, em especial os mais ásperos. Nada que cause vergonha alheia, mas é bastante incômodo vez ou outra.

Apesar dos pesares, o saldo é positivo e a história flui independente dos problemas. É uma leitura que cumpre o que promete, seja fornecendo uma boa distração ou ainda passando uma mensagem a respeito de violência sexual, já que todo esclarecimento é bem vindo.

E é pelo conjunto da obra que “Easy” leva três corujinhas.

A maioria das pessoas que conheço normalmente tem uma tática ou uma ordem que as ajuda a planejar as próximas leituras. Muitas pessoas se interessam em perguntar quais são as minhas, mas devo dizer que não tenho a mínima ideia. Estou dizendo isso porque não tenho nenhuma noção de como coloquei "As Três Marias", de Rachel de Queiroz em minha lista ou de como simplesmente fiz com que a obra passasse a frente de todas as outras.

Não é o primeiro livro que leio da autora. Minha experiência com ela até então era com "Memorial de Maria Moura", do qual gosto bastante. Nunca li outros títulos da autora embora conheça ao menos um por nome, que seria "O Quinze". Eu nunca tinha escutado falar em "As Três Marias" pelo menos até o momento em que encontrei um PDF maroto por aí. A sinopse falou alto o bastante para que eu me interessasse. E não me arrependi nem um pouco de tê-lo colocado a frente de todos os outros.

As Três MariasAutor(a): Rachel de Queiroz
Editora: José Olympio - 204 páginas.
"Em seu quarto romance, "As Três Marias", a escritora cearense Rachel de Queiroz foi ainda mais fundo em um tema que já estava presente em todas as suas obras anteriores: o papel da mulher na sociedade. A história tem início nos pátios e salas de aula de um colégio interno dirigido por freiras: Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José são amigas inseparáveis que ganham de seus colegas e professores o apelido de "as três Marias". À noite, deitadas na grama e olhando para o céu, as meninas se reconhecem na constelação com a qual dividem o nome. A estrela de cima é Maria da Glória, resplandecente e próxima. Maria José se identifica com a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é Maria Augusta - ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada. Com o passar do tempo, Maria da Glória se transforma em uma dedicada mãe de família e Maria José se entrega por completo à religião. Guta, por outro lado, não se sente capaz de seguir os passos de nenhuma de suas velhas companheiras. Apesar de sua formação conservadora e rígida, ela sempre desejou ir muito além dos portões e muros daquele internato. Seus instintos a instigavam a procurar e explorar novos mundos. Assim, Guta termina a colégio e corre em busca de sua independência. Seu ideal é viver sozinha, seguir seu próprio caminho, livrar-se da família, romper todas as raízes, ser completamente livre. A realidade, no entanto, se mostra muito diferente daquilo que estava descrito nos romances açucarados e livros de poesia que passavam de mão em mão entre as adolescentes sonhadoras. Guta descobre o amor, mas através dele é também apresentada à desilusão e à morte. "As Três Marias", publicado originalmente em 1939, conquistou o cobiçado prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira e, décadas depois, foi adaptado como uma novela para a televisão. De leitura ágil, o romance é um importante marco na literatura brasileira e um dos mais populares em toda a obra de Rachel de Queiroz."

Devo dizer que me surpreendi muito com esse livro. Não pelos acontecimentos, pelo contrário. É uma obra com mais palavras e pensamentos que ações, mas fiquei muito surpresa pela ousadia de um título como esse sendo publicado em 1939, sobretudo protagonizado e de autoria de uma mulher. Devo dizer que a autora estava muito a frente do seu tempo. Agradeço muito por isso. É uma pequena pérola que sempre merece ser vista e admirada.

"As Três Marias" fala basicamente de Maria da Glória, Maria José e Maria Augusta (Guta). O livro é narrado em primeira pessoa por Guta e passa desde a infância - com sua chegada ao internato - até a vida adulta, com dilemas, amores e a formação de sua personalidade. Devo incluir este livro, aliás, na lista dos pouco que gosto que lança mão desse tipo de narrativa. É excelente!

Rachel de Queiroz construiu a personagem de uma forma muito real e ao mesmo tempo muito doce. Não é o tipo de livro no qual a narração em primeira pessoa serve para ver o personagem obcecado consigo mesmo e com seus pensamentos esquizofrênicos. Guta é extraordinariamente sincera consigo mesma e é capaz de enxergar as situações alheias com um certo distanciamento, de narrá-los sem que haja aquela ideia da possibilidade de distorção por uma visão torpe e totalmente parcial que acontece com muitos autores. E sim, fui capaz de sentir empatia por Guta. Um grande milagre pois por muito tempo me julguei incapaz de tal proeza: sou capaz de ter mais ódio ou apatia por um personagem que empatia, especialmente quando narrados em primeira pessoa. Um tremendo avanço ter sentido algo bom por ela.

Definitivamente valeu a pena sacrificar minha paciência lendo o PDF, com letras bem pequeninas. Gostaria MUITO de conseguir o livro e com certeza tentarei encontrá-lo nos sebos da vida. Vale muito a pena ler e ter na estante para muitas outras releituras.

Cinco corujas, com certeza.

Ler um arquivo em PDF em um e-reader normalmente não é um sinônimo de boa leitura. Quem já teve essa oportunidade sabe o que estou falando: letras pequenas, necessidade de zoom, pouquíssima chance de customização do texto a ser lido. Em suma: é um pesadelo para um leitor que tenha a tecnologia como seu principal modo de leitura. Mas eu fiz... e não sei se me arrependo ou não.

O livro escolhido foi "O Filme Perfeito" de Jodi Picoult. E até agora não sei bem o que dizer.


O Filme Perfeito
Autor(a):
Jodi Picoult
Editora: Planeta do Brasil - 360 páginas
"A antropóloga Cassie Barrett é uma mulher feliz quando se casa com o talentoso, rico e charmoso ator Alex Rivers. É definitivamente o casamento dos sonhos, um filme perfeito aos olhos da apaixonada esposa. Porém o passado de Alex o atormenta, tornando-o agressivo e violento, direcionando a Cassie toda a sua ira. Assim que ela descobre que está grávida, contra a vontade de seu marido, precisa encontrar um modo de proteger a criança que espera antes que seja tarde demais. Dividida entre o medo e a lembrança do amor, Cassie precisa resolver questões que nunca imaginou enfrentar - Como poderia partir? Mas, por outro lado, como poderia ficar?"

Então, voltando ao assunto: eu li esse livro em um PDF maroto. Não é o meu método preferido, mas ver que se tratava de um livro da Jodi Picoult foi o que me atraiu o bastante para o sacrifício, já que eu gostei muito de "A guardiã da minha irmã". Portanto não posso dizer nada a respeito da procedência de sua tradução, e nem da organização. Talvez isso tenha atrapalhado bastante minha leitura já que consegui ter bons momentos de confusão.

A obra adota a narrativa em 3º pessoa e varia entre os personagens Cassie e Will (que não está na sinopse, porém aparece mais tarde e do qual sinceramente não faz grande diferença); Também há momentos no qual ele toma a narrativa em 1ª para a Cassie. Ele é bem narrado, mas sinceramente, não achei que foi uma boa história.

A escrita da autora é boa, o bastante para levar a história em frente, mas fiquei perdida durante a história pela falta de sentido de alguns personagens. Soou como se a autora tivesse tirado algo da cartola e colocado em prática para viabilizar ideias que talvez lhe soassem truncadas. Pelo menos para mim essa foi a impressão que tive de Will e de tudo que lhe dizia respeito. O livro me soaria bem melhor se a trama se concentrasse apenas em Cassie e em Alex. Will parecia alheio ao que estava sendo contado, como se estivesse em outro livro e de repente se visse em uma história totalmente diferente. E isso porque ele foi alçado a um papel de quase protagonista, mesmo sem ser citado na sinopse.

A trama, fora do que diz respeito ao Will, é interessante. Literariamente falando pelo menos, o assunto é sempre interessante de ser discutido, ainda mais quando um dos envolvidos é uma pessoa importante. Ou seja: um prato cheio para qualquer autor que se disponha a explorar, mas claro que há formas... e formas de se fazer isso.

A história flui, o que não quer dizer exatamente que seja boa. É uma boa para quem quer limpar a mente e se distrair com algo. É um livro que envolve, mas ao mesmo tempo é completamente dispensável. Não posso dizer que me arrependo de ter lido, mas certamente não foi uma das minhas melhores escolhas de 2014.

Duas corujas e olhe lá.

E a absoluta do tilt mental está de volta, aterrorizando mais um Literacast do Cabine Literária! E desta vez o assunto foi a diva J.K. Rowling.

O podcast teve participação do pessoal do Cabine: Gabriel Utiyama (editor), Danilo Leonardi (editor-chefe), Augusto Assis (autor e colaborador). Como convidada, a vítima foi, Verônica Valadares (vlogueira responsável pelo canal Vevs Valadares)

Confira!



Um pouco depois de encarar duas trilogias seguidas, resolvi me envolver com um livro de não-ficção. Limpar a mente, sabe? E para isso escolhi um livro que estava planejando ler há algum tempo. Não é difícil entender as razões. Quem me conhece que gosto desse tipo de livro, assim sempre que posso tento ler histórias desse tipo. E para quem gosta de histórias sobre motivação, é um prato cheio.

Siga a @manunajjar


A Costureira de Khair KhanaAutor(a): Gayle Tzemach Lemmon
Editora: Seoman - 200 páginas.
"A vida que Kamila Sidiqi conhecia mudou da noite para o dia quando o Talibã tomou o controle da cidade de cabul. Depois de estudar para professora durante a guerra civil – uma conquista rara para qualquer mulher afegã – Kamila foi confinada à sua casa e proibida de continuar estudando. Quando seu pai e seu irmão mais velho foram obrigados a abandonar a cidade, ela pegou agulha e linha e criou sozinha um próspero negócio. Esta é a incrível e real história dessa inacreditável empreendedora que mobilizou sua comunidade sob o domínio do Talibã."

No que diz respeito à escrita, inicialmente o livro me chamou a atenção por não ser uma auto-biografia, nem nada escrito em primeira pessoa. (grazadeus). A escrita é fluída e dificilmente haverá razões para parar a leitura por causa de algo que tenha soado truncado ou confuso, o que definitivamente pode ser meio chato em qualquer livro.

Essa é Kamila Sidiqui.

Chama a atenção o fato de a família de Kamila, especialmente seus pais, serem extremamente cooperativos e apoiadores de suas aspirações e independência. Isso não é exatamente comum dentro daquele universo, pelo menos não nesse nível. Chama a atenção também a força de Kamila, já que ela está inserida em um contexto no qual tudo está contrário a ela. Mas é de pessoas assim que o mundo precisa para girar e seguir em frente mesmo quando as coisas parecem piorar.

Não há muito o que dizer a respeito do livro, além do fato de que ele cumpre perfeitamente a que veio. Bom para quem gosta de histórias sobre motivação e interessante para quem cursa administração. Também é uma boa opção para feministas em geral já que não haveria livro se não houvesse a questão dos gêneros em voga no Afeganistão.

Quatro corujas porque ele cumpre o que promete, embora esteja longe da minha lista de preferidos.

E lá vamos nós para mais um post econômico! O que é bom, pois significa que tenho topado com mais frequência em trilogias e sagas que me fazem ter vontade de emendar a leitura. Sem contar que neste caso significa que eu emendei duas trilogias distintas sem qualquer intervalo.

Bom, Divergente (-ente, -ente-, -ente) está na boca dos leitores como a distopia Y.A da vez. Por si só os livros não me despertaram interesse. Só senti vontade de ler quando assisti o trailer da adaptação cinematográfica. E a leitura fluiu a ponto de ler a trilogia em quatro dias (o que não é nada absurdo porque o livro não é difícil de ler.)

Parando de enrolação:

Trilogia Divergente: Divergente, Insurgente, Convergente
Autor(a): Veronica Roth
Editora: Rocco
Páginas: Divergente (502 p.), Insurgente (512 p.), Convergente (526 p.)
"Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive."

Bom, ambos os livros tem narrativa em 1ª pessoa e essa narração é predominantemente da Beatrice, já que no terceiro volume temos também a narrativa de Quatro. Ou seja: estamos falando em mais de 500 páginas só de lenga-lenga da cabeça da protagonista.

De qualquer modo, quando li a trilogia tive a impressão de que estava lendo uma boa história, porém contada de maneira errada. Creio que as coisas poderiam ser melhores caso escrita na 3ª pessoa, mas tudo bem. É apenas uma opinião pessoal. Apenas não acho que cenas de ação tenham boa descrição quando narradas em primeira pessoa.

"Divergente" tem uma narrativa fácil de acompanhar, portanto é algo que você pode muito bem deixar fluir para ver o que acontece. Em alguns momentos se mostra bem parado, como é o caso de grande parte de "Insurgente" e "Convergente", mas os bons momentos superam os momentos de tédio.

Imagem do filme só para o post não ficar tão cansativo.
Algo que não posso deixar de comentar sobre o terceiro livro é a incrível capacidade mental de Quatro, que me fez pensar na saudosa novela "Amor à Vida" e no diálogo trivial estabelecido por Márcia (Elizabeth Savalla) e Valdirene (Tatá Verneck):

Tris para Quatro: "Quatro, você é burro?"
Quatro para Tris: "Não, não, Tris. Sou inteligência pura!"  
Tris: *double facepalm*

Eu sei que deveria ter mais empatia, pelo personagem por tudo que ele passou (e que não posso dizer porque vocês são muito frescos com spoiler) mas... não. Não tenho. É justamente por isso que prefiro histórias escritas em 3ª pessoa. Minha capacidade de empatia é bem maior. Para mim, ler histórias em primeira pessoa é como conversar com alguém que só sabe falar de si mesmo e de suas próprias ladainhas. Pode ser a melhor opção para algumas histórias, mas certamente não é o caso da trilogia do -ente -ente -ente.

Algo interessante que escutei a respeito dos livros foi que a autora não sabia desenvolver bem uma personalidade masculina. Bom... se estamos falando do Quatro, o saldo não é muito bom. Não porque ela não saiba desenvolver um personagem homem-cabra-macho, mas porque ele é chato mesmo. E também é uma prova de como narrativas em 1ª pessoa nem sempre são as melhores para o desenvolvimento de uma história.

Outro ponto que eu não consegui entender muito foi a razão para Divergente ser uma distopia, ou a grandeza do pretexto de tudo aquilo ter acontecido. Quer dizer, é uma mistura de "Jogos Vorazes" com "1984" e talvez uma pitada de leve de "Admirável Mundo Novo" (viagem total nesse momento, acho que embarquei em um dos soros das facções), tem implicações e pensamentos interessantes a respeito da vida, genética, algo sobre racismo, memória e lealdade, mas não consegui encontrar algo lá como sendo de impacto o bastante para justificar o impacto dos acontecimentos, tudo o que se seguiu e, acima de tudo, justificar uma trilogia. Talvez o fato de já ter lido distopias com problemas maiores, quem sabe?

Ok, talvez seja uma distopia intermediária antes que um leitor possa sair do âmbito Y.A para uma distopia clássica. Nesse ponto, acho que vale.

E o final... ah, o final... finalmente um pouco de ousadia nessa bagaça. Sinceramente: pelo decorrer da história, era o mais crível, especialmente pelo que autora fez, em transformar uma protagonista tão interessante em... em... xá pra lá, em breve você entenderá o que quero dizer. Com certeza não é o preferido do público, mas foi bem interessante para mim.

E o veredito é... saldo positivo. Tem seus problemas, mas vale a leitura caso você consiga relevar as muitas, imensas, incontáveis decepções que encontrará pelo caminho.

Não sei o que pensar sobre a classificação desses livros, mesmo que o saldo seja positivo. Nesse caso serão duas corujas mesmo e olhe lá:



Economizando o que poderia ser um imenso trabalho, acabei optando por um post econômico. Contrariando expectativas recentes, essa foi a primeira vez desde "Jogos Vorazes" que me envolvi em ler uma saga ou uma trilogia sem fazer intervalos entre um livro e outro. Não é muito difícil entender a razão, já que fisguei tanto no primeiro volume que não tive alternativas a não ser buscar os demais o mais rápido possível.

E eis que temos aqui agora uma resenha para uma trilogia. Ou seja, senta que lá vem história.


Trilogia 1Q84
Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara
Páginas: Volume 1 (432 p.), Volume 2 (376 p.), Volume 3 (472 p.)
1Q84 é o livro mais ambicioso de Haruki Murakami, fenômeno da literatura contemporânea. Assumidamente inspirado na obra-prima de George Orwell, o título se situa no ano de 1984. No primeiro volume Murakami apresenta Aomame, uma mulher que esconde a profissão de assassina. Em uma tarde, no início de abril, ela está parada em um táxi, em meio ao trânsito de uma via expressa de Tóquio. Temendo não chegar a tempo de resolver uma pendência no bairro de Shibuya, ela se vê diante de uma opção inusitada proposta pelo motorista: descer do veículo e seguir por uma escada de emergência em plena avenida. Apesar de um estranho aviso do taxista, que diz que as coisas à volta dela se tornarão estranhas, ao fazer algo tão incomum, Aomame segue a sugestão inicial. Após descer a escada e seguir seu caminho, ela repara aos poucos que certos aspectos da realidade se tornaram diferentes: por exemplo, as armas utilizadas pelos policiais não são mais pistolas e as manchetes nos jornais são completamente distintas em relação às que ela havia lido nos últimos dias.

Em paralelo à trama de Aomame, o professor de matemática e aspirante a escritor Tengo se envolve em um misterioso projeto de refazer um romance escrito por uma jovem de 17 anos. Apesar do receio em assumir o papel de escritor fantasma de Crisálida no Ar, um livro fantasioso e enigmático mas cheio de pequenos defeitos, ele se convence a realizar a tarefa. Mas, para isso, deve conhecer antes a autora, uma estranha jovem chamada Fukaeri. À medida que as histórias vão se alternando, Aomame continua a perceber diferenças sutis na realidade. Ela se dá conta que, ao descer a escada de emergência da via expressa, passou de alguma forma a habitar um mundo discretamente distinto - que acaba batizando de 1Q84. Já Tengo, aos poucos, passa a reparar em estranhas semelhanças entre a ficção fantasiosa de Fukaeri e a realidade, além de perceber que parece correr algum tipo de perigo quando se vê envolvido com uma misteriosa seita. De forma alternada, Murakami narra duas histórias que aos poucos convergem.

Como você já deve ter notado pela introdução desta resenha, trata-se de uma trilogia que devorei. Aliás, esse é um fato bem significativo já que não é um hábito meu ler os livros de uma trilogia ou de uma série sem um intervalo, seja de tempo ou de alguns livros, entre uma continuação e outra. Com 1Q84 não precisei de nada disso: o único intervalo ao qual me dei ao direito entre um volume e outro foi de algumas horas.

Algo importante a ser dito é que já conhecia o estilo do autor. Não é o primeiro livro do Murakami ao qual me aventuro. Inicialmente li "Minha Querida Sputnik" (meh) e "Norwegian Wood" (um dos meus preferidos para a vida), então senti que não era algo que pudesse me cansar, já que o estilo dele é bem peculiar, ainda mais nesses livros:

Em 1Q84 você dificilmente esquecerá algum fato sobre os personagens. Murakami não perde a chance de repetir certos detalhes e isso é tão marcante que fica realmente difícil de esquecer algo mesmo após a página 200. Ele repetirá várias vezes sobre o "instrumento de trabalho" peculiar de Aomame, assim como a primeira lembrança de Tengo, intrinsecamente relacionada à sua mãe. Se o autor acha que um certo ponto é relevante, ele o repetirá até que esteja fixo na memória do autor. Fora isso, o estilo em si é bem envolvente, porque é o tipo de narrativa que te absorve sem grande esforço. Isso vale para os três volumes.

Os dois livros iniciais são excelentes, especialmente o segundo que termina com um gancho irresistível para o terceiro (daquele tipo que faz a pessoa ficar muito aborrecido caso não tenha o último volume ainda). Já o terceiro não deixa de ser bom, há reencontros e elucidação de coisas importantes, mas acima de tudo, pode soar frustrante para quem gosta e procura mais explicações sobre tudo. E o ambiente de 1Q84 é instigante. Qualquer coisa que não tenha sido captada gera um sentimento comum de que perdemos algo, mesmo que o problema não seja nosso e sim do autor que simplesmente achou melhor deixar certas coisas no ar. Sim, ele as vezes tem um senso de humor bem semelhante ao do George R.R. Martin para sacanear o leitor.

A trilogia certamente vale a pena. O ponto é: veja bem até que ponto você precisa de explicações para o que acontece ao seu redor. A postura frente ao que é mostrado no livro é bem semelhante ao que nos deparamos na vida. A prioridade, não é explicar. Até que ponto você consegue lidar com isso, é uma outra questão.

Quatro corujas e lugar cativo na minha estante para essa trilogia mara!

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