Creio que não deva ser uma novidade o fato de que eu gosto de literatura sobre mulheres. Que fique claro que isso não é o mesmo que literatura feminina, ou chick-lits (embora eu também goste). Estou falando em livros que contem a história de mulheres, especialmente as que vivem em lugares inóspitos ou enfrentam desafios quase inimagináveis para seguir a vida cotidiana. De livros que falam sobre pessoas como Malala Yousafzai e Ayaan Hirsi Ali e de outras mulheres que não necessariamente sejam famosas, mas ainda assim admiráveis. Portanto, não deve ser exatamente uma surpresa o meu gosto pelos livros de Xinran.
Xinran é uma jornalista chinesa. Não escreveu nenhum bestseller com expressão no Brasil, mas me lembro que desde o dia em que vi uma notinha em uma sessão de literatura de uma revista feminina, fiquei com um dos seus livros em mente e uma vontade imensa de ler. Este livro era "As Boas Mulheres da China", que retrata as histórias que Xinran tomou conhecimento enquanto foi a apresentadora do programa de rádio "Palavras na brisa noturna", entre 1989 e 1997. Histórias de mulheres que há muito suportavam o preconceito e a humilhação por sua condição feminina. Este foi o primeiro livro que li inteiramente usando o computador (sim, eu fiz essa cagada) e o comprei assim que pude. Nunca consegui tirar as histórias de minha mente.
Mais tarde, adquiri o ebook de "Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida", que fala sobre as mulheres que não puderam vivenciar a maternidade por terem tidos bebê do sexo feminino onde, por força de tradição e também política, apenas os filhos homens são valorizados. Uma obra que faria muito marmanjo cair no choro, de verdade. Um livro que entrou para minha lista de preferidos e ao qual não descansei até comprar o impresso. E nesta mesma leva, comprei "As filhas sem nome", que também era algo que queria ler há muito tempo, mas o dinheiro era curto para comprar.
Enfim: confira:
Título: As filhas sem nome
Autora: Xinran
Editora: Companhia das Letras - 296 páginas
Sou uma moça do interior, por favor, seja gentil e cuide de mim." Era assim que Três, Cinco e Seis se apresentavam na cidade grande. Nascidas em uma pequena aldeia chinesa, as filhas do camponês Li Zhongguo haviam se mudado para Nanjing em busca de oportunidades.
Vencendo o ceticismo do pai, um homem desgostoso por ter apenas filhas mulheres e que, por isso, jamais lhes deu um nome verdadeiro, elas escapam ao destino de subserviência e ignorância a que estavam fadadas. Na cidade, as jovens descobrem seu lugar no mundo, mas não abandonam o afeto e o respeito pelo lugar de origem.
Baseado em histórias colhidas por Xinran durante as pesquisas para seu programa de rádio, o romance aborda com delicadeza as tradições, sem deixar de lado as denúncias do medo e da ignorância herdados de uma ditadura longa e violenta.
Lendo este livro, fui capaz de encontrar uma realidade mais simples de se lidar emocionalmente. Talvez porque já tivesse lido dois livros anteriores e totalmente baseado em histórias verdadeiras. Não que "As Filhas Sem Nome" não seja baseado em fatos reais, mas ainda assim, trata-se de um romance. As dificuldades que as meninas passam, por maiores que sejam, ainda não chegou tão perto da realidade nua e crua dos outros livros, do peso de ser uma mulher em lugares onde são como objetos inanimados, ou tem como única serventia fazer os serviços domésticos e reproduzir, desde que tenha o filho homem. Afinal, uma mulher que só dê a luz à "palitinhos" e não a "cumeeira" não tem utilidade ou "pelo que" viver. Aliás, falando em dificuldades, eu esperei bem mais nesse sentido, mas talvez o peso que as personagens suportam ao longo do livro devido à vida do campo não comportasse espaço para outras possíveis humilhações.
O final do livro, ao contrário do que outros leitores mencionaram, não me decepcionou embora tivesse logicamente despertado curiosidade. Já que as personagens são baseadas em histórias reais, é claro que quereríamos saber do futuro de cada uma delas, o que não foi tão possível devido ao fato de a autora ter perdido o contato com as musas inspiradoras. Minha empatia foi despertada por Cinco, talvez ainda por me lembrar algumas histórias de "As boas mulheres da China". Não sei dizer.< Embora tenha esperado mais dele, gostei muito de "As filhas sem nome".
Embora seja um relato ficcional, é um retrato bastante vivo das mulheres da China rural e de tudo que as oprime. Recomendo com três corujas, já que como não foi meu primeiro livro da autora, acabei reconhecendo parte dos relatos e perdendo a sensação de surpresa diante dos acontecimentos.
1 comentários
Ual amei a resenha! Estou lendo esse livro pela 2° vez! Ele é muito interessante ! A história elaborada pela autora Xinran para retratar a realidade que muitas mulheres chinesas passam!
ResponderExcluirChu ~♥
delicadakpopper.blogspot.com
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