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A Garota da Biblioteca

Não é de hoje que os livros a respeito do Oriente Médio me atraem a atenção. Desde que me entendo por leitora sempre tive vários deles em minhas estantes e também em listas de leitura, em especial as biografias. Porém, passei um bom tempo longe desses livros, visto que volta e meia passo por uma overdose de temáticas e apenas eventualmente me arrisco em romper esse tipo jejum literário. Esse foi o caso de "Dias de Mel" e que teve um saldo positivo.

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Sinopse:
Em 2003, Annia Ciezadlo resolve passar a lua de mel em Bagdá. O destino nada óbvio para uma norte-americana se justifica pela decisão de seu marido Mohamad, que era jornalista nos Estados Unidos, de cobrir a invasão do Iraque e voltar ao Líbano, sua terra natal. Neste livro, a autora fala sobre os anos na Bagdá ocupada pelas forças de Coalizão e na Beirute marcada pelas divisões sectárias. Fala também sobre o dia a dia das pessoas, sua relação com a família de Mohamad, as diferenças culturais entre Oriente e Ocidente e sobre a possibilidade de resolver os conflitos com uma mesa cuidadosamente preparada

Bem, acho que diante da sinopse nem preciso entrar muito em detalhes. Ela já diz tudo o que é preciso dizer, em especial a imensa variedade de assuntos que ela tenta abarcar em um único livro. E note que logo no início do texto eu mencionei que o 'saldo foi positivo', um claro indicativo de que existem alguns problemas ali e acolá e devo dizer que foi justamente por querer abordar mais do que poderia: muitos temas em um mesmo livro.

Basicamente ocorre que o tema predominante é comida. Até a primeira metade do livro os outros temas coexistem, mas de uma maneira confortável, sem que soe cansativo. Depois disso ela suspende o tema em prol dos diversos conflitos ocorridos em Beirute. Passa muito tempo batendo na mesma tecla e esquece abruptamente do tema principal para voltar a abordá-lo somente mais tarde, e ainda assim de forma superficial. Isso fez com que eu me sentisse um orientador de monografia gritando pro aluno focar no tema, enquanto este simplesmente ignorava porque baixou a inspiração. E claro, quando baixa a inspiração você precisa dar corda e trabalhar na ideia, seja como for e do jeito que der.

Esse foi o ponto frustrante da minha leitura. Não sei dizer se é algo que poderia ser resolvido após uma primeira revisão, se havia uma outra forma possível de compor o mosaico que ela se propôs a construir, mas essa falta de direção me chamou a atenção. Mas devo explicar também a razão que me fez considerar o saldo positivo: embora a autora tenha se perdido em vários momentos, as suas propostas foram fascinantes e me fez encontrar muitos pontos interessantes.

Um dos pontos que gostei foi ter mais detalhes sobre o Iraque. A maior parte dos livros disponíveis no mercado literário abordam o Irã, Afeganistão, Paquistão e Árabia Saudita. Volta e meia também é possível encontrar Líbano e Líbia (em menor escala) como pontos de temática, mas não o Iraque, e isso foi enriquecedor. Preencheu uma boa lacuna da minha curiosidade O cotidiano no país antes, durante e após Saddam Hussein relatado para a autora através dos amigos que ela fez durante sua estadia, e também seu plano de descobrir a culinária local, mesmo que muitos insistissem que essa culinária simplesmente não existia. E sim, ela conseguiu.

Além disso, o grande acerto do livro foi investir na ideia de que, mesmo entre tantos problemas, guerras e conflitos as pessoas tentam manter uma espécie de normalidade e ter uma continuação de suas rotinas mesmo isso significando o apego aos pequenos rituais e gestos do dia-a-dia, mesmo quando as coisas parecem desmoronar ao seu redor e tudo é tão frágil. Claro, é o que sabemos que acontece, mas a ênfase nos relatos que ganham a mídia dificilmente cobre esse ponto. A ficção muitas vezes mostra esse tipo de força, mas muitas vezes ela perde sua essência devido a exigências de mercado. Não é o caso de "Dias de Mel" e isso me agradou muito.

Saldo positivo? Claro que sim. Positivo a ponto da minha avaliação ter quatro corujinhas:

Denso, envolvente e complicado: eis que o primeiro livro lido de 2016 já chegou arrebentando tudo. Seria esse um bom sinal?


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Sinopse
Passado ao longo de 28 dias numa pequena cidade litorânea, o romance conta a história de Magnólia, uma enóloga tão temperamental como enigmática, que visita o irmão e os sobrinhos após ter estado três anos distante. Voltar àquela casa de frente para o mar parece ser uma série de novos testes em sua vida: confrontar o passado, aceitar a nova situação do irmão viúvo, viver uma nova e arriscada paixão e ser a guardadora de um segredo que pode abalar toda a sua família. "O Frágil Toque dos Mutilados" é um drama familiar sobre o reencontro de pessoas que tentam se explicar, se ajustar e se compreender através de seus sonhos e conflitos.


O livro

O livro - dividido em três partes - se passa ao longo de 28 dias de férias, sendo que cada dia representa um capítulo. O ponto de vista predominante é de Magnólia, embora ocasionalmente o leitor possa ter vislumbre da consciência de outros personagens. Ela convive com o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline, e é através do seu fluxo de consciência, seu temperamento inconstante e sua acidez contumaz que os demais personagens se revelam e a história se coloca em movimento, com cada um deles revelando o que os torna frágeis ou mutilados. 

Cada gesto e cada palavra de Magnólia é capaz de atingir em cheio aqueles que estão ao seu redor, tornando impossível a preservação da falsa paz, das máscaras e do silêncio cheio de culpas que todos se esforçam para manter. Não existe quem seja poupado de suas explosões de ódio incontido ou de seu estoque inesgotável de verdades desconfortáveis: seu marido Herbert de temperamento manso e acomodado; seu irmão Orlando de luto constante e luta contra alcoolismo e a irmã Elisa - com sua distância e irritante espiritualidade são os principais alvos. Diante deles, é fácil notar como não existe máscara forte o bastante para resistir a tudo. 

Avaliação


Logo de cara posso dizer que a narrativa me conquistou, assim como a construção do fluxo de consciência da protagonista, cheia de nuances, acidez e explosões. É fácil se sentir na pele dela, o que deve chegar a ser exaustivo para o leitor. Eu segui na leitura me sentindo como se pisasse em ovos assim como os demais personagens se comportaram frente a ela, tentando evitar a próxima explosão, a próxima torrente de verdades. Também me senti cansada, por acompanhar o funcionamento da mente de Magnólia, pois tudo é sempre muito intenso. Não existe suavidade ou delicadeza para a personagem: é tudo fogo e caos. Apesar disso, a narrativa é de uma delicadeza ímpar.

Porém, apesar de ter gostado, também devo dizer que demorei a me acostumar com duas coisas: o apuro na descrição da paisagem com o uso de cores - o que me fez pular várias frases - e com o uso excessivo de palavras incomuns na narrativa, algo que me deixou desconfortável durante a primeira metade do livro. Não que o vocabulário mais denso seja algo negativo - pelo contrário -  mas por ser jornalista e ter passado quatro anos ouvindo professores pedindo para simplificar, a minha vontade era dizer exatamente o mesmo ao autor. De qualquer modo, é uma sensação que não dura muito afinal logo o leitor acaba sendo tragado para a tempestade.

Outro ponto é que fiquei um pouco frustrada pela forma como a trama chegou ao fim. Não estou falando do epílogo (lindíssimo, aliás), mas pelo fio condutor, a revelação do mistério e seu breve desenrolar. Mas ao mesmo tempo não acho que a trama poderia ter se resolvido de outra maneira. Pareceu o fim possível, mas não o fim merecido. Armadilhas da ficção.

No fim, tudo que posso dizer é que gostei muito do livro e da escrita de Alex Sens e mal posso esperar para conferir outros trabalhos.

Final de ano normalmente é uma época de balanço: tempos nos quais pensamos e relembramos aquilo que aconteceu no decorrer dos 365 dias anteriores e fazemos novos planos para os dias que estão por vir. E claro que a retrospectiva é uma tradição e por aqui não seria diferente.

O ano de 2015 não foi tão interessante para as leituras. A lista de decepções literárias teve mais posições disputadas que a lista dos melhores livros. Também fiquei bem longe de ler o quanto queria ou ao menos de chegar perto da quantidade de leituras de 2014, mas esse não é o ponto. De qualquer modo, foi um ano com boas surpresas na literatura, embora eu também tenha perdido tempo com livros que deveria ter jogado na janela logo na primeira página e não tenha resenhado nem metade do que li (desculpa).

Enfim, vamos lá:

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As 5 melhores leituras de 2015:

Vamos começar com os melhores do ano que é o equivalente a começar com o pé direito. Afinal ninguém quer começar com má notícia.

5 - Acredite. estou mentindo (Ryan Holiday)


Quando li esse livro, notei que ele obrigatoriamente teria de estar presente em qualquer retrospectiva que eu fizesse sobre 2015. Em especial porque meu trabalho em si lida muito com percepções de mídia e, consequentemente, sua manipulação. Um tema e tanto nesses tempos de redes sociais.

Embora eu tenha gostado da proposta, minha reação diante do livro foi dúbia, já que também não gostei de muitos aspectos dele como foi o caso da tradução (que mais parecia resultado do Google Traslate do que de um humano) e da falta de preocupação da editora com a inserção de notas de rodapé (muito útil, em especial quando falam sobre marcas que não faz parte do conhecimento habitual do brasileiro). Ainda assim, o resultado final foi positivo.

A obra é esclarecedora em diversos sentidos e principalmente nesses dias em que grande parte da guerra política acontecendo hoje tem as redes sociais e os sites de notícia como ringue. Leitura obrigatória.

4 - Livre (Cheryl Strayed)


Quando li este livro também senti que ele deveria estar presente na retrospectiva. É uma leitura super envolvente tanto em seu drama quanto em sua graça. Para rir e chorar acompanhando a narrativa e também pra passar muito tempo pensando nele depois de terminá-lo. A jornada de Cheryl me acompanhou por vários dias após o fim.

Interessou? A Sybylla fez resenha dele. Corre lá!  

3 - O Círculo (Dave Eggers)


Li "O Círculo" por uma forte sugestão (quase um gancho de esquerda) da Sybylla, e essa também é outra leitura da qual não me arrependo. Devo dizer que é um livro super necessário para os dias de hoje: não por ser uma 'literatura séria', mas pela amplitude de sua temática e também pelos rumos que a história toma.

Não vou entrar em detalhes nesse post mesmo porque já escrevi uma resenha a respeito do livro, mas devo dizer que, apesar de uma narrativa na qual é bem fácil encontrar defeitos e também da facilidade em desgostar da protagonista (culpada!), "O Círculo" fornece um panorama bem alarmante do que pode estar a caminho e de como aceitamos tudo facilmente, mesmo aquilo que surge no livro como o mal óbvio que todos os leitores enxergam como tal. Infelizmente no mundo real habita uma espécie de cegueira...

Quer saber mais? Então dá uma olhada na resenha.

2 - A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário (Denis Thériault)


Esse livro foi uma tremenda surpresa pra mim. Não foi recomendação de ninguém, nem uma leitura que pensei por força de profissão, mas sim um livro que escolhi em todos os sentidos. Ou ele me escolheu, vai saber?

É uma obra curta, com pouco mais de 120 páginas mas que me deu um sabor de nostalgia pelas cartas (o Temer deve ser lido isso também...), de empatia por Bilodo (mesmo sendo um stalker) e também  um misto de sensações frente o deslumbramento do protagonista pelos haicais escritos por Ségolène. Também gostei do realismo fantástico daquele jeito Murakami de ser e que acabou surgindo de surpresa. Aliás, esse elemento acabou pegando muita gente desprevenida e despertou reações dúbias entre os leitores já que li algumas resenhas de gente que acabou frustrada pelo uso do artifício.No meu caso eu gostei, embora pense que a inserção desses recursos poderia ter começado páginas antes.

Seja como for, vale muito a leitura! #quentinhonocoração

1 - Kafka à Beira Mar (Haruki Murakami)


Óbvio que um livro dele estaria na minha lista de melhores do ano, e em 2015 foi "Kafka à Beira Mar" quem ganhou a posição. Melhor ainda, ocupando o lugar mais alto do pódio.

A verdade é que não sei dizer com certeza o que me conquistou além da escrita em si. Talvez meus surtos de empatia pelo Nakata (um personagem incrível), ou pela coragem da jornada do próprio protagonista sem nome. Simplesmente não sei dizer. Nunca consegui resenhar algo escrito por Murakami sem me sentir burra diante de tantas metáforas e referências, mas no fim posso dizer que esse livro passou muito tempo em meus pensamentos depois que cheguei a última página. Puro amor. Junto com "Norwegian Wood" sem dúvida "Kafka a Beira Mar" é o meu preferido do autor.

Os 5 piores livros de 2015 (ou "minhas 5 decepções literárias)


Agora é o momento das más notícias. Como mencionei antes, 2015 foi cheio das decepções literárias de modo que o top 5 foi bem mais difícil de formar que o de boas leituras, mas tudo bem. Vamos lá:

5 - Aluga-se para Temporada (Mary Kay Andrews)


Caso clássico de decepção literária: descobri esse livro enquanto estava procurando um chick-lit para desanuviar a mente. Como é da mesma autora de "Paixão de Primavera", que me agradou bastante na ocasião, embarquei nesse sem pensar muito. E me arrependi amargamente.

Os personagens são ruins, a escrita preguiçosa de uma forma que mal se acredita. Fiquei pasma em ver que se tratava da mesma autora. Se eu soubesse com certeza preferiria gastar meu dinheiro em ebooks da Harlequin. (sim, eu gosto.)

4 - Ísis Americana (Carl Rollyson)


Como já mencionei (ou devo ter mencionado) antes, "A Redoma de Vidro" é um dos meus livros preferidos de todos os tempos e a obra me fez ter interesse na vida da autora. A situação é realidade para a maioria dos leitores dessa obra, tanto que existe uma quantidade razoável de biografias sobre Sylvia Plath disponível no mercado literário, porém a maior parte delas é criticada pelo tratamento concedido a várias pessoas citadas. Diante disso, fiquei interessada quanto a Bertrand Brasil anunciou "Ísis Americana" no Brasil.

Resultado? Um banho de água fria em todos os sentidos com escrita tediosa e comparações forçadas com Marilyn Monroe. Sério, me cansou tanto que nem vou falar muito dele agora. Aqui no blog tem um post sobre ele, então dá uma passada lá caso queira saber mais.

3 - Conselhos Amorosos de Emily Brontë (Anne Donovan)


Sou fã dos trabalhos das irmãs Brontë e isso não é segredo para ninguém. Assim como ocorre com Jane Austen, estou sempre procurando continuações, análises, spin-offs e tudo mais relacionado a elas e claro que um título desses não seria uma exceção.

O problema? Tem muito pouco de Emily Brontë para justificar o nome presente no título da história. O que existe é um interesse da protagonista pela obra da autora, algumas cenas bem mais-ou-menos que envolvem esse gosto. Não mais. De resto temos a história de uma garota que talvez não fizesse tanta merda se tivesse passado por uma terapia de luto logo no começo do livro.

Sério, decepção total.

2 - Uma História da Terra e do Mar (Katy Simpson Smith)


Esse aqui faz parte da lista de decepções literárias de todos os tempos. Não vou me alongar muito falando a respeito dele mesmo porque já fiz isso antes. Digo apenas que o texto é bonito e só - tanto que foi a beleza do texto que me atraiu quando li a amostra do livro pela Amazon. O problema foi quando finalmente tive o livro em mãos e descobri que foi como se autora tivesse esquecido da história e preferisse se dedicar a escrever frases bonitas. O resultado é que o livro parte do nada ao lugar nenhum. Dispensável.

1 - As Senhoritas de Amsterdã (Martine Fokkens e Louise Fokkens)


Assim como o livro anterior, esse também faz parte das minhas decepções literárias para a vida. Também já falei sobre ele antes embora não tenha escrito uma resenha, então vou economizar o tempo: o livro tinha potencial, mas foi composto por histórias banais e irrelevantes. Levei quatro meses e meio para ler pouco mais de 200 páginas, o que dá um vislumbre de como foi chato. Uma péssima experiência.

E então? Como foi o 2015 de vocês na leitura? Valeu a pena? O que rolou de bom e de ruim?
Em geral eu tento passar longe de livros que tenham propósito de autoajuda, a menos que sejam sobre meditação ou assuntos relacionados. Porém, acabei abrindo uma exceção nesse caso porque esse livro foi uma sugestão da Sybylla quando ela soube que eu não estava lá com o melhor dos humores...

Mesmo não sendo a minha, eu anotei a dica. Também ignorei por um tempo (faz parte), mas acabei acatando quando entrei no modo "não tenho nada pra ler", ou seja, quando nenhum dos livros que me esperavam na lista de leitura estavam me despertando interesse. E como ler não ficção sempre me ajudou a desintoxicar a mente, pensei que talvez fosse a hora mais apropriada. 

O resultado? Fiquei arrependida por não ter começado antes:

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Sinopse:
Ao compartilhar histórias da própria vida, de amigos e das pessoas que sempre a inspiraram, Elizabeth Gilbert reflete sobre o que significa vida criativa. Segundo ela, ser criativo não é apenas se dedicar profissional ou exclusivamente às artes: uma vida criativa é aquela motivada pela curiorisade. Uma vida sem medo, um ato de coragem.

A partir de uma perspectiva única, "Grande Magia" nos mostra como abraçar essa curiosidade e nos entregar àquilo que mais amamos. Escrever um livro, encontrar novas formas de lidar com as partes mais difíceis do trabalho, embarcar de vez em um sonho sempre adiado ou simplesmente acrescentar paixão à vida cotidiana. Com profunda empatia e generosidade, Elizabeth Gilbert oferece poderosos insights sobre a misteriosa natureza da inspiração.


O livro

A obra é composta por capítulos pequenos, com relatos e insights a respeito de vida criativa. O melhor de tudo? Indo além dos clichês básicos.

Não estamos falando daquele modo de viver sem crachá e sair pelo mundo fazendo o que gosta e vivendo grandes aventuras *voz de locutor de sessão da tarde mode off*, que a internet adora e as revistas de administração também. Também não compra a velha ideia de que a arte precisa nascer impregnada de dor, sangue e sofrimento como reza a lenda dos artistas atormentados que muita gente toma como regra.

Pelo contrário: a vida criativa é aquela ao qual temos como proposta fazer aquilo que nos encanta, seja profissionalmente ou não, seja considerado arte ou não.


Avaliação:

No início a narrativa estava me irritando um pouco. Sabe quando estamos falando em pessoas excessivamente felizes e positivas, com aquele sorriso praticamente moldado na cara? Pois é, tive essa impressão quanto à autora - por mais que já tenha lido "Comer, rezar e amar" para provar o contrário. Mas essa sensação durou pouco, em especial quando o assunto começou a ficar interessante e a ideia de 'vida criativa' - por mais autoajuda que fosse - passou a ser palpável pra mim.

Prazer, dor, ego, continuidade, leveza... foi fácil enxergar a filosofia de vida que vinha de brinde. em especial a respeito do medo, do ego e de como o sofrimento não precisa ser uma regra, ao contrário da palavra de muitos ilustres. E por fim, eu que não dava nada pelo livro, acabei fazendo diversas marcações e aproveitando muito de sua mensagem.

Claro, não vou dizer que a obra me tirou dos maus momentos ou da depressão, mas posso dizer que me deu a chance de fazer alguns planos ou de encontrar formas de agir para sair de buracos emocionais. Também me deu a sensação de me permitir ficar confortável com a ideia de que ainda estou me descobrindo em vários sentidos e que essas descobertas sempre acontecerão ao longo da vida.

Quatro corujinhas com louvor.

A Menina da Neve é um livro muito sensível. Não só no tema, como no modo como os personagens interagem entre si. Além disso, o livro se passa no Alasca, nos anos 20. Um território hostil, selvagem. Quem ia para lá era praticamente um pioneiro. A gente lê e pensa: foi real ou foi tudo um sonho coletivo?

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Sinopse:
Alasca, 1920: Um lugar especialmente difícil para os recém-chegados Jack e Mabel. Sem filhos, eles estão se afastando um do outro cada vez mais ele, no duro trabalho da fazenda, ela, se perdendo na solidão e no desespero. Em um dos raros momentos juntos durante a primeira nevasca da temporada, eles fazem uma criança de neve. Na manhã seguinte, ela simplesmente desaparece.

Jack e Mabel avistam uma menina loira correndo por entre as árvores, mas a criança não é comum. Ela caça com uma raposa-vermelha ao lado e, de alguma forma, consegue sobreviver sozinha no rigoroso inverno do Alasca.


O livro

Depois de uma tragédia familiar, onde perderam seu bebê tão sonhado e tão amado, Mabel e Jack se mudam para as terras selvagens do Alasca. Queriam ficar longe de tudo, das cobranças familiares, dos dedos acusadores, de crianças correndo pela casa. Longe de qualquer coisa conhecida para começarem de novo. Mabel se sente culpada pela morte do bebê, está cada vez mais distante do marido e não podia mais suportar os mexericos da parentada que diziam que Jack devia se casar com outra, especulando qual seria o problema dela por não ter filhos.

Ela não se lembrava da última vez que ele tocara sua pele, e aquele pensamento doía como solidão em seu peito. Então ela viu alguns fios prateados em sua barba avermelhada. Quando eles apareceram? Ele também estava ficando grisalho? Os dois desaparecendo sem que nenhum notasse o outro.

O casal já não é mais jovem como antes. As rugas, as linhas de expressão, os cabelos brancos começam a surgir. Mabel sente que poderia desaparecer e ninguém notaria. Tanto que chega a patinar sobre o gelo que cobre o rio, querendo que eles se partisse para ela fosse com a água. Jack parece não perceber sua irritação, seus pesadelos. Apenas preocupa-se em preparar a terra para o plantio quando o inverno acabar, pensa em como alimentar a ele e à Mabel com nenhum dinheiro e sem mais nenhum crédito na vila.

Mabel mente para si mesma. Ela pensa que aquela é a vida que sempre quis. Jack mal consegue conviver com ela, por não concordar com o tipo de vida que levam. Mas ninguém faz nada para mudar a situação.

Uma noite, uma nevasca intensa faz com que Mabel e Jack comecem uma guerra de neve do lado de fora da cabana. Os dois rolam e brincam na neve fofa que cai e decidem fazer uma boneca. Molhados e com frio, eles começam a moldar o corpo da menininha. Com o sumo fresco de frutinhas, Mabel faz os lábios dela, enquanto Jack esculpe o rosto. Dentro da cabana, ela cata um par de luvas, um cachecol, os dois vermelhos e coloca na bonequinha de neve que toma forma.

Mas no dia seguinte, ao olhar pela janela, a bonequinha sumiu. E havia pegadas saindo do montinho de neve, rumo à floresta. O que aconteceu? O casal fica atônito, porque logo em seguida começam a ver uma menininha correndo pela floresta. Estranhas oferendas surgem na porta da cabana, como uma lebre morta.

Achei que tinha visto algo - disse Jack. - Mas eram apenas meus olhos cansados me enganando.

A menina começa a se aproximar cada vez mais. Ela parece selvagem, com galhos e folhas no cabelo embaraçado, mas parece se virar muito bem na floresta. Bem demais, melhor do que o casal, que sofre com as intempéries do Alasca. A vida dos dois muda drasticamente, pois agora ele pegam amor pela menina. Infelizmente, ninguém acredita em Mabel, como o casal vizinho que tanto os ajuda. E Jack não tem coragem de dizer que vê a menininha.


Avaliação


Título original: The Snow Child
Autora: Eowyn Ivey
Editoria: Novo Conceito
Páginas: 352

O livro é muito sensível, muito tocante na forma como trabalha solidão, casamento, relações humanas e o sobrenatural. Temos uma visão muito boa dos acontecimentos na vida e na mente dos personagens. É possível sentir muito bem toda a angústia, a tristeza, a raiva, a alegria. Existem momentos bem difíceis de ler, como a limpeza de carcaça de animais e cenas de caça, pois são passagens bem vívidas.

Não sei dizer o que pensar do final, pois tive a impressão que a autora quis que cada um pudesse pensar o que quisesse sobre a menininha, que se chama Faina. Ela era uma menina da floresta? Era um sonho? Uma fada da neve? Ela realmente existiu ou aquilo tudo foi um sonho? Chega um determinado momento que a origem da menina nem faz tanta importância, pois queremos saber se Mabel e Jack serão, finalmente felizes.

Fiquei digerindo a leitura por um tempo. Ainda não consegui chegar à uma conclusão sobre a menina. Talvez essa seja mesmo a intenção. Mas a vida das pessoas que orbitam Faina é tão interessante, que faz a gente ler o livro até o final. Quatro corujas.


"Sweet" é o terceiro volume da coleção/trilogia/sei-lá-do-que-se-trata “Contornos do Coração”. Eu nem sabia que haveria um terceiro volume, de forma que nem tenho ideia se haverá outro livro. E a verdade é que também não sei bem o que pensar do resultado final. 

Bom, voltando ao assunto: só descobri esse terceiro volume quando a Amazon colocou o ebook entre minhas recomendações de leitura. Obviamente eu quis lê-lo assim que descobri sua existência, uma vez que tive esperanças de que ele me desse algum ânimo. E não foi bem assim que as coisas aconteceram:

O livro:


Sinopse:Boyce Wynn é um cara ferido e selvagem, mas resiliente. Pearl Frank sempre foi uma garota obediente, mas agora está inquieta. Quando volta para sua cidadezinha, em crise com sua escolha profissional, Pearl tem duas certezas: Boyce é exatamente aquilo que ela deveria evitar - e tudo o que ela mais quer. Ele é rebelde e barulhento. Indiferente ao que as pessoas pensam dele. Intenso. Forte. Perigoso. Mas Boyce tem mais uma característica - algo que ele esconde de todos exceto de Pearl: ele é doce.
Neste volume da série Contornos do Coração, você vai conhecer a história de dois amigos conforme eles descobrem que sempre foram mais que isso - além de rever personagens conhecidos como Lucas e Jacqueline.

Narrado em primeira pessoa, conforme o padrão dos demais volumes, o livro conta com pontos de vista de Boyce e de Pearl. Os capítulos iniciais começam com o momento em que a vida dos personagens deu uma guinada. 

No caso de Boyce, essa guinada se dá com o falecimento do pai alcoolatra, o que representa uma libertação. Uma vez que não era uma relação de afeto e que a imagem paterna invocava lembranças de abandono e violência doméstica, o rapaz pouco tem a lamentar e seu primeiro ato ao chegar em casa é justamente queimar a poltrona que pertencia a ele. Independente e com o temperamento embrutecido desde a mais tenra idade, a liberdade não lhe traz temor, apenas o sentimento de autonomia e, finalmente, de paz. 

Já para Pearl sua guinada é finalmente ter o ímpeto de ir contra aquilo que os outros sonharam ou planejaram para ela. Seu capítulo começa com a personagem voltando para casa, ensaiando como dizer a mãe que não pretendia fazer a faculdade de medicina e sim um curso em Biologia Marinha. Ela também rememora a péssima reação que seu namorado teve ao saber da mudança de planos, mas de qualquer modo está decidida a prosseguir. Para Pearl, sempre a menina certinha, a liberdade traz um frio na espinha visto que ela nunca realmente a teve. E o único que ela sabe será capaz de compreender seus sentimentos em relação a isso é justamente Boyce, naquela amizade que construída de maneira inusitada e que evoluirá para o romance.

A história de ambos finalmente se revelando, coisas inesperadas acontecendo e também a pegação rolando solta: assim temos um new adult. Mais do que isso e eu estarei dando spoilers.

Avaliação


Entre os três livros que li de “Contornos do Coração”, “Sweet” foi o que mais me soou como uma fanfic: ou seja, como alvo de improvisos para segurar o planejamento da história. Não sei dizer se isso é uma característica da autora (não li os demais livros dela de outra séries) ou do gênero em si. Digo isso tendo em vista a forma como a história se desenvolve e como muitas vezes tendemos a ignorar visto que muitas vezes a história é interessante o bastante para deixar o resto de lado. O livro tem essa pegada do improviso, mas não me cativou o bastante dessa vez.

Gostei dos personagens e da forma como eles se relacionam uma vez que a amizade (a normal e a colorida) estava solidificada. O entrosamento foi interessante, mas a forma como foi construído após a primeira cena, ou seja, o seu desenvolvimento acabou me soando forçado. Já a construção do irmão mais velho de Boyce soou como um clichê ambulante de new adult e também das fanfics, em especial dentro da relação com a tatuadora (da qual me esqueci o nome), mas enfim, ele não era o protagonista, então deixei de lado com gosto mesmo que seu papel fosse fundamental para a formação do protagonista. E então também houve uma revelação a respeito das origens de Pearl que me fez perder as esperanças de tão desnecessária que soou. Uma improvisação desmedida.



Em “Sweet”, Tamara Webber continuou utilizando os relacionamentos abusivos como parte do fio condutor das histórias de ‘Contornos do Coração’. A novidade ficou por conta dos personagens novos, ligados aos protagonistas anteriores mas não com o mesmo foco. O abuso surgiu de ambos os lados: o cotidiano da violência doméstica, como era o caso da família de Boyce, e os indícios de um relacionamento no mínimo estranho entre Pearl e seu ex, do qual temos poucos sinais em primeiros momentos. Dois diferentes focos a explorar e que, de quebra, em uma das ocasiões remonta a “Easy”. 

São pontos de interesse muito fortes, mas não necessariamente bem aplicados e bem sucedidos em todas as etapas: não consegui entender a motivação dos comportamentos iniciais do ex da protagonista. Isso soou totalmente WTF pra mim, mesmo que o personagem tenha alguma função lá depois da segunda metade da história. Porque até mesmo o sentimento de posse da parte agressora de uma relação abusiva tem algum nexo ou lógica mesmo que fizesse sentido apenas para ele, o que não ocorreu em nenhum momento. Não houve nenhum vislumbre, nada, nadinha, necas, nothing, e isso foi frustrante.

Ainda dentro do quesito ‘relacionamentos abusivos’ a construção da família de Boyce soou interessante. Tive empatia por ele, em especial quando sua mãe (ou projeto de mãe) surgiu. Soou terrivelmente verdadeiro a forma como ela – fugindo da violência doméstica e deixando tudo, até os filhos  - para trás, entrou justamente em outro relacionamento marcado pelo abuso e até passou a crer naquilo como uma forma de superproteção e carinho por parte do parceiro, mesmo que a verdade sobre aquilo estivesse quase gritando na cara dos personagens e do leitor. Foi algo bem explorado, mas esse padrão não continuou: Desandou especialmente em outro momento importante quando Pearl chamou a polícia após o ex invadir sua casa e o xerife simplesmente queria deixar o assunto de lado, considerando de menor importância:

“— Olha só, essas coisas acontecem o tempo todo entre os jovens. Garotos com testosterona demais e garotas bonitas que gostam de um draminha... até que a coisa foge do controle.
Fechei as mãos sobre minhas pernas.
— Nós terminamos há meses, e eu não gosto de drama.
Ele levantou as sobrancelhas despenteadas e sorriu com ar experiente, como se dissesse: “É claro que não, mas está aqui”

Eu realmente queria que essa cena tivesse sido melhor explorada, mas não. Não foi. Isso me decepcionou bastante. Acabamos passando para a cena do heroísmo do macho man protagonista de new adult/fanfic e ponto. O pior que nem essa cena de perigo macho style rendeu alguma coisa. Sério que deixaram algo com potencial de lado pra isso??? #facepalm



Vale destacar também que, como normal do new adult, a pegação e o sexo tiveram a sua vez e surgiram com frequência, o que não acontecia tanto nos volumes anteriores por razões óbvias. Devo dizer que também prefiro os anteriores nesse quesito, uma vez que – já devo ter mencionado – não sou muito chegada a cenas eróticas em livros e fanfics, então ignorei solenemente. Era um recurso importante para a história – visto que era um casal sadio e sem problemas nesse quesito, além disso ainda aumenta o número de páginas do livro, mas acabei praticando a famosa leitura dinâmica. 

Em um balanço a respeito do livro, gostei da ideia de abordar Boyce e Pearl. Os dois são bastante carismáticos, em especial Pearl com seus dilemas e uma ideia de rebeldia que no fundo era por algo tão pequeno. O casal é interessante e renderia uma boa história mas o desenvolvimento não me convenceu. Excesso de improviso.

Não tenho ideia se haverá um quarto livro para ‘Contornos do Coração’, mas se houver provavelmente continuarei lendo, mesmo com a decepção nesse terceiro volume. A escrita da autora e também o fato de abordar a violência e o abuso nos relacionamentos para um público jovem sempre me despertarão o interesse e a curiosidade, já que a romantização dos abusos começa bem cedo e a contracorrente começou a ter expressão apenas recentemente. Fico feliz em ver temas assim sendo abordados uma vez que a ficção acaba sendo a melhor fonte de informação nesse sentido.

Três corujinhas, acho que está de bom tamanho:


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Amor pelos livros, admiração pela cultura inútil e tendências ao burnout.

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