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A Garota da Biblioteca

Final de ano normalmente é uma época de balanço: tempos nos quais pensamos e relembramos aquilo que aconteceu no decorrer dos 365 dias anteriores e fazemos novos planos para os dias que estão por vir. E claro que a retrospectiva é uma tradição e por aqui não seria diferente.

O ano de 2015 não foi tão interessante para as leituras. A lista de decepções literárias teve mais posições disputadas que a lista dos melhores livros. Também fiquei bem longe de ler o quanto queria ou ao menos de chegar perto da quantidade de leituras de 2014, mas esse não é o ponto. De qualquer modo, foi um ano com boas surpresas na literatura, embora eu também tenha perdido tempo com livros que deveria ter jogado na janela logo na primeira página e não tenha resenhado nem metade do que li (desculpa).

Enfim, vamos lá:

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As 5 melhores leituras de 2015:

Vamos começar com os melhores do ano que é o equivalente a começar com o pé direito. Afinal ninguém quer começar com má notícia.

5 - Acredite. estou mentindo (Ryan Holiday)


Quando li esse livro, notei que ele obrigatoriamente teria de estar presente em qualquer retrospectiva que eu fizesse sobre 2015. Em especial porque meu trabalho em si lida muito com percepções de mídia e, consequentemente, sua manipulação. Um tema e tanto nesses tempos de redes sociais.

Embora eu tenha gostado da proposta, minha reação diante do livro foi dúbia, já que também não gostei de muitos aspectos dele como foi o caso da tradução (que mais parecia resultado do Google Traslate do que de um humano) e da falta de preocupação da editora com a inserção de notas de rodapé (muito útil, em especial quando falam sobre marcas que não faz parte do conhecimento habitual do brasileiro). Ainda assim, o resultado final foi positivo.

A obra é esclarecedora em diversos sentidos e principalmente nesses dias em que grande parte da guerra política acontecendo hoje tem as redes sociais e os sites de notícia como ringue. Leitura obrigatória.

4 - Livre (Cheryl Strayed)


Quando li este livro também senti que ele deveria estar presente na retrospectiva. É uma leitura super envolvente tanto em seu drama quanto em sua graça. Para rir e chorar acompanhando a narrativa e também pra passar muito tempo pensando nele depois de terminá-lo. A jornada de Cheryl me acompanhou por vários dias após o fim.

Interessou? A Sybylla fez resenha dele. Corre lá!  

3 - O Círculo (Dave Eggers)


Li "O Círculo" por uma forte sugestão (quase um gancho de esquerda) da Sybylla, e essa também é outra leitura da qual não me arrependo. Devo dizer que é um livro super necessário para os dias de hoje: não por ser uma 'literatura séria', mas pela amplitude de sua temática e também pelos rumos que a história toma.

Não vou entrar em detalhes nesse post mesmo porque já escrevi uma resenha a respeito do livro, mas devo dizer que, apesar de uma narrativa na qual é bem fácil encontrar defeitos e também da facilidade em desgostar da protagonista (culpada!), "O Círculo" fornece um panorama bem alarmante do que pode estar a caminho e de como aceitamos tudo facilmente, mesmo aquilo que surge no livro como o mal óbvio que todos os leitores enxergam como tal. Infelizmente no mundo real habita uma espécie de cegueira...

Quer saber mais? Então dá uma olhada na resenha.

2 - A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário (Denis Thériault)


Esse livro foi uma tremenda surpresa pra mim. Não foi recomendação de ninguém, nem uma leitura que pensei por força de profissão, mas sim um livro que escolhi em todos os sentidos. Ou ele me escolheu, vai saber?

É uma obra curta, com pouco mais de 120 páginas mas que me deu um sabor de nostalgia pelas cartas (o Temer deve ser lido isso também...), de empatia por Bilodo (mesmo sendo um stalker) e também  um misto de sensações frente o deslumbramento do protagonista pelos haicais escritos por Ségolène. Também gostei do realismo fantástico daquele jeito Murakami de ser e que acabou surgindo de surpresa. Aliás, esse elemento acabou pegando muita gente desprevenida e despertou reações dúbias entre os leitores já que li algumas resenhas de gente que acabou frustrada pelo uso do artifício.No meu caso eu gostei, embora pense que a inserção desses recursos poderia ter começado páginas antes.

Seja como for, vale muito a leitura! #quentinhonocoração

1 - Kafka à Beira Mar (Haruki Murakami)


Óbvio que um livro dele estaria na minha lista de melhores do ano, e em 2015 foi "Kafka à Beira Mar" quem ganhou a posição. Melhor ainda, ocupando o lugar mais alto do pódio.

A verdade é que não sei dizer com certeza o que me conquistou além da escrita em si. Talvez meus surtos de empatia pelo Nakata (um personagem incrível), ou pela coragem da jornada do próprio protagonista sem nome. Simplesmente não sei dizer. Nunca consegui resenhar algo escrito por Murakami sem me sentir burra diante de tantas metáforas e referências, mas no fim posso dizer que esse livro passou muito tempo em meus pensamentos depois que cheguei a última página. Puro amor. Junto com "Norwegian Wood" sem dúvida "Kafka a Beira Mar" é o meu preferido do autor.

Os 5 piores livros de 2015 (ou "minhas 5 decepções literárias)


Agora é o momento das más notícias. Como mencionei antes, 2015 foi cheio das decepções literárias de modo que o top 5 foi bem mais difícil de formar que o de boas leituras, mas tudo bem. Vamos lá:

5 - Aluga-se para Temporada (Mary Kay Andrews)


Caso clássico de decepção literária: descobri esse livro enquanto estava procurando um chick-lit para desanuviar a mente. Como é da mesma autora de "Paixão de Primavera", que me agradou bastante na ocasião, embarquei nesse sem pensar muito. E me arrependi amargamente.

Os personagens são ruins, a escrita preguiçosa de uma forma que mal se acredita. Fiquei pasma em ver que se tratava da mesma autora. Se eu soubesse com certeza preferiria gastar meu dinheiro em ebooks da Harlequin. (sim, eu gosto.)

4 - Ísis Americana (Carl Rollyson)


Como já mencionei (ou devo ter mencionado) antes, "A Redoma de Vidro" é um dos meus livros preferidos de todos os tempos e a obra me fez ter interesse na vida da autora. A situação é realidade para a maioria dos leitores dessa obra, tanto que existe uma quantidade razoável de biografias sobre Sylvia Plath disponível no mercado literário, porém a maior parte delas é criticada pelo tratamento concedido a várias pessoas citadas. Diante disso, fiquei interessada quanto a Bertrand Brasil anunciou "Ísis Americana" no Brasil.

Resultado? Um banho de água fria em todos os sentidos com escrita tediosa e comparações forçadas com Marilyn Monroe. Sério, me cansou tanto que nem vou falar muito dele agora. Aqui no blog tem um post sobre ele, então dá uma passada lá caso queira saber mais.

3 - Conselhos Amorosos de Emily Brontë (Anne Donovan)


Sou fã dos trabalhos das irmãs Brontë e isso não é segredo para ninguém. Assim como ocorre com Jane Austen, estou sempre procurando continuações, análises, spin-offs e tudo mais relacionado a elas e claro que um título desses não seria uma exceção.

O problema? Tem muito pouco de Emily Brontë para justificar o nome presente no título da história. O que existe é um interesse da protagonista pela obra da autora, algumas cenas bem mais-ou-menos que envolvem esse gosto. Não mais. De resto temos a história de uma garota que talvez não fizesse tanta merda se tivesse passado por uma terapia de luto logo no começo do livro.

Sério, decepção total.

2 - Uma História da Terra e do Mar (Katy Simpson Smith)


Esse aqui faz parte da lista de decepções literárias de todos os tempos. Não vou me alongar muito falando a respeito dele mesmo porque já fiz isso antes. Digo apenas que o texto é bonito e só - tanto que foi a beleza do texto que me atraiu quando li a amostra do livro pela Amazon. O problema foi quando finalmente tive o livro em mãos e descobri que foi como se autora tivesse esquecido da história e preferisse se dedicar a escrever frases bonitas. O resultado é que o livro parte do nada ao lugar nenhum. Dispensável.

1 - As Senhoritas de Amsterdã (Martine Fokkens e Louise Fokkens)


Assim como o livro anterior, esse também faz parte das minhas decepções literárias para a vida. Também já falei sobre ele antes embora não tenha escrito uma resenha, então vou economizar o tempo: o livro tinha potencial, mas foi composto por histórias banais e irrelevantes. Levei quatro meses e meio para ler pouco mais de 200 páginas, o que dá um vislumbre de como foi chato. Uma péssima experiência.

E então? Como foi o 2015 de vocês na leitura? Valeu a pena? O que rolou de bom e de ruim?
Em geral eu tento passar longe de livros que tenham propósito de autoajuda, a menos que sejam sobre meditação ou assuntos relacionados. Porém, acabei abrindo uma exceção nesse caso porque esse livro foi uma sugestão da Sybylla quando ela soube que eu não estava lá com o melhor dos humores...

Mesmo não sendo a minha, eu anotei a dica. Também ignorei por um tempo (faz parte), mas acabei acatando quando entrei no modo "não tenho nada pra ler", ou seja, quando nenhum dos livros que me esperavam na lista de leitura estavam me despertando interesse. E como ler não ficção sempre me ajudou a desintoxicar a mente, pensei que talvez fosse a hora mais apropriada. 

O resultado? Fiquei arrependida por não ter começado antes:

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Sinopse:
Ao compartilhar histórias da própria vida, de amigos e das pessoas que sempre a inspiraram, Elizabeth Gilbert reflete sobre o que significa vida criativa. Segundo ela, ser criativo não é apenas se dedicar profissional ou exclusivamente às artes: uma vida criativa é aquela motivada pela curiorisade. Uma vida sem medo, um ato de coragem.

A partir de uma perspectiva única, "Grande Magia" nos mostra como abraçar essa curiosidade e nos entregar àquilo que mais amamos. Escrever um livro, encontrar novas formas de lidar com as partes mais difíceis do trabalho, embarcar de vez em um sonho sempre adiado ou simplesmente acrescentar paixão à vida cotidiana. Com profunda empatia e generosidade, Elizabeth Gilbert oferece poderosos insights sobre a misteriosa natureza da inspiração.


O livro

A obra é composta por capítulos pequenos, com relatos e insights a respeito de vida criativa. O melhor de tudo? Indo além dos clichês básicos.

Não estamos falando daquele modo de viver sem crachá e sair pelo mundo fazendo o que gosta e vivendo grandes aventuras *voz de locutor de sessão da tarde mode off*, que a internet adora e as revistas de administração também. Também não compra a velha ideia de que a arte precisa nascer impregnada de dor, sangue e sofrimento como reza a lenda dos artistas atormentados que muita gente toma como regra.

Pelo contrário: a vida criativa é aquela ao qual temos como proposta fazer aquilo que nos encanta, seja profissionalmente ou não, seja considerado arte ou não.


Avaliação:

No início a narrativa estava me irritando um pouco. Sabe quando estamos falando em pessoas excessivamente felizes e positivas, com aquele sorriso praticamente moldado na cara? Pois é, tive essa impressão quanto à autora - por mais que já tenha lido "Comer, rezar e amar" para provar o contrário. Mas essa sensação durou pouco, em especial quando o assunto começou a ficar interessante e a ideia de 'vida criativa' - por mais autoajuda que fosse - passou a ser palpável pra mim.

Prazer, dor, ego, continuidade, leveza... foi fácil enxergar a filosofia de vida que vinha de brinde. em especial a respeito do medo, do ego e de como o sofrimento não precisa ser uma regra, ao contrário da palavra de muitos ilustres. E por fim, eu que não dava nada pelo livro, acabei fazendo diversas marcações e aproveitando muito de sua mensagem.

Claro, não vou dizer que a obra me tirou dos maus momentos ou da depressão, mas posso dizer que me deu a chance de fazer alguns planos ou de encontrar formas de agir para sair de buracos emocionais. Também me deu a sensação de me permitir ficar confortável com a ideia de que ainda estou me descobrindo em vários sentidos e que essas descobertas sempre acontecerão ao longo da vida.

Quatro corujinhas com louvor.

A Menina da Neve é um livro muito sensível. Não só no tema, como no modo como os personagens interagem entre si. Além disso, o livro se passa no Alasca, nos anos 20. Um território hostil, selvagem. Quem ia para lá era praticamente um pioneiro. A gente lê e pensa: foi real ou foi tudo um sonho coletivo?

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Sinopse:
Alasca, 1920: Um lugar especialmente difícil para os recém-chegados Jack e Mabel. Sem filhos, eles estão se afastando um do outro cada vez mais ele, no duro trabalho da fazenda, ela, se perdendo na solidão e no desespero. Em um dos raros momentos juntos durante a primeira nevasca da temporada, eles fazem uma criança de neve. Na manhã seguinte, ela simplesmente desaparece.

Jack e Mabel avistam uma menina loira correndo por entre as árvores, mas a criança não é comum. Ela caça com uma raposa-vermelha ao lado e, de alguma forma, consegue sobreviver sozinha no rigoroso inverno do Alasca.


O livro

Depois de uma tragédia familiar, onde perderam seu bebê tão sonhado e tão amado, Mabel e Jack se mudam para as terras selvagens do Alasca. Queriam ficar longe de tudo, das cobranças familiares, dos dedos acusadores, de crianças correndo pela casa. Longe de qualquer coisa conhecida para começarem de novo. Mabel se sente culpada pela morte do bebê, está cada vez mais distante do marido e não podia mais suportar os mexericos da parentada que diziam que Jack devia se casar com outra, especulando qual seria o problema dela por não ter filhos.

Ela não se lembrava da última vez que ele tocara sua pele, e aquele pensamento doía como solidão em seu peito. Então ela viu alguns fios prateados em sua barba avermelhada. Quando eles apareceram? Ele também estava ficando grisalho? Os dois desaparecendo sem que nenhum notasse o outro.

O casal já não é mais jovem como antes. As rugas, as linhas de expressão, os cabelos brancos começam a surgir. Mabel sente que poderia desaparecer e ninguém notaria. Tanto que chega a patinar sobre o gelo que cobre o rio, querendo que eles se partisse para ela fosse com a água. Jack parece não perceber sua irritação, seus pesadelos. Apenas preocupa-se em preparar a terra para o plantio quando o inverno acabar, pensa em como alimentar a ele e à Mabel com nenhum dinheiro e sem mais nenhum crédito na vila.

Mabel mente para si mesma. Ela pensa que aquela é a vida que sempre quis. Jack mal consegue conviver com ela, por não concordar com o tipo de vida que levam. Mas ninguém faz nada para mudar a situação.

Uma noite, uma nevasca intensa faz com que Mabel e Jack comecem uma guerra de neve do lado de fora da cabana. Os dois rolam e brincam na neve fofa que cai e decidem fazer uma boneca. Molhados e com frio, eles começam a moldar o corpo da menininha. Com o sumo fresco de frutinhas, Mabel faz os lábios dela, enquanto Jack esculpe o rosto. Dentro da cabana, ela cata um par de luvas, um cachecol, os dois vermelhos e coloca na bonequinha de neve que toma forma.

Mas no dia seguinte, ao olhar pela janela, a bonequinha sumiu. E havia pegadas saindo do montinho de neve, rumo à floresta. O que aconteceu? O casal fica atônito, porque logo em seguida começam a ver uma menininha correndo pela floresta. Estranhas oferendas surgem na porta da cabana, como uma lebre morta.

Achei que tinha visto algo - disse Jack. - Mas eram apenas meus olhos cansados me enganando.

A menina começa a se aproximar cada vez mais. Ela parece selvagem, com galhos e folhas no cabelo embaraçado, mas parece se virar muito bem na floresta. Bem demais, melhor do que o casal, que sofre com as intempéries do Alasca. A vida dos dois muda drasticamente, pois agora ele pegam amor pela menina. Infelizmente, ninguém acredita em Mabel, como o casal vizinho que tanto os ajuda. E Jack não tem coragem de dizer que vê a menininha.


Avaliação


Título original: The Snow Child
Autora: Eowyn Ivey
Editoria: Novo Conceito
Páginas: 352

O livro é muito sensível, muito tocante na forma como trabalha solidão, casamento, relações humanas e o sobrenatural. Temos uma visão muito boa dos acontecimentos na vida e na mente dos personagens. É possível sentir muito bem toda a angústia, a tristeza, a raiva, a alegria. Existem momentos bem difíceis de ler, como a limpeza de carcaça de animais e cenas de caça, pois são passagens bem vívidas.

Não sei dizer o que pensar do final, pois tive a impressão que a autora quis que cada um pudesse pensar o que quisesse sobre a menininha, que se chama Faina. Ela era uma menina da floresta? Era um sonho? Uma fada da neve? Ela realmente existiu ou aquilo tudo foi um sonho? Chega um determinado momento que a origem da menina nem faz tanta importância, pois queremos saber se Mabel e Jack serão, finalmente felizes.

Fiquei digerindo a leitura por um tempo. Ainda não consegui chegar à uma conclusão sobre a menina. Talvez essa seja mesmo a intenção. Mas a vida das pessoas que orbitam Faina é tão interessante, que faz a gente ler o livro até o final. Quatro corujas.


"Sweet" é o terceiro volume da coleção/trilogia/sei-lá-do-que-se-trata “Contornos do Coração”. Eu nem sabia que haveria um terceiro volume, de forma que nem tenho ideia se haverá outro livro. E a verdade é que também não sei bem o que pensar do resultado final. 

Bom, voltando ao assunto: só descobri esse terceiro volume quando a Amazon colocou o ebook entre minhas recomendações de leitura. Obviamente eu quis lê-lo assim que descobri sua existência, uma vez que tive esperanças de que ele me desse algum ânimo. E não foi bem assim que as coisas aconteceram:

O livro:


Sinopse:Boyce Wynn é um cara ferido e selvagem, mas resiliente. Pearl Frank sempre foi uma garota obediente, mas agora está inquieta. Quando volta para sua cidadezinha, em crise com sua escolha profissional, Pearl tem duas certezas: Boyce é exatamente aquilo que ela deveria evitar - e tudo o que ela mais quer. Ele é rebelde e barulhento. Indiferente ao que as pessoas pensam dele. Intenso. Forte. Perigoso. Mas Boyce tem mais uma característica - algo que ele esconde de todos exceto de Pearl: ele é doce.
Neste volume da série Contornos do Coração, você vai conhecer a história de dois amigos conforme eles descobrem que sempre foram mais que isso - além de rever personagens conhecidos como Lucas e Jacqueline.

Narrado em primeira pessoa, conforme o padrão dos demais volumes, o livro conta com pontos de vista de Boyce e de Pearl. Os capítulos iniciais começam com o momento em que a vida dos personagens deu uma guinada. 

No caso de Boyce, essa guinada se dá com o falecimento do pai alcoolatra, o que representa uma libertação. Uma vez que não era uma relação de afeto e que a imagem paterna invocava lembranças de abandono e violência doméstica, o rapaz pouco tem a lamentar e seu primeiro ato ao chegar em casa é justamente queimar a poltrona que pertencia a ele. Independente e com o temperamento embrutecido desde a mais tenra idade, a liberdade não lhe traz temor, apenas o sentimento de autonomia e, finalmente, de paz. 

Já para Pearl sua guinada é finalmente ter o ímpeto de ir contra aquilo que os outros sonharam ou planejaram para ela. Seu capítulo começa com a personagem voltando para casa, ensaiando como dizer a mãe que não pretendia fazer a faculdade de medicina e sim um curso em Biologia Marinha. Ela também rememora a péssima reação que seu namorado teve ao saber da mudança de planos, mas de qualquer modo está decidida a prosseguir. Para Pearl, sempre a menina certinha, a liberdade traz um frio na espinha visto que ela nunca realmente a teve. E o único que ela sabe será capaz de compreender seus sentimentos em relação a isso é justamente Boyce, naquela amizade que construída de maneira inusitada e que evoluirá para o romance.

A história de ambos finalmente se revelando, coisas inesperadas acontecendo e também a pegação rolando solta: assim temos um new adult. Mais do que isso e eu estarei dando spoilers.

Avaliação


Entre os três livros que li de “Contornos do Coração”, “Sweet” foi o que mais me soou como uma fanfic: ou seja, como alvo de improvisos para segurar o planejamento da história. Não sei dizer se isso é uma característica da autora (não li os demais livros dela de outra séries) ou do gênero em si. Digo isso tendo em vista a forma como a história se desenvolve e como muitas vezes tendemos a ignorar visto que muitas vezes a história é interessante o bastante para deixar o resto de lado. O livro tem essa pegada do improviso, mas não me cativou o bastante dessa vez.

Gostei dos personagens e da forma como eles se relacionam uma vez que a amizade (a normal e a colorida) estava solidificada. O entrosamento foi interessante, mas a forma como foi construído após a primeira cena, ou seja, o seu desenvolvimento acabou me soando forçado. Já a construção do irmão mais velho de Boyce soou como um clichê ambulante de new adult e também das fanfics, em especial dentro da relação com a tatuadora (da qual me esqueci o nome), mas enfim, ele não era o protagonista, então deixei de lado com gosto mesmo que seu papel fosse fundamental para a formação do protagonista. E então também houve uma revelação a respeito das origens de Pearl que me fez perder as esperanças de tão desnecessária que soou. Uma improvisação desmedida.



Em “Sweet”, Tamara Webber continuou utilizando os relacionamentos abusivos como parte do fio condutor das histórias de ‘Contornos do Coração’. A novidade ficou por conta dos personagens novos, ligados aos protagonistas anteriores mas não com o mesmo foco. O abuso surgiu de ambos os lados: o cotidiano da violência doméstica, como era o caso da família de Boyce, e os indícios de um relacionamento no mínimo estranho entre Pearl e seu ex, do qual temos poucos sinais em primeiros momentos. Dois diferentes focos a explorar e que, de quebra, em uma das ocasiões remonta a “Easy”. 

São pontos de interesse muito fortes, mas não necessariamente bem aplicados e bem sucedidos em todas as etapas: não consegui entender a motivação dos comportamentos iniciais do ex da protagonista. Isso soou totalmente WTF pra mim, mesmo que o personagem tenha alguma função lá depois da segunda metade da história. Porque até mesmo o sentimento de posse da parte agressora de uma relação abusiva tem algum nexo ou lógica mesmo que fizesse sentido apenas para ele, o que não ocorreu em nenhum momento. Não houve nenhum vislumbre, nada, nadinha, necas, nothing, e isso foi frustrante.

Ainda dentro do quesito ‘relacionamentos abusivos’ a construção da família de Boyce soou interessante. Tive empatia por ele, em especial quando sua mãe (ou projeto de mãe) surgiu. Soou terrivelmente verdadeiro a forma como ela – fugindo da violência doméstica e deixando tudo, até os filhos  - para trás, entrou justamente em outro relacionamento marcado pelo abuso e até passou a crer naquilo como uma forma de superproteção e carinho por parte do parceiro, mesmo que a verdade sobre aquilo estivesse quase gritando na cara dos personagens e do leitor. Foi algo bem explorado, mas esse padrão não continuou: Desandou especialmente em outro momento importante quando Pearl chamou a polícia após o ex invadir sua casa e o xerife simplesmente queria deixar o assunto de lado, considerando de menor importância:

“— Olha só, essas coisas acontecem o tempo todo entre os jovens. Garotos com testosterona demais e garotas bonitas que gostam de um draminha... até que a coisa foge do controle.
Fechei as mãos sobre minhas pernas.
— Nós terminamos há meses, e eu não gosto de drama.
Ele levantou as sobrancelhas despenteadas e sorriu com ar experiente, como se dissesse: “É claro que não, mas está aqui”

Eu realmente queria que essa cena tivesse sido melhor explorada, mas não. Não foi. Isso me decepcionou bastante. Acabamos passando para a cena do heroísmo do macho man protagonista de new adult/fanfic e ponto. O pior que nem essa cena de perigo macho style rendeu alguma coisa. Sério que deixaram algo com potencial de lado pra isso??? #facepalm



Vale destacar também que, como normal do new adult, a pegação e o sexo tiveram a sua vez e surgiram com frequência, o que não acontecia tanto nos volumes anteriores por razões óbvias. Devo dizer que também prefiro os anteriores nesse quesito, uma vez que – já devo ter mencionado – não sou muito chegada a cenas eróticas em livros e fanfics, então ignorei solenemente. Era um recurso importante para a história – visto que era um casal sadio e sem problemas nesse quesito, além disso ainda aumenta o número de páginas do livro, mas acabei praticando a famosa leitura dinâmica. 

Em um balanço a respeito do livro, gostei da ideia de abordar Boyce e Pearl. Os dois são bastante carismáticos, em especial Pearl com seus dilemas e uma ideia de rebeldia que no fundo era por algo tão pequeno. O casal é interessante e renderia uma boa história mas o desenvolvimento não me convenceu. Excesso de improviso.

Não tenho ideia se haverá um quarto livro para ‘Contornos do Coração’, mas se houver provavelmente continuarei lendo, mesmo com a decepção nesse terceiro volume. A escrita da autora e também o fato de abordar a violência e o abuso nos relacionamentos para um público jovem sempre me despertarão o interesse e a curiosidade, já que a romantização dos abusos começa bem cedo e a contracorrente começou a ter expressão apenas recentemente. Fico feliz em ver temas assim sendo abordados uma vez que a ficção acaba sendo a melhor fonte de informação nesse sentido.

Três corujinhas, acho que está de bom tamanho:


Sou muito fã da trilogia Millenium e lamentei muito a morte de Stieg Larsson porque isso também significava o fim da revista Millenium e de Lisbeth Salander. Mas aí eis que surge a novidade: um novo volume estava chegando pela mão de outro autor. David Lagercrantz foi escolhido pelo pai e pelo irmão de Stieg Larsson, herdeiros do escritor. Mas ouso dizer que foi uma péssima escolha.


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Sinopse:
Uma muralha virtual impenetrável: é assim que se pode definir a rede da NSA, a temida agência de segurança americana. Quando a mensagem “Você foi invadido” piscou na tela de Ed Needham, responsável pelos computadores que guardam alguns dos maiores segredos do mundo, ele custou a acreditar. A tentativa de localizar o criminoso também não trazia frutos, as pistas não levavam a lugar nenhum, cada indício terminava num beco sem saída. Que hacker seria capaz de algo assim?


O livro

Mikael Blomkvist está irritado com a situação financeira da revista Millenium. A revista corre um risco de mudar de estilo, pode mandar gente embora e um invejoso da fama de Mikael está no comando da mudança. Ele não quer isso. Mas surge uma oportunidade de um furo, algo a respeito de um cientista brilhante da Suécia que vive isolado e enclausurado, com medo de alguma coisa.

Este mesmo cientista da área da computação, Frans Balder, bate à porta da casa da ex-esposa e leva consigo o filho autista, um savant, considerado um distúrbio psíquico com o qual a pessoa possui uma grande habilidade intelectual aliada a um déficit de inteligência. O menino tem uma habilidade ímpar para o desenho e para a matemática avançada, o que surpreende o pai. O garoto terá pela frente um desafio imenso, inclusive trabalhando junto de Lisbeth.

Enquanto isso, um hacker consegue invadir a famosa NSA, Agência de Segurança Nacional, dos Estados Unidos, algo que julgavam ser impossível. As repercussões da invasão chegam até a Säpo, o serviço de segurança nacional da Suécia que, entre outras coisas, está preocupado com a segurança do professor Balder, que parece não dar muita importância ao aviso de que sua vida corre risco.

Lisbeth, enquanto isso, está sumida. Mas Mikael, ao conversar com uma fonte, que lhe conta a respeito do professor Balder e do que aconteceu a ele, percebe que ela pode estar envolvida no caso. A descrição bate com a figura de Lisbeth, de quem Mikael não tem notícias há um bom tempo. Teria ela sido tão imprudente a ponto de invadir a NSA e de lá baixar um arquivo? Ela teria condições de fazer isso, um feito que tantos julgam impossível?

Mesmo assim, Mikael estava ligado a Lisbeth, e, acima de tudo, não havia como escapar da preocupação que tinha com ela. O ex-tutor de Lisbeth, Holger Palmgren, costumava dizer que ela sabia cuidar de si mesma. Apesar da infância terrível que tivera, ou talvez justamente por causa de tudo que havia lhe acontecido, Lisbeth tinha se transformado em uma sobrevivente. Impossível negar o quanto de verdade havia nisso. Praticamente não existiam garantias para uma garota com um passado como o dela e com uma habilidade ímpar de fazer inimigos.


Avaliação

Antes de tudo devo dizer que admiro a tentativa de David Lagercrantz em dar continuidade à obra de Larsson. Não é uma tarefa simples, nem fácil. Stieg Larsson morreu deu m infarto fulminante antes de ver o sucesso de sua obra, que vendeu mais de 80 milhões de exemplares. Os personagens são cativantes, o enredo é intrincado, surpreendente, tudo nas obras de Larsson é absolutamente fascinante. Assim, qualquer pessoa que se dispusesse a escrever uma continuação teria uma tarefa árdua pela frente.


A ideia geral do enredo é muito boa e digna de um Stieg Larsson. No entanto, é palpável a diferença entre um e outro. Lagercrantz não tem o mesmo domínio do enredo, tampouco dos diálogos - um dos grandes problemas do livro - que se tornam absolutamente cansativos ao longo das 488 páginas. É uma construção tão simplória de diálogos entre os personagens que dá um ar de completo amadorismo da parte do autor em escrever um romance deste porte.

Isso vai enchendo o saco conforme a gente avança na leitura. O enredo é complicado inicialmente, com nomes demais, muitas características psicológicas inúteis de personagens sem importância e o pior de tudo: uma Lisbeth Salander que, apesar de se aproximar da Lisbeth das obras de Larsson, está longe daquela Lisbeth que conhecemos. Assim como Jogos Vorazes se tornou tudo o que a trilogia critica, Lisbeth virou também um produto capitalista, tudo o que Lisbeth nunca quis.

Isso destruiu a tentativa e qualquer boa intenção da parte da família Larsson. Era melhor ter deixado tudo como estava. E o final ainda deixa óbvio que terá uma continuação, pois nem tudo foi resolvido. Sério, parem.

Duas corujas. E só.

Título original: The Girl in the Spider's Web
Ano: 2015
Páginas: 488
Editora: Companhia das Letras

Este não é um livro fácil de ler. Ruth Ozeki nos leva ao limite das sensações ao irmos e voltarmos no tempo, vendo diversos personagens pelos olhos das protagonistas. Mulheres fortes, com dificuldades na vida, mudanças intensas e cultura japonesa que não tolera fraquezas. O livro de Ozeki é intenso, melhor palavra para descrevê-lo.


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Sinopse:
O que acontece quando um diário perdida encontra o leitor certo? Numa remota ilha do Canadá, a escritora Ruth cata mariscos com o marido na praia quando se depara com um saco plástico coberto de cracas que envolve uma lancheira da Hello Kitty. Dentro, encontra um livro de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, e se surpreende ao descobrir que o miolo, na verdade, é o diário de uma menina japonesa, Nao. A sacola misteriosa, segundo os rumores dos habitantes, é mais um dos destroços do último tsunami que devastou o Japão e foi levado pelas correntezas até a ilha.

Desde então, Ruth é tragada pela história do diário de Nao, uma menina que, para escapar de uma realidade de sofrimento – de bullying dos colegas e de um pai desempregado e suicida –, resolve passar seus últimos dias lendo as cartas do bisavô, um falecido piloto camicase da Segunda Guerra Mundial, e contando sobre a vida da avó, uma monja budista de 104 anos.


O livro


Uma escritora que mora em uma ilha isolada e hostil no Canadá, com o marido encontra uma lancheira de Hello Kitty na praia. Embrulhado em vários sacos plásticos, ela encontra um relógio muito antigo, algumas cartas e um diário. Será que a lancheira navegou por correntes marítimas depois do tsunami e foi parar do outro lado do Pacífico?

Ao mesmo tempo conhecemos a dona do diário, Naoko Yusutani, nossa segunda narradora. E Nao logo explica: ela quer morrer e vê na morte a única saída para sua vida de tortura, bullying e solidão. Ou seja, o leitor já toma um tapa e precisa seguir adiante para tentar entender em que ponto a história das duas se encontra.

Nao é divertida, meio obscena, gosta muito de falar sobre sua bisavó, uma monja budista de 104 anos e que é feminista. Ruth começa a ler o diário de Nao, angustiada por tudo o que a menina viveu e por não saber se ela ainda estava viva. Ao que parece, Nao e a família viviam no caminho do tsunami.

Nao, a mãe e o pai moravam nos Estados Unidos, mas desde que o pai perdeu o emprego, eles precisaram voltar para o Japão, um país que Nao mal conhece e com o qual não tem a menor familiaridade. Por isso, seus colegas são extremamente abusivos com a jovem. Todo o tipo de bullying pervertido acontece com ela na escola, enquanto enfrenta a situação dentro de casa: o pai, desempregado, que faz origami com páginas de livros que já leu e a mãe que se mata de trabalhar numa editora pequena, o único sustento da casa.

O pai de Nao se envergonha profundamente da situação da família e de não poder sustentá-la. Por isso, tenta se matar várias vezes e quando não consegue inventa uma desculpa: caiu nos trilhos do metrô, exagerou na dose de remédio. Nao está estrangulada numa vida sem sentido de tal forma que chega a largar a escola. Mas é a convivência com sua bisavó, Jiko, que a tira da inércia, que lhe dá um sopro de vida.

Do outro lado do Pacífico, Ruth é uma escritora que não consegue escrever e vê no diário uma forma de buscar inspiração e de conhecer outra pessoa. Ruth sofre junto do leitor as agruras que Nao e sua família precisam passar. Enquanto isso, ela mesma se vê em uma vida que parece monótona, insípida, em uma ilha isolada na costa do Canadá. Ela e o marido desvendam os mistérios do diário e das cartas escritas em francês.

Nada como saber que não há mais muito tempo de sobra para te fazer dar mais valor aos pequenos momentos da sua vida.

Página 363


Avaliação


Título original: A Tale for the Time Being
Ano: 2014
Páginas: 462
Editora: Casa da Palavra

O livro estava pronto quando aconteceu o terremoto seguido de tsunami que devastou o Japão. Ruth Ozeki então o reescreveu para encaixar a tragédia no enredo por achar aquela uma realidade brutal demais para ser ignorada no contexto. A escritora do livro é a própria autora, tentando se encontrar com sua personagem no tempo e no espaço.

Ruth Ozeki

Demorei bastante tempo para digerir esse livro, pois ele tem um conteúdo muito denso, uma história pesada - pois Nao sobre muito bullying e se envolve até com prostituição - e tem passagens sobre mecânica quântica que tentam explicar o que Nao chama de ser-tempo. Nas palavras de Nao, o ser-tempo é “alguém que existe no tempo, isso quer dizer, você, e eu, e todos nós que estamos aqui, ou já estivemos, ou que um dia estarão”.

A vida e história das três mulheres é muito bonita e difícil de acompanhar, pois todas têm suas próprias tragédias. Mas as três estão tão ligadas no tempo e no espaço, que não é possível mais separá-las. É aí que entra a mecânica quântica, porém a forma como foi explicada no final do livro se arrasta demais. Era algo que não precisava de tanta explicação, senti como se a autora não quisesse deixar a história ir embora e a esticou ao máximo.

Mesmo com esse final um tanto alongado, recomendo a leitura. Alerto que as passagens de Nao sofrendo bullying são bastante pesadas e você vai sofrer demais com a personagem. Quatro corujas.


Estava bem a fim de ler esse livro e devorei assim que adquiri o ebook. É o livro de estreia de Yangsze Choo, descendente de malaios e formarda em Harvard. Inspirou-se na própria terra para escrever o livro que é bom, mas poderia ser bem melhor.


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Sinopse:
Certa noite, meu pai me perguntou se eu gostaria de me tornar uma noiva fantasma...

1893. Li Lan é uma jovem que recebeu educação e cultura, mas que vive sem grandes perspectivas depois da falência de seus pais. Até surgir uma proposta capaz de mudar sua vida para sempre: casar-se com o herdeiro de uma família rica e poderosa. Há apenas um detalhe: seu noivo está morto.

A Noiva Fantasma é o surpreendente romance de estreia de Yangsze Choo, a escritora de ascendência oriental que está encantando fãs por todo o mundo.


O livro

Li Lan já está ficando velha (para os moldes da época) e precisa se casar. Seu pai, atacado por varíola e com o rosto desfigurado, está falido e apesar de viverem em uma grande casa, não estão nadando no luxo. O pai fuma ópio como forma de escapar dos problemas, enquanto Li Lan vive sem muitas perspectivas. Um bom casamento pode salvar a família.

Eis então que surge uma proposta. Uma família amiga do pai de Li Lan oferece um casamento muito promissor, mas tem um problema: o noivo já morreu. Mas ainda assim, ela teria todos os direitos de uma esposa comum. Lim Tian Ching morreu e para apaziguar seu espírito, a proposta surgiu, já que Li Lan estava solteira e poderia assim salvar a casa.

Sua ama acha o negócio de extremo mau agouro. Ainda assim, quando Li Lan é convidada para ir à casa da família de Lim Tian Ching para uma tarde de mahjong, ela a estimula e a repreende para ser recatada, ficar arrumada, não amassar a roupa. Li Lan é, praticamente, interrogada pela matriarca da família, mãe de Lim, mas depois seu coração é arrebatado por Tian Bai, primo de Lim.

Sabe amor à primeira vista? Então, é o que acontece aqui. O livro desaponta nesse sentido, pois a protagonista só pensa em Tian Bai o tempo todo e ao exagerar numa dose de um remédio para dormir quase morre. E é aí que ela vira uma "noiva fantasma". Ela vê seu corpo estirado na cama e começa a andar pelo mundo sobrenatural, vendo demônios e outros seres que perambulam pela cidade espiritual.

O livro acontece na província de Malaca, um dos menores estados da Malásia, Patrimônio Mundial da UNESCO. Foi colonizada pelos portugueses e depois entregue aos britânicos, mas tinha muita influência chinesa e costumes vindos da China. Não conseguimos ver bem os detalhes destas culturas, tirando a chinesa, bastante influente. A forma como Choo construiu o mundo espiritual e explica sobre as oferendas queimadas aos mortos é muito interessante, bem como a ligação com os vivos e a situação dos espíritos "do outro lado".


Avaliação

Título original: The Ghost Bride
Ano: 2015
Páginas: 360
Editora: DarkSide

Apesar de ter gostado da ambientação, de sair do eixo Estados Unidos-Europa, o livro peca pela falta de profundidade dos personagens. O pai de Li Lan, por exemplo, é quase um borrão, descrito como um viciado em ópio. Li Lan é uma personagem muito interessante, mas que peca por pensar quase que integralmente em Tian Bai e depois em outra pessoa que surge em seu caminho, este um ser que só temos noção do que é bem no final. Temos um triângulo amoroso, um tanto diferente do que costumamos ver, mas ainda assim um triângulo amoroso e bem batido.

Yangsze Choo

O final também me decepcionou. Senti que a autora deu mais voltas do que o necessário para chegar ao final que foi fraco, pois algumas coisas se resolvem e não outras. Esperava um grande embate entre forças do mal e do bem, ou algo assim e não foi o que aconteceu. Foi um final morno e pouco digno do cenário grandioso que vimos. Um dos personagens do triângulo amoroso mal tem sua vida explicada quando comparamos com os outros.

Uma crítica ao ebook da DarkSide: foi desnecessário colocar no início de cada capítulo um imenso tsuru com o nome do livro e da autora. Sério, eu sabia o que estava lendo. E uma crítica à capa, aquela menina não tem cara de ser da Malásia. Tirando os problemas, é uma obra bem mediana. Tem grandes passagens culturais e é uma boa visão de outra cultura, o que enriquece e muito a leitura. Três corujas.

Admito que sempre tive curiosidade pela leitura de "Riacho Doce". Na verdade foi influência da minissérie da qual nunca assisti e só me recordo pelos comerciais da época, mas apesar do interesse acabei deixando de lado. Mas meu interesse ressurgiu quando percebi que estive lendo pouquíssima literatura nacional em 2015, de modo não pensei duas vezes antes de ceder a curiosidade. Foi assim que tive meu primeiro contato com a obra de José Lins do Rego:

O livro



Sinopse: Riacho Doce, uma pacata vila de pescadores em Maceió. Cenário de mistérios, traições e de uma grande paixão. Um casal de suecos chega a Alagoas, e a loura Edna se extasia com a força tropical do país que ela descobre. Apaixona-se por um mestiço nordestino, Nô, uma das figuras mais empolgantes de toda a rica ficção do autor. O envolvimento de Edna e Nô é o núcleo desse romance em que a força do Nordeste rústico é mostrada através dos sabores, das formas e das cores. Em Riacho Doce, José Lins do Rego nos dá, a sua visão dos desequilíbrios sociais e dos dramas humanos individuais e coletivos, provocados pela extração do petróleo em Alagoas.  

Utilizando o recurso do narrador onisciente e dividido em três partes, (Ester, Riacho Doce e Nô) o livro começa abordando Edna, diante das lembranças do dia em que partiu da Suécia relembrando sua vida e sua infância e adolescência no local, em especial os momentos em que sua fragilidade emocional começa a ser visível para o leitor. Fragilidade essa que já naquela época a levou a extremos, como uma tentativa de suicídio e que será uma constante durante sua vida. 

No decorrer da trama, vemos Edna, já casada com o engenheiro Carlos optarem por uma grande guinada na vida, quando o marido engenheiro, foi convidado para trabalhar com a exploração de petróleo no Brasil. Uma vez em Riacho Doce, ela se envolve imediatamente com a vida local, com longas caminhadas e banhos de mar. E então ela conhece Nô, e iniciam um romance proibido, que desperta a ira de Aninha, avó de Nô, que vê na galega o desvio do neto daquele que deveria ser o seu destino.  


Avaliação


Sendo esta a minha primeira experiência com a obra de José Lins do Rego, não sei se esse tipo de narrativa é uma constante em seus trabalhos, mas devo dizer que gostei muito do que encontrei. Achei a escrita em si e a ambientação algo muito bem trabalhada, de um jeito que visualizei Riacho Doce de uma maneira mais bela que o mostrado na minissérie. O contraste da gelada Suécia com a explosão tropical brasileira foi incrível e eu quase pude sentí-la na pele. Cada palavra colocada de uma forma suave e delicada, quase mágica.

Os personagens vieram nessa mesma toada, muito bem construídos e com uma narrativa que permite ao leitor estar completamente imerso na mente deles, entendendo a lógica de cada pensamento e gesto. Mas no meu caso houve um efeito colateral: não consegui sentir empatia por ninguém. De uma maneira ou de outra, todos os personagens chegaram ao ponto de me causar aversão e até exaustão durante a leitura, em especial o casal protagonista. A narrativa de Edna/Eduarda, me exauriu tanto pela fragilidade de sua psique quanto por sua inconstância - o que me deixou curiosa a respeito de qual seria o diagnóstico atual de um especialista em saúde mental a respeito da personagem. Já as mençãos a Nô me deixavam exausta por sua prepotência inicial e, posteriormente, por sua fraqueza.

O meu sentimento de exaustão pode ser atribuído não somente a uma densidade na construção de personagens, mas também pelo modo como o livro foi escrito. Tanto Edna quanto Nô parecem ter problemas com obsessões: seus pensamentos e sentimentos são repetidos, passados e repassados ao limite, o que reforçava o caráter sofrido da leitura e também me dava ganas de meter a mão tanto em ambos, uma vez que seus piores defeitos vinham a tona facilmente, assim como os erros de julgamento. Para leitores impacientes o efeito pode ser tedioso, mas essa forma de escrever ressaltou o modo como os pensamentos e reflexões dos personagens se desenvolveram e culminaram em atos tão extremos.

"Riacho Doce" não é uma obra de leitura rápida. Ela é densa, requer paciência e, a primeira vista ,carece da ação que muitos leitores estão acostumados uma vez que muitos julgam o livro como 'arrastado'. Mas, pelo contrário: uma vez que você se acostuma, acabará descobrindo que não falta ação, beleza e magia.

Quatro corujinhas.


O livro me chamou atenção por causa da sinopse, por ser baseado em uma história real e por ter um bom comentário de Gillian Flynn, autora de Garota Exemplar, assim achei que valia à pena ler. Infelizmente, esse é o segundo livro recomendado por Gillian Flynn que leio que é bem ruim. Melhor parar de seguir as recomendações dela.

A Febre


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Sinopse:
Na Escola Secundária de Dryden, Deenie, Lise e Gabby formam um trio inseparável. Filha do professor de química e irmã de um popular jogador de hóquei da escola, Deenie irradia a vulnerabilidade de uma típica adolescente de 16 anos. Quando Lise sofre uma inexplicável e violenta convulsão no meio de uma aula, ninguém sabe como reagir. Os boatos começam a se espalhar na mesma velocidade que outras meninas passam a ter desmaios, convulsões e tiques nervosos, deixando os médicos intrigados e os pais apavorados.

Os ataques seriam efeito colateral de uma vacina contra HPV? Envoltos em teorias e especulações, o pânico rapidamente se alastra pela escola e pela cidade, ameaçando a frágil sensação de segurança daquelas pessoas, que não conseguem compreender a causa da doença terrível e misteriosa.


O livro


Dryden, Deenie, Lise e Gabby são inseparáveis, mas enganam bem à primeira vista. Elas não são essas amigas incríveis que se super apoiam o tempo todo. Ao longo da leitura vemos que há invejas, intriguinhas, fofocas, todo o tipo de comentários egoístas e ridículos entre elas. Deenie é filha do professor de Química da escola, o irmão é um jogador bonitão e popular de hóquei. Ela tem todas as neuras e mais algumas que uma adolescente de 16 anos teria.

Porém, Lise sofre uma convulsão inexplicável no meio de uma aula, deixando todos na escola muitos nervosos. A pequena cidade fica à flor da pele. Todos com medo pela menina, já que os médicos não conseguem determinar o que levou à convulsão. A comunidade fica com mais medo ainda pelos outros estudantes quando uma segunda estudante sofre um ataque semelhante e vai para o hospital. A situação fica ainda pior quando a mãe de Lise começa a questionar o departamento de saúde que aplicou vacinas de HPV em todas as meninas da escola.

O foco do livro é na família de Deenie, mas ela é a protagonista em boa parte do tempo. Ela tenta entender o que está acontecendo com as amigas, tentando assim adivinhar o que pode vir acontecer com ela. Será que ela é a próxima, será que ela estará num leito de hospital assim como a amiga Lise, que parece muito pior do que as outras colegas?


Avaliação


Título original: The Fever
Autora: Megan Abbott
Editora: Intrínseca
Páginas: 272

O livro engana bem, pois começamos devorando a narrativa, porém você alcança metade e nada é revelado, já tá chegando perto do final e nada também, até que a autora finaliza a história e você tem a impressão de ter sido enganada. A explicação dada para as convulsões e ataques é esdrúxula, completamente furada, sem sentido e no fim você imagina que todo aquele auê foi para nada.

A visão que temos das adolescentes é bem negativa. É quase como se nenhuma delas ali tivesse alguma virtude ou realmente fosse amiga uma da outra. Senti uma clima de competição que é bem danoso, onde existem fofoquinhas pelas costas umas das outras. Elas passam a impressão de serem bastante unidas, mas na real mesmo estão todas separadas por tantos aspectos negativos.

Durante a leitura temos uma série de eventos sendo colocados e o foco da história, que são os ataques, meio que fica de lado. E até o título, A Febre, não faz sentido depois de ler a história, especialmente com aquele final. No mais, o livro merece duas corujinhas, porque até começa bem, mas como não entrega o que promete, ele se perde já da metade em diante. Não recomendo essa leitura.

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